Manuela 22/04/2014Ao céu, estrelasNão cheguei a assistir à telenovela global, homônima, exibida entre 80 e 81. A verdade é que sequer era nascida ao tempo e tenho um tanto de preguiça com esses folhetins filmados. Apesar de e por isso, tenho convicção de que a mesma não me alcançaria. Não com o mesmo poder que me chegou Rachel de Queiroz.
Minha primeira leitura da autora não poderia ser melhor. A escrita me seduziu à primeira linha. Tenho uma apreciação inexplicável por estórias narradas em primeira pessoa - talvez uma sensação de proximidade, um que de que se conhece o personagem naquilo que é essência: o pensamento. E Maria Augusta, uma das três Marias, conseguiu me envolver na narrativa que não possui qualquer pretensão de ser mais do que é: as curvas explicitas das vidas de três amigas, todas Marias de nome, e que, ante à proximidade do termo, acabam ganhando a alcunha que intitula o livro. São também brilhantes estrelas de Orion.
Rachel de Queiroz é regionalista. Retrata, em seu livro, a sua própria terra, com sua própria seca. Diferentemente do folhetim, as Marias estudam em um internato próximo - e não em algo tão distante como a Suíça. No mais, cada uma dessas personagens, Maria José e Maria da Glória se unem à Guta, possuem uma trajetória própria, ainda que, ao mesmo tempo, momentos comuns. A ausência do calor de uma família estabelecida, a solidão, os anseios.
As meninas crescem. E com ela os desejos. As vidas, caminhos distintos. E é tão triste, ao mesmo tempo que tão bonito.
A amizade se estende durante todo o caminho, que percorrem trilhas distintas, como estrelas. Imutáveis? Sequer elas.