Paulo Sousa 04/01/2024
Leituras de 2024
.
Brancura [2023]
Orig. Kvitleik
Jon Fosse (?? 1959-)
Fósforo, 2023, 64p.
Trad. Leonardo Pinto Silva
_____________________________
?(?) é um pouco como se eu não fosse eu mesmo, mas como se agora fizesse parte da criatura luminosa, que de algum modo não está mais brilhando em sua brancura, mas como se já não fosse mais uma criatura , mas apenas estivesse lá, sim, como apenas uma presença, e palavras como luminosa, como brancura, como brilhante, deixassem de fazer sentido, sim, é como se tudo já não fizesse sentido, e como se o sentido, sim, o sentido já não existisse, porque tudo apenas é, tudo é sentido? (pág 42).
.
Tive de conferir alguma cousa do ganhador do Nobel de literatura de 2023, o norueguês Jon Fosse. Entre os dois livros aqui publicados, escolhi o de menor quantidade de páginas, este ?Brancura?.
.
Bom.
.
Findada a leitura, não sei ao certo o que achar do livro. É uma história bem comum, essa de sair de nenhum lugar para se chegar a lugar algum. O leitor vai se embrenhando junto com o narrador inominado, sua agonia crescente ao se embrenhar, sem motivo algum, por uma floresta congelada. O suspense aumenta quando o carro enguiça preso na neve, ele desembarca e segue a pé por um emaranhado de galhos envoltos de água congelada e pedras úmidas e começa a ?ver? algumas aparições que julga ser pessoas.
.
O livro consegue incentivar a seguir o périplo canhestro do narrador com frases curtas, diretas e sem qualquer ponto de interrogação, e que se esmera a descrever seu medo crescente de morrer congelado e perdido na floresta a essa altura envolta na escuridão. Logo, percebe não estar inteiramente só, pois visualiza uma criatura humanoide envolta numa aura branca e brilhante que some e aparece com constância. A partir daí as páginas ganham pitadas de delírio, como se Fosse quisesse ou tencionasse descrever um homem em seu estágio espiritual, uma espécie de desencarnação em progresso. Enfim?
.
Como disse no introito destas impressões, não sei exatamente o que pensar desta leitura. Ela me fez lembrar de um outro livrinho, lido já há alguns anos, ?No mar?, do escritor holandês Toine Heijmans, relato de um náufrago com a mesma pegada deste curto livro do Fosse, ou seja, um homem solitário em sua pequenez diante a natureza lindamente monstruosa. Igualmente saí daquelas páginas com alguma pulga atrás da orelha, achei exageradas as manifestações dos leitores à época, bem como, diante de ?Brancura?, achei um disparate que a mente por trás dessas páginas tenha logrado tamanha honraria, imbecilmente negada a colossos literários como Philip Roth e Thomas Bernhard.
.
Só acho. Paciência. Continuemos.