Rami 09/03/2024Poucos livros me fizeram chorarPoucos livros me fizeram chorar.
Parafraseando Pedrinho, o narrador de O Avesso da Pele eu início meu momento desabafo como professora e negra nesse país que atravessa tempos sombrios... Desde a sua colonização!
Eu comprei o ebook do livro em alguma promoção na época da pandemia, mas tentei lê-lo apenas ano passado. Não fui em frente, porque os baques da primeira página me fizeram ter a certeza que eu deveria ter o físico em mãos para tantas anotações e grifos que eu com certeza faria.
Há mais ou menos um mês eu o coloquei na minha mochila preta, a que levo para a escola onde trabalho e ele ficou lá por um mês. Indo e voltando. De Barueri a Osasco, de Osasco a Barueri. A ressaca literária me pegou de jeito e volta as aulas, tanto com os alunos e tanto na faculdade de Biblioteconomia que faço, eu deixei o livro continuando seu turismo de cidade em cidade.
Pouco mais de uma semana a Censura colocou esse livro nos holofortes e eu precisava tomar vergonha na cara e ler. Até que hoje, umas 18h eu resolvi pegar esse livro e ler um ou dois capítulos para o meu ser ávido por leitura voltar a aparecer.
E ele apareceu. Às 20:40h eu terminei esse livro aos prantos como há tempos não me pego chorando com a literatura.
Eu entendo o porquê da censura: porque esse país odeia quem expõe a falsa ilusão de um país miscigenado. Porque esse país odeia a exposição de que nossa estrutura é racista. Porque esse país odeia se ver confrontado com a realidade, porque isso leva qualquer um a perceber seu papel nessa estrutura que privilegia uns e massacra outros em detrimento da cor de suas peles. Porque esse país odeia também os professores, a educação que liberta, a educação que nos faz entender que devemos continuar combatendo todo esse sistema.
A Ramiles que releu os primeiros capítulos não é a mesma que finalizou o último capítulo. A única certeza que tenho (além das incertezas como comprovou Gregório de Matos) é que assim como Pedrinho, eu preciso continuar.
Tô cansada de continuar, seja como mulher, como negra, como professora... Mas preciso. Só continuar!
Obrigada, @jeferson.tenorio.9 . A gente vai continuar gritando "Não a Censura! Não e não e quantos nãos forem necessários"!