Natalie Lagedo 18/06/2017
Em 1920, o padre Sertillanges escreveu A Vida Intelectual, uma pequena obra-prima que propunha ser um destrinchamento dos Dezesseis Preceitos de São Tomás, mas que ganhou corpo prático para a preparação, o durante e o momento posterior ao estudo. O objetivo da obra é mostrar ao pretenso intelectual métodos eficazes para a aprendizagem e despertar a maior virtude: a estudiosidade, aliada da temperança. O ato de estudar não deve ser vão, disperso. Por isso, conhecer-nos, saber quais são nossos propósitos, é uma das melhores formas de adquirir essa qualidade.
O intelectual é um consagrado, possui uma vocação. Estudar é cooperar pelo Bem e tudo deve elevar para Deus, pois tudo Dele procede. A leitura desordenada é tara, como outra qualquer. Dessa forma, após definir o objeto, devemos cuidar do corpo, já que é a partir dele que é feita a passagem da ignorância para a ciência. O autor chama a atenção à observação, silêncio, absorção e repulsa a maus comportamentos, características básicas do estudioso.
A prudência exerce grande papel nessa tarefa, pois é escusado abrir mão da vida em sociedade para viver em teoria, correndo o risco de cair em mera abstração. O conhecimento deve ter aplicação na vida prática. A disciplina é a chave para o bom desempenho. O ideal é manter a concentração durante algumas horas e depois levar o resultado aos outros, sem ambição ou soberba. Levar conhecimento é levar Deus. Há quatro espécies de leitura: de fundo, de ocasião, de estímulo ou de edificação e de repouso. Cada uma tem uma exigência e um objetivo. Cabe a nós distingui-la e fazer uso da interligação de conteúdos. Seria o que hoje chamamos de interdisciplinariedade. Um conhecimento isolado é vazio.
O autor fala que é primordial filtrar os livros e nos livros. Apesar de, à primeira vista, parecerem coisas iguais, não são. Filtrar os livros significa diferenciar as fontes de formação das fontes de informação. Aquelas são a base de quem somos. Estas, os fatos que podem ser descartados e devem ser selecionados. Já filtrar nos livros é filtrar a leitura stricto sensu, requer experiência e orientação, o que nos leva ao problema de se tomar uma vida intelectual sem o devido norte. Para isto, o padre aconselha que estejamos reunidos sempre que possível com pessoas com objetivo em comum.
A Vida Intelectual vai além de observações para os estudos. São métodos completamente perenes e fundamentais para o desenvolvimento do humano enquanto ser dotado de inteligência.