Gabi 17/04/2022
*4,5
Terminar a leitura desse livro e escrever uma resenha sobre ele é uma tarefa praticamente impossível. Ele me deixou sem palavras, me fez querer calar um pouco e sentir as emoções que foram proporcionadas durante a leitura. Não é uma história com início, meio e fim, e na verdade nem mesmo tem um enredo tão fechado e completo. Mas acredito que não seja realmente esse o objetivo que levou Clarice a escrever essa obra. E isso parece ficar ainda mais claro no momento em que a narrativa começa com “—” e a continuação de uma frase que nem sabemos qual foi o seu início, e termina da mesma forma, com um “—” e a continuação da frase permanece perdida.
Temos G.H., nossa protagonista, que um dia decide adentrar no quarto de empregada para arrumá-lo, após a saída da antiga empregada que dormia ali. Crente de que ali iria encontrar bagunça, caixas e muito o que organizar, G.H. é surpreendida com o vazio, a escassez de móveis e de presença. Sente-se como entrando num ambiente não pertencente à sua casa. Mais surpreendida ainda é quando ela percebe que, de dentro do armário, surge uma barata.
Apesar do enredo banal, Clarice nos transporta para a mente dessa protagonista-narradora. A acompanhamos durante talvez poucas horas, mas G.H., nesse curto tempo, entra em contato com seu ser, com o para além do humano, para uma revelação, para a paixão, o nojo, a vida... Passamos a refletir com ela sobre tantas questões, seguindo quase um fluxo de consciência que, ao mesmo tempo, é tão poético mas nos lança no abismo. Ficamos perplexos, enojados, angustiados. Nós, leitores, e G.H., nossa protagonista.
É um livro para não compreender: ele é para sentir, para refletir, para questionar, para causar algo em nós. Não se trata de chegar no final com respostas e sim com mais perguntas.