Reccanello 08/09/2021O que é "ser romano"?Antes de uma tentativa de responder "o que é ser romano?", o livro é uma prova de que essa é uma pergunta com resposta impossível, já que, em seu primeiro milênio (entendido pela autora desde a mítica Fundação em 753 a.C. até o Decreto de Caracala, em 212 d.C), Roma esteve sempre em constante e contínua mudança. Ainda assim, e contrastando a ideia de eterna mudança com a de eterno retorno, os dois marcos escolhidos pela autora são emblemáticos: em ambos, o governante concede a todos os habitantes (antes, da pequena vila; agora, do Império) a plena cidadania romana, garantindo-lhes não apenas os direitos da "romanidade", mas, também, seus deveres. Fruto de cinquenta anos de aprofundados estudos, o objetivo do livro não é nos contar como a história aconteceu, ou com quem, ou quando. Mais que isso, seu objetivo é nos proporcionar uma análise bastante profunda e acurada da própria sociedade romana, de suas políticas e de suas religiões, abordando desde os mitos de sua fundação (e, principalmente, o que eles representavam dos valores e das crenças dos romanos) até as profissões que exerciam, o seu estilo cotidiano de vida (onde e como moravam, o que comiam e vestiam, etc.), sem esquecer de sua vida política (depois das inúmeras guerras civis do Período Republicano passamos pelas idiossincrasias dos imperadores, todas analisadas a partir de fontes o mais próximas possíveis dos eventos), de sua engenharia e arte (que se expressava tanto na arquitetura monumental e nos epitáfios dos túmulos como em pinturas e literatura), e de tantos outros aspectos da sociedade, muitas vezes negligenciados por historiadores mais formais. Outro ponto de destaque é que, conquanto tenha sido dada preferência às fontes primárias, essas nunca deixaram de ser questionadas pela autora, que enfatizava e destacava o viés de se pertencer a uma classe muito exclusiva e a forma como isso afetava a visão de mundo da fonte. De qualquer forma, o livro é se dúvida uma obra de arte, ainda mais enriquecida pela grande quantidade de gravuras que apresenta, um livro para ser lido, relido e usado como guia para estudos ainda mais aprofundados.
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Por fim, a autora nos mostra que, mais de 500 anos depois de seu oficial desaparecimento, Roma ainda persiste! Sua política, sua arquitetura, a literatura que produziu, a geografia que desenhou, as descobertas e os avanços científicos que legou, tudo isso ainda vive em nossa cultura e está longe de ser eclipsado. Roma Victrix!