anicca 17/07/2021
O que é amor? Por que o sentimos? E como tem sido entendido?
O livro apresenta uma estrutura interessante: introduz um mito culturalmente diverso, desenvolve um argumento relativo ao amor baseado nele e, por fim, contextualiza as conclusões em uma simpática síntese. Com isso, ao longo de seus onze capítulos possibilita um entendimento mais aprofundado sobre este complexo tema que é o amor.
Tudo a respeito de "Por que amamos" é convidativo e diferente, em especial a abordagem do autor, que é maravilhosa em conteúdo e em didática, e os questionamentos levantados, portanto o recomendo sem medo.
Neste momento, comentarei uma das passagens que mais me interessou quanto ao raciocínio que guia o livro. A fim de transmitir sua mensagem, Noguera estabelece paralelos intrigantes e explora muitas dimensões interpretativas que renovam os mitos, como quando compara a história tupi da vitória-régia ao fluxo travado pelo amor em nosso organismo (fenômeno explicado pelo PhD em Psiquiatria e Psicologia Médica em https://youtu.be/q5pfKoSYquE).
Segundo ele, a confusão de Naiá, que percebe o reflexo da Lua nas águas dos rios e não o satélite natural em si, seguida por seu desesperado mergulho e consequente afogamento, ilustra bem o princípio de um relacionamento romântico: a "cegueira seletiva" com a qual sofrem os envolvidos, que sacraliza o parceiro e torna-o paradisíaco; a profundidade das águas enquanto emoções, que podem ser traiçoeiras, bem diversas do cálculo anterior ao mergulho; e a entrega e vulnerabilidade necessárias ao ato de imergir, que também podem ser entendidas como sacrifício pela pessoa amada ou uma jornada de autodescoberta. Por fim, a metamorfose de Naiá em vitória-régia representaria as variações que se consolidam no transcorrer do relacionamento, pois "um encontro amoroso é um convite para a mudança. O amor possui a capacidade de fazer com que o amante se transforme, cresça, torne-se mais potente."