A paixão segundo G.H.

A paixão segundo G.H. Clarice Lispector




Resenhas - A Paixão Segundo G.H.


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Wagner 31/07/2016

AVISO ÀS PEDRAS


(... ) enviei o meu anjo para aparelhar o caminho diante de mim e para avisar às pedras que eu ia chegar e que se adoçassem à minha incompreensão (...)

Lispector,Clarice. A paixão segundo GH. Rio de Janeiro: Rocco, 2009. Pp139
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May 01/08/2016

É fascinante como Clarice consegue expressar todos as dúvidas e ânsias que se tem a busca humana por ser e sentir a vida, de fato. Nesse livro em particular, dentre os livros que li dela, ela possui uma maior atenção pra falar de sua visão de Deus, ou da visão da personagem; uma das passagens mais belas do livro.
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Luísa Coquemala 04/08/2016

www.velhocriticismo.com
Aparentemente, GH é uma mulher comum. Bem de vida, mora em uma cobertura, aprecia as artes. A conhecemos em uma manhã carioca, pacata e quente. A empregada acabara de sair do emprego e GH resolve limpar o quarto onde ela ficava. A partir daí, GH tem uma experiência reveladora. Vamos com ela.

No início do livro, encontramos a personagem já alterada e transformada pela experiência. GH se deu conta de algo antes despercebido (quase inconscientemente evitado) e precisa relatar sua vivência. “Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ser o que eu nunca tive: apenas as duas pernas.”

Só depois do entendimento de que GH passou por uma revelação, logo nas primeiras páginas, a personagem vai relatar detalhadamente o ocorrido. A autora já avisa de cara: trata-se de um livro para pessoas de alma bem formada. A narração é intensa e visceral, caminha lenta e dolorosamente. Não é necessário entender tudo o que é dito por GH, mas antes sentir, deixar suas palavras penetrarem em nossa mente. “O mundo independia de mim – esta era a confiança a que eu tinha chegado: o mundo independia de mim, e não estou entendendo o que eu estou dizendo, nunca! nunca mais compreenderei o que eu disser.”

Pois bem. Como foi dito, GH queria fazer uma faxina em seu apartamento e começar pelo quarto da empregada. Mas, então, a surpresa: o quarto está limpo, impecável. Calor, paredes brancas, o sol entrando e desnudando o armário de portas empenadas, as brancas paredes caiadas e um rude desenho a carvão dos contornos de um casal e um cachorro. GH já está reflexiva, pensativa.

E, a seguir, a barata dentro do armário e o novo espanto. Assustada com a visão do inseto, GH o esmada entre as portas. Um líquido brando sai de dentro da barata. Depois, a reflexão.

Mas, afinal, o que é a barata? Qual a razão do nojo da barata? Por que a primeira reação é matar a barata? Não seria o asco da barata mais uma das tantas imposições sociais, regras sociais que nos impedem de chegar no núcleo, a ver a barata como ser em si? Até que ponto tais imposições impedem que nos conheçamos, que cheguemos ao nosso cerne e ao entendimento de nossa própria vida? Guimarães já avisava: viver é perigoso. Clarice acrescenta: “Viver não é coragem, saber que se vive é a coragem.”

Olhar a barata com outros olhos, como ser, é repensar a imposição acerca da barata e também de si mesmo. Combater o paradigma é ir de encontro à essência humana, é perder a terceira perna que dá sustentação à máscara de todos os dias. GH entendeu isso. Daí o ato de provar o branco, o ser da barata. Provar da barata seria se tornar o todo, já que a barata é o outro, o estranho, o desprezado. “Para construir uma alma possível – uma alma cuja cabeça não devore a própria cauda – a lei manda que só se fique com o que é disfarçadamente vivo e a lei manda que, quem comer do imundo, que o coma sem saber. Pois quem comer do imundo – também saberá que o imundo não é imundo. É isso?”

É preciso, assim, buscar a neutralidade da vida, vida em estado puro, um todo do qual os seres vivos participam igualitariamente, mesmo sob a forma de uma barata. Mas chegar ao neutro da vida exige coragem, desorganização e reconstrução, exige mais do que isso, exige um assassinato contra si mesmo, já que é necessário matar-se a si próprio para se chegar à reconstrução. Num primeiro momento, é necessário comer a matéria branca da barata agonizante, num supremo ato de integração, pois a eliminação do nojo é o ato final da plena neutralidade. Contudo, nova correção: comer a barata não é necessário. Tal ato implica o acréscimo, mas este não é necessário, “o acréscimo é mais fácil de amar”.

Através de sua experiência, GH entra em contato não apenas com a vida, com seu lado mais feio e renegado. O que descobre muda sua vida. E GH tem medo de esquecer. A essência da vida dói, mas esquecer a essência depois de entendê-la dói ainda mais. Acontece o transcender de um estado da consciência superficial para a absoluta percepção da vida, autêntica, sem o sal e o tempero (pois são estes que dão gosto aos alimentos, assim são nossos juízos que visualizam e configuram a vida desta ou daquela maneira). “Mas se souberem, assustam-se, nós que guardamos o grito em segredo inviolável. Se eu der o grito de alarme de estar viva, em mudez e dureza me arrastarão pois arrastam os que saem para fora do mundo possível, o ser excepcional é arrastado, o ser gritante.”

Ler A paixão segundo GH não é fácil. Na verdade, é um tanto quanto sufocante. Mas, no fim, vale a pena. Clarice tem o talento de nos transportar ao interior de GH, e o faz muito bem. Por fim, depois da última linha, um suspiro aliviado e de missão cumprida. GH nunca mais foi a mesma, e quem lê seu relato dificilmente o será.

A EDIÇÃO

Não encontrei problemas na edição da Rocco. Não encontrei erros de digitação e achei a capa muito interessante. Li em uma edição mais antiga, de 98, mas sei que a Rocco lançou outra em 2009 (com uma capa ainda mais bonita!). Apesar de o livro ter apenas 180 páginas, não se engane: há livros que são maiores do que parecem.
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Karoline 05/08/2016

Comentário
Um bom libro para quem está em desconstrução...
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Everton.Carvalho 19/08/2016

"Esse livro me atravessa"
"-Escuta. Eu estava habituada somente a transcender. Esperança para mim era adiamento. Eu nunca havia deixado minha alma livre, e me havia organizado depressa em pessoa porque é arriscado demais perder-se a forma. Mas vejo agora o que na verdade me acontecia: eu tinha tão pouca fé que havia inventado apenas o futuro, eu acreditava tão pouco no que existe que adiava a atualidade para uma promessa e para um futuro."

Até o momento da leitura de mais ou menos a centésima página de "A paixão segundo G.H", eu acreditava que o mais metafisico que Clarice poderia ter chegado havia sido em Água viva, que, para mim, é o mais próximo do incomunicável de dentro de suas obras - que até agora lí e foram - , pois trata justamente da transfiguração das palavras; e tão universais são os sentimentos que obtemos destas palavras, que temos a impressão de estar meditando e não lendo um livro. Contudo, quando procuramos um meio para expressar "o neutro", somos impedidos pelo incomunicável.
No entanto, fui surpreendido com a história de G.H, e, juro, sinto-me tão limitado a escrever sobre essa experiência, e acredito que até mesmo Clarice, como ser humano, limita-se a essa transcendência toda que suas obras trazem a seus leitores, pois a palavra é a limitação e, ao mesmo tempo, é a libertação e a transcendência. O desconhecido nos intriga, mas o desconhecido com nuances familiares nos desfibra. Há algo descomunal na forma em que Clarice narra suas histórias de poucos fatos: elas percorrem nossa existência, e nos arranca a humanidade. Nos arranca o que é essencial: o neutro. Mas, se formos capazes, conseguimos tirar das epifanias o que Clarice própria pode não ter tirado: o neutro, mesmo sendo a autora, o que muitos achariam bizarro, mas acontece, pois a obra sempre transgride o autor. Palavras dependem de contextos para funcionarem em suas mais magistrais semânticas. É a subjetividade a dona da verdade.
Esse neutro que procuramos é Deus, é a ilusão, é a beatitude, é a razão para darmos nossos passos. Queremos um miolo para nossa existência, queremos um pretexto para não estarmos presentes. O livro trata disso: viver sem estar presente. Perdemo-nos de nós mesmos e distanciamo-nos daquilo que deveria ser o tempo de nossas vidas: o agora, o já. É também sobre o velho clichê de que a vida encontra-se nos detalhes. O luxo é uma redundância e perder se também e caminho
Cada pessoa tira para si uma coisa diferente deste livro, porém em alguns momentos, alguma coisa foi tirada de mim pelo livro. No final, no entanto, algo foi me acrescentado. O livro nos da uma nova visão, no meu caso positiva, pois sinto que algo levou-me a relaxar para não perder o melhor da vida, um ensinamento de não criar expectativas e não cobrar nada dela. Talvez estar assistindo Six Feet Under sincronicamente com o livro, deu uma certa modelada na obra de Clarice, pois afinal, a morte também é o principal personagem em sua literatura. "A paixão segundo G.H" é ainda mais metafisica que "Água Viva"
Estou tão contaminado por Clarice Lispector que não consegui escrever esta minha anotação sobre o livro de uma forma objetiva e clara, mas acho que seria até impossível fazê-lo quando tratamos de uma autora tão singular e dona de uma obra tão íntima de meus pensamentos e de todos os que dedicam um tempo da vida para se descobrir lendo o que escreveu essa insubstituível escritora.
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Mayda Ribeiro 26/08/2016

A Paixão Segundo G.H.
Bom.
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Alexandre 09/10/2016

Sensações - A Paixão Segundo GH
Acabei esta leitura. Este é um livro para ser sentido, não apenas lido. Um livro para ser recitado para si mesmo, sem pressa, sem alarde de espécie alguma. Quanto menor a vaidade presunçosa, quanto menor a ostentação intelectual, maiores os benefícios que se pode extrair dele.

É o tipo de livro que solicita do leitor que preste atenção nas engrenagens sem tentar decifrar o funcionamento do motor, sem tentar buscar na leitura, de início, algum sentido. Mais ou menos como enveredar-se por uma trilha sinuosa e densa, retratada na arte de um artista ilustre, muito famoso, deixando-se perder na paisagem dramática sem prestar atenção nos riscos que esboçam a pintura. Olhar a sua arte comovido pela sua beleza paisagística composta por uma porção de vultos, de tendências, de sentimentos, de descobertas rabiscadas e polidas. Mas polidas sem pretensão de fechamento.

Esta leitura provocou em mim uma espécie de combustão abafada. Uma agonia íntima a qual eu fui obrigado a me submeter em razão da vontade de concluir, de compreender, de sentir a totalidade da vasta e devastadora armação criada por Clarice através do GH e das sua experiências.

Se o leitor for daqueles que, como eu, não se importa de se defrontar com as próprias fragilidades, não se amargura nesse contato mais íntimo consigo mesmo, com a própria natureza e a suas dualidades, e mais ainda, se o leitor não se importar de chegar ao final hesitando por não ter compreendido tudo, esta poderá ser uma das melhores obras da vida de quem se anestesia absorvido pela leitura.

Recomendo para os corajosos, ou melhor, para os audaciosos humildes.

Luz e Paz.

(Alexandre Guimaraes Reis)

site: http://www.facebook.com/alexgreis
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Angel 09/10/2016

heidegger curtiu isso.

levei um tiro aqui dentro de casa. rasgante. necessaríssimo.
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Lima Neto 29/01/2017

livro enigmático
de todos os livros que já li ao longo de minha vida, "A paixão segundo G.H." é, sem dúvida, o mais enigmático e posso dizer que "aquele que menos entendi".
o livro é uma grande metáfora, uma obra que precisa ser lida com muita paciência, palavra a palavra, pois quebra todos os padrões da "literatura convencional", o que faz com que muitos leitores (eu inclusive) não o entenda bulhufas numa primeira leitura, mesmo por que exige de nós certo desprendimento, certa compreensão e uma dose extra de paciência até conseguir se acostumar com a forma e entrar na história.
o roteiro e o andamento narrativo são dispersos, sendo a obra um verdadeiro monólogo, um grande fluxo de consciência em que o narrador expõe seus pensamentos e a si mesmo, o que torna a leitura extremamente rica e reflexiva.
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Shay 16/02/2017

Intenso
Pra mim ler clarice é sempre CAÓTICO e especial. A paixão segundo gh foi mais que um livro... foi uma experiência!
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SILVIA 12/03/2017

Fiquei um pouco decepcionada
Meus comentários estão no site.

site: http://reflexoesdesilviasouza.com/livro-a-paixao-segundo-g-h-de-clarice-lispector/
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Tiago 13/03/2017

#DesafioLivrosBr: A Paixão Segundo G.H, Clarice Lispector e um breve esboço sobre o Feminismo em sua obra.
Encontro duas formas de escrever sobre A Paixão Segundo G.H (Rocco, 2009. 180 páginas), o livro que escolhi para o mês de março do #DesafioLivrosBR.

A primeira é descrevendo o plano de fundo dentro da qual o fluxo de consciência se encaminha, destacando alguns elementos chave que aparecem até a ação final. Seria assim: G.H é uma mulher da alta classe brasileira (sua nacionalidade está explícita no texto), moradora de uma cobertura. É uma manhã e a empregada da casa foi embora. G.H, então, decide ir até o quarto da empregada, onde esperava encontrá-lo bagunçado, surpreendendo-se depois com a organização que ele apresenta, deixada pela empregada. É dentro do quarto que acontecem os mais intensos conflitos expressos através da narradora.

A segunda, e esta é um desafio, é uma tentativa de ensaiar sobre alguns elementos que fazem de A Paixão Segundo G.H a novela que é. G.H, segundo aponta Boris Fausto, em História Concisa da Literatura Brasileira, significa Gênero Humano. Muito não se sabe da narradora a não ser os aspectos explorados por ela, que são de cunho existenciais e que por isso causam no leitor o estranhamento e a identificação. Não é sem surpresa ou sem o acompanhar de um outro suspiro que passamos pela experiência da leitura da novela. A Paixão Segundo G.H é sobretudo um livro que nos proporciona uma experiência literária intensa. Na ordem da narrativa apresentada no livro, todos os aspectos das coisas ficam suspensos a um nível existencial, fenomenológico, do qual G.H vai adentrando, explorando, investigando. O que ela intenciona é seguir propriamente uma busca dentro deste nível existencial, onde a subjetividade parece entrar em crise e todas as coisas se enchem de inúmeros significados para a experiência da narradora. Esta busca não tem um caminho único, e segui-la pressupõe o seu contrário, uma perda:

"É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma ideia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver." (pág. 10)

Dentro desta busca ao nível existencial das coisas a subjetividade, intrínseca à identidade, também entra em crise. E a partir daí G.H busca constantemente negar e afirmar a própria identidade, desde os momentos que se compara à empregada, a si mesma e até ao leitor:
"Minha pergunta, se havia, não era: 'que sou', mas 'entre quais sou'". (pág. 27)
"O que queria essa mulher que sou? o que acontecia a um G.H. no couro da valise? Nada, nada, só que meus nervos estavam agora acordados - meus nervos que haviam sido tranquilos ou apenas arrumados? meu silêncio fora silêncio ou uma voz alta que é muda?" (pág. 43)

É ao decidir entrar no quarto da empregada que G.H então identifica, dentro daquela sua casa, um espaço tão a parte de todos os outros os quais ela se apropria enquanto habitante de sua cobertura: o quarto da empregada, que servia antes de depósito de objetos velhos é sua contraposição, tanto social quanto existencial, e é lá dentro também que a narradora encontra, saindo da porta do guarda-roupas, uma barata. Está na barata o seu maior conflito.

Durante toda a leitura não nos é distraída a consciência alterada das coisas, a subjetividade em crise, e assim como os móveis, a empregada, também a barata se mostra como o conflito que desperta em G.H seu maior desafio durante a narrativa: ela identifica na barata a existência de um ser muito mais anterior do que o próprio gênero humano, ou seja, anterior a ela mesma. Em certa altura, por nojo, numa tentativa de matar a barata, G.H fecha a porta do guarda roupa, que esmaga o inseto, deixando-o partido ao meio, porém sem matá-lo. E a partir daqui a crise existencial se intensifica. Todas as sensações experimentadas pela narradora são passadas pela prova exaustiva de investigação de seus motivos. O nojo, as lembranças, a insistência em manter-se no quarto e continuar a vivenciar aquela experiência. A barata é também um ser vivo, e a massa branca de seu ventre é seu material vivo como em nós o sangue é nosso material de vida. Embora em formas diferentes, são, G.H e a barata, seres vivos.

"- Segura a minha mão, porque sinto que estou indo. Estou de novo indo para a mais primária vida divina, estou indo para o inferno da vida crua. Não me deixes ver porque estou perto de ver o núcleo da vida - e, através da barata que mesmo agora revejo, através dessa amostra de calmo horror vivo, tenho medo de que nesse núcleo eu não saiba mais o que é esperança" (pág. 59)

O último clímax enfim é chegado no momento em que, por uma ousadia de experimentar o Isto da vida, G.H decide comer parte da massa branca da barata. É este o mais expressivo ato, desde sua decisão de levantar da mesa para ir ao quarto da empregada e desde permanecer no quarto e enfrentar seu nojo. Não há uma conclusão final, é o que finalmente se conclui. Mas o fluxo e refluxo constante da experiência de estar vivo é que alarga a vida sensível, e que existe independente de nossa existência individual. O auge da subjetividade em crise é a negação da compreensão, mesmo que a ela se abram todas as possibilidades de entendê-la, numa luta constante entre sentir e compreender. A Paixão Segundo G.H não é um livro que se desdobra poupando-se até o fim, mas um livro que desde o início já se entrega num clímax que permanece até o último parágrafo, que propositalmente não é encerrado com um ponto final.




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Breve consideração sobre o feminismo em Clarice Lispector:

Esta parte não se restringe apenas a A Paixão Segundo G.H, mas a toda a obra de Clarice. Um equívoco é comum ao se falar em feminismo em sua obra, quando seus contos e novelas são constituído sobretudo por mulheres donas de casa, cozinheiras e mães resignadas em suas ações: não é considerado o que, contextualizando sua época, faz de Clarice uma mulher escritora que alarga os significados de ser mulher. Foi ela uma das primeiras escritoras brasileiras a explorar o que seria a "essência feminina" e que aparece em vários de seus contos de diversas formas. Foi ela que, mesmo escrevendo sobre donas de casa, cozinheiras e mãe resignadas em suas ações, não tinham nada de resignadas em suas subjetividades. São através dos escritos de Clarice que é dada voz à subjetividade de, antes de tudo, uma escritora brasileira, e depois a personagens femininas que falam por toda uma essência humana, participando e a constituindo profundamente, quebrando assim barreiras essenciais que até então eram dominadas apenas por homens tanto na ficção quanto na realidade.

Podemos, em especial, identificar esses aspectos citados em Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, onde temos Lori, a protagonista que não cabe apenas em seus afazeres domésticos, e emerge de dentro de si mesma num urro potente e rico, que faz o livro ter toda a sua riqueza. A ironia despretensiosa se dá quando homens ou mulheres ao lerem Clarice, se identificam com suas personagens, por seus anseios tão humanos, tão reais e antes de tudo tão ricos.

Portanto não é à toa que a Clarice Mito mais uma vez aí se justifique diante de tantas mulheres que a admiram, usando-a, como tantas outras mulheres, para afirmar suas convicções feministas.


site: https://apalavradoslivros.blogspot.com.br/
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Michelle.Fernandes 07/04/2017

A todas as mulheres, eu dedico este livro.
Leitura básica na vida de qualquer mulher, falava sobre amor, paixão, insuficiência, se cobrar demais, neutralidade, autossuficiência.
Um verdadeiro ensinamento.
Leitura densa e que marquei como inteiramente essências mais de 30 páginas.
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