Aline164
10/02/2024Um amor atemporal (?)"Muitas vezes fiz amor para me obrigar a escrever.
Queria encontrar, na sensação de cansaço e desamparo
de depois, motivos para não esperar mais nada da vida.
Nutria a esperança de que, ao fim da espera mais
violenta de todas, a de um orgasmo, eu pudesse ter
certeza de que não havia orgasmo mais intenso que a
escrita de um livro. Talvez tenha sido o desejo de
desencadear o processo de escrita de um livro — o que
eu hesitava em fazer por conta de sua dimensão — que
me levou a convidar A. para tomar uma taça de vinho na
minha casa, depois de termos jantado num restaurante
onde ele permanecera, por timidez, praticamente o
tempo todo mudo. Ele tinha quase trinta anos a menos
que eu."
Eis que mais de vinte anos depois li esse outro livro da Annie Erneaux (o primeiro foi "Les amoires vides", leitura obrigatória - e enfadonha, na época - para uma disciplina de francês da faculdade). Leitura rápida, despretensiosa (ou eu é que esperava mais "profundidade") e bela, contando sobre impressões & sensações de seu relacionamento com um jovem com "quase trinta anos a menos que ela". O fim, pelo que entendi, não foi melodramático, cada um seguiu o fluxo de vida que tinha para seguir, embora o que foi vivenciado e sentido provavelmente jamais será esquecido por eles.