Dani Ferraz 09/03/2020
As flores não deixam o mal ir adiante
Como é interessante lermos alguns livros em diferentes fases da vida! Lembro de ter lido “O menino do dedo verde” quando era adolescente, me simpatizei pelo personagem Tistu (protagonista da história) mais pelo fato dele querer resolver tudo com flores, e com beleza, visto que neste período estamos sempre vivenciando conflitos internos e externos e alterações de pensamento e comportamento. Hoje, relendo Tistu – o menino que tem o dom especial de ter o dedo verde – consigo perceber as lições de humanidade, solidariedade e empatia do personagem com o mundo a sua volta, buscando sempre o caminho da paz na cinzenta cidade de Mirapólvora. Ao ser rejeitado na escola por “não ser como todo mundo”, o menino é devolvido aos seus pais que decidem lhe proporcionar um novo sistema de educação voltado para a prática, jardinagem com o Sr. Bigode, ordem e miséria com o Sr. Trovões, doença com o Dr. Milmales, além de lições de geografia, conflitos e guerras que tinham seus armamentos fornecidos pela fábrica de seu pai. O jardineiro Bigode descobre um dom especial em Tistu, ele é capaz de fazer florescer apenas com o toque do polegar, um dom dos céus, um talento oculto. O diálogo entre os dois personagens neste capítulo que além da descoberta explica esta qualidade maravilhosa do menino é bem interessante, pois o jardineiro diz que existem sementes de todos os tipos, em todas as partes, esperando serem carregadas com o vento e muitas vezes morrem sem nem mesmo terem desabrochado, mas que se um dedo verde a tocar, esteja onde estiver, nascerá linda flor. Ao trazermos esta reflexão para fora das páginas, vemos a influência positiva ou negativa que podemos exercer nas pessoas e nas situações. Aliás, reflexão é o que não falta neste pequeno livro clássico, dotado de uma sensibilidade sem igual. Comparado até ao Pequeno príncipe, ele apresenta a história de um menino que faz florescer em presídios, zoológicos e hospitais, faz com que pessoas adultas renunciem às ideias estabelecidas, enfim, traz críticas à política e à sociedade com inocência, leveza, fantasia e romantismo. Nos apaixonamos por Tistu – isto é inevitável e o mais provável - mas não nos apeguemos, pois assim como a adolescência, este personagem também encontra-se em transição.