Stella F.. 09/05/2024
Comovente!
O Meu Pé de Laranja Lima
José Mauro de Vasconcelos - 1969 / 97 páginas - Melhoramentos
Zezé faz parte de uma família numerosa de irmãos e irmãs. É uma graça de criança, com um coração enorme, mas também com muita imaginação. Está sempre pregando peças nos outros, e por isso apanha do pai em demasia. É considerado espoleta e acham que tem o diabo no corpo. Muitas vezes sua irmã o protege, e ele é poupado de uma surra. Mas está sempre esfolado. Seu pai no momento está desempregado há oito meses e sua mãe lava roupa para fora. Estão devendo o aluguel da casa em que moram e precisam se mudar para outra, que fica do outro lado da estrada Rio-São Paulo. Zezé e Totoca, seu irmão, vão escondidos visitar a futura casa.
O menino adora conversar com o tio Edmundo que conta muitas histórias. E em uma dessas conversas, seu tio descobre que Zezé já sabe ler. Mas quem ensinou?
Zezé agora já sabe ler e frequenta a escola. É um ótimo aluno, e fica com pena da sua professora, que é feia, e não recebe flores, como todas as outras professoras. Zezé então decide que todo dia colocará uma flor no copo da sua professora, mas rouba a flor do jardim alheio. A professora o adora, o acha encantador, apesar das diabruras.
A família se muda para a casa nova. Chegando lá cada irmão escolhe uma árvore do jardim para si. Zezé fica cabisbaixo e triste porque só tem árvore feia para ele. Até que descobre o “Pé de Laranja Lima” que acredita que conversa com ele. Então feliz da vida, resolve que será amigo dele, e até o nomeia Minguinho, e às vezes, o chama de Xururuca. Tudo que acontece com ele de bom e ruim ele vem contar para o Pé de Laranja Lima. Mas também tem outros amigos imaginários, provenientes do faroeste, do cinema. Sempre acha que vai encontrá-los pelo caminho nas suas muitas aventuras.
Uma vez tenta dar uns brinquedos para o irmão menor, que adora, mas chegam ao local atrasados porque os parentes não querem deixá-los saírem sozinhos. É época de Natal e este em especial é muito sem graça, não ganham brinquedos, porque o pai está desempregado. Zezé deixa a meia na janela, apesar de Totoca dizer para não ter esperanças. Resolve então engraxar sapatos no dia seguinte ao Natal. Ganha uns trocados, principalmente de pessoas que o conhece. Ele então compra um maço lindo de cigarros para o pai, que fica emocionado. Conhece também Ariovaldo e distribui folhetos de músicas pelas ruas. As músicas têm letras muito avançadas para o entendimento de Zezé, mas ele canta e chega em casa cantando e leva uma surra. Sua irmã Glória adora música e ele sempre lembra de levar alguns folhetos para ela. São músicas antigas de cantores populares da época, músicas de amor.
Na casa nova, detesta ouvir o barulho do apito da fábrica porque o chefe da fábrica despediu o pai dele. Fica tudo bem por um tempo, mas ele resolve voltar à ativa com suas estripulias. Acha uma meia de mulher, a enche, amarra uma linha comprida, como se fosse pipa, e solta no meio da rua. Uma mulher ao passar fica apavorada pensando ser uma cobra. Ela está grávida de seis meses e ao berrar, todos já sabem quem aprontou de novo.
Entre os garotos é comum tentar pegar carona na traseira dos carros (morcegar), sem o motorista perceber. Uma vez tentou no carrão do Português, e foi flagrado, e levou uma bronca e uma surra deste. Zezé prometeu matá-lo. Passado um tempo, Zezé apanhou mais uma vez, e o Português ofereceu carona a ele porque estava mancando. Zezé ficou ressabiado, mas acabou entrando no carro, com a condição de deixá-lo perto da escola, não na porta, porque passaria vergonha com os amigos. Daí nasceu uma linda amizade! Começaram a andar para cima e para baixo juntos. Tem faltado aula para ficar andando com o Português. Descobriu que o Portuga também tinha uma árvore amiga. Minguinho, o pé de Laranja Lima, está com ciúmes do Português, porque Zezé só quer saber de brincar com o novo amigo. O Português fica admirado como Zezé entende dos problemas de adultos, de como sofre e como é esperto para a idade de 5 anos. Ele conta que mente sobre os 6 anos, para poder entrar na escola. E desabafa com o novo amigo dizendo que ninguém gosta dele, que é um problema para todos, que só querem se ver livres dele. Pede ao Portuga que seja seu pai, que o compre do próprio pai, porque ele não é mesmo querido em casa.
Mas um dia uma tragédia acontece. Ele ouve uns meninos na escola falando que o Mangaratiba, um trem famoso da época, que Zezé admirava e tentava correr para vê-lo passar, esmagou o carro do Portuga. Ele fica sem ação, fica arrasado. Sai da escola andando sem rumo, e já sabendo que o Portuga não iria mais voltar, apesar de as pessoas falarem que ele estava no hospital se recuperando. A partir daí ele adoece, tem muita febre, e fica de cama por muitos dias. Todos ficam preocupados, e se revezam nos cuidados, mas ele não fala porque está mudo, triste, e custa a se recuperar. Até os vizinhos vem visitá-lo e ele acredita que agora que está morrendo resolveram gostar dele. Ele queria morrer, para encontrar o Portuga, deixar os familiares em paz, já que não poderia ir para a terra natal do Portuga com ele.
Todos acreditam que ele esteja assim porque teve notícias por seu irmão Totoca, de que a prefeitura iria alargar a rua, a acabariam com o Pé de Laranja Lima. Tentam enganá-lo dizendo que isso custaria a acontecer. E até lá já teriam mudado de novo, porque finalmente seu pai havia encontrado emprego em uma fábrica, como gerente, em outro bairro.
Muito sofrimento para uma criança tão pequena, uma criança que aprende a se virar e acredito que sofria menos por ter tanta imaginação, vivendo aventuras que na realidade não podia.
Ao final vemos que Zezé está mais velho e o livro é uma declaração de amor ao Portuga. Lindo livro!"
Durante a leitura sabemos que vamos rir e sofrer bastante. É engraçado e triste ao mesmo tempo, e com muita miséria. Delicioso de ler!
A parte mais tocante é quando Zezé descobre que não tem mais o “passarinho” (um sentimento interno) e o joga fora, na verdade o passa para o irmão mais novo, porque agora descobriu que o passarinho não canta mais por dentro, porque agora ele pensa.
“Eu acho que sua irmã tem toda a razão. — Sempre todo mundo tem toda a razão. Eu é que não tenho nunca. — Não é verdade. Se você me olhasse bem, você acabava descobrindo. Eu levantei assustado e olhei a arvorezinha. Era estranho porque sempre eu conversava com tudo, mas pensava que era o meu passarinho de dentro que se encarregava de arranjar fala. — Mas você fala mesmo? — Não está me ouvindo? E deu uma risada baixinha. Quase saí aos berros pelo quintal. Mas a curiosidade me prendia ali. — Por onde você fala? — Árvore fala por todo canto. Pelas folhas, pelos galhos, pelas raízes. Quer ver?” (posição 319)