Moony 06/09/2023
Um soco no estômago
Este livro foi uma grande descoberta. Vi a escritora Vanessa Amaral lendo e pensei: "Ah, deve ser ótimo. Vou ler também." O livro é realmente mais que ótimo. Mas não é nada digerível. Terminei com um nó na garganta, um ódio dentro de mim e com a certeza de que não fazer nada, é colaborar também.
A história do livro é bem real: surge no Rio de Janeiro, na orla, um miasma que vai provocando doenças e matando as pessoas. É bem interessante que o significado de miasma (sim, procurei porque não fazia ideia do que se tratava) é "exalação pútrida que emana de animais ou vinhetas em decomposição". Isso me fez pensar que a cidade já estava podre. E realmente está! O Rio de Janeiro é tomado pelas milícias e pelas facções; os últimos 6 governadores do Estado estão ou foram presos; os prefeitos também foram investigados, afastados ou presos. E as pessoas continuam acreditando em salvadores. Durante e pós-pandemia, a situação do RJ piorou. Quem conhecia o Centro do RJ e o vê agora, sente pena. Não que o Centro fosse ótimo. Mas ficou vazio e praticamente abandonado. Então, a "figura" do miasma faz total sentido. E isso, só relatei referente ao Rio de Janeiro que é onde a história se passa. Agora, de forma macro, falando do Brasil...
Bom, o ponto é que aparece esse miasma, essa nuvem tóxica e gigante que só aumenta e as autoridades se aproveitam da situação para dominar, literalmente, as pessoas. Passam a controlá-las de todas as formas; afastam as pessoas de suas casas, dos morros, aquelas residências mais afastadas da orla, e as colocam em lugares muito afastados dos centros. E quem vai para os morros são os ricos, bem protegidos e afastados. Enfim, tudo vai se movendo, vai andando, a repressão aumenta. Mas todos continuam batendo palmas. Milhares de pessoas morrem porque são incentivadas pelo governo de que aquela nuvem não é tóxica. Mas a cena mais marcante é quando destroem uma instituição de pesquisa: é desse ponto em diante que realmente tudo desanda e tudo piora, dando a clareza que nada vive ou sobrevive sem a Educação e a Ciência.
Conversando com o autor, o livro foi escrito no meio da pandemia. Tudo faz sentido, não?! E penso que, apesar do "exagero" que tem em toda história, não seria um cenário impossível de acontecer, até porque chegamos bem próximos. E agora estamos tentando reconstruir.
Todos deveriam ler este livro.