Kelly Oliveira Barbosa 22/01/2019“Qualquer pessoa que tenha passado por esses acontecimentos terríveis sem entender que o homem produz o mal como a abelha produz o mel estava cega ou louca.”
Tenho que admitir que o título desse livro nunca me chamou atenção. Se não fosse as inúmeras resenhas tecendo curiosos elogios e me informando que Lost, minha serie favorita, foi inspirada no romance, provavelmente nunca leria. E seria uma pena, pois esse não é um livro qualquer, mas um daqueles livros que de fato nos proporciona uma experiência literária. E para mim que sou interessada no tema do mal humano ou o mal presente na natureza humana, é uma leitura indispensável.
Publicado a primeira vez em 1954, foi o livro de estreia do escritor inglês William Golding (1911-1993) que serviu na marinha britânica na Segunda Guerra Mundial. Escrevendo sobre essa experiência ele disse o seguinte: “Qualquer pessoa que tenha passado por esses acontecimentos terríveis sem entender que o homem produz o mal como a abelha produz o mel estava cega ou louca”. Ele também foi ganhador do Nobel de Literatura em 1983.
SÓ CRIANÇAS...
A ficção se desenvolve a partir de um acidente aéreo numa ilha desconhecida onde só as crianças sobrevivem. O que poderia acontecer se um grupo de crianças entre 6 e 15 anos ficasse alguns dias isoladas numa ilha sem supervisão de adultos? É o que descobrimos lendo esse angustiante e desconfortável romance.
Os personagens são muito bem construídos e a trama é instigante do começo ao fim. Ralph, Jack, Porquinho e Roger, são os que creio, ficaram eternizados para mim, com um destaque para Roger, que embora tenha um papel mais coadjuvante, faz o leitor atento aos mínimos detalhes de seu desenvolvimento, inquietar-se consigo mesmo.
Sem dúvida, esse é um livro capaz de gerar muitas reflexões não só sobre a natureza humana, mas sobre as estruturas da sociedade, religião etc. Convidativo à imersão, ao meu ver, não há como sair da leitura intocado em seu íntimo.
Não fosse o estilo de narrativa que particularmente não gosto, diria que é um livro perfeito; e não estranho quem afirme que sim. Me ocorreu o mesmo com “O Coração das Trevas” do Conrad, o foco em criar a “atmosfera” e dizer muito sem dizer nada, as esmeradas ambientações, descrições das paisagens… anoitecer e entardecer… são lindas e reconhecidamente geniais, porém não consegui apreciá-las, achei cansativas e prolixas. E acho curioso, porque elas são um recurso ao meu ver (o ver de uma leiga em teoria literária) do autor em passar para o leitor o psicológico do personagem, que é sempre o meu grande foco na leitura de ficção.
Me alongando um pouco mais na questão, um exemplo de autor que faz isso muito bem – envolve o leitor no psicológico do personagem -, isso é, que me agrada bastante, é Jonathan Franzen, que é um autor americano contemporâneo; e não descarto que tenha algo haver com isso, com a atual forma de escrever, já que Golding e Conrad são autores clássicos. Todavia, me recordo, que Robert Steverson em o clássico “O médico e o monstro”, também é primoroso nesse recurso, e o mesmo, não escapou de ser um dos meus livros favoritos. Então, provavelmente a preferencia é pelo estilo do autor mesmo.
Em suma, “O Senhor das Moscas”, amando ou não sua narrativa, é um livro para ser lido e relido muitas vezes. Sem dúvida uma das melhores obras produzidas na literatura mundial como várias listas elencam.
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