Kakau 29/01/2022
Aqui,temos dois livros em um,além de uma pequena antologia de contos e crônicas que reúne gigantes nomes da literatura brasileira,como Machado de Assis e Olavo Bilac.Impossível não amar.
A ambientação,os fatores diversos e um pouco da biografia do escritor,encontrados no prefácio,me ajudaram muito a desenvolver uma melhor compreensão do conteúdo do livro,graças ao Alfredo Bosi.Não conheci somente duas das obras de Lima Barreto,mas também os desdobramentos político-sociais no Brasil do século XIX,sobretudo no Rio De Janeiro.
No início,estava tendo uma minúscula dificuldade de me adaptar à escrita;nas páginas seguintes,me apaixonei.Ficamos a par dos métodos e tratamentos agressivos e desumanos com os quais os pacientes eram tratados,e Lima confidencia todos os seus anseios,suas aspirações e descrenças em relação ao que ele presencia lá dentro.
Encerrado na condição de alienado,Lima passa a observar,analiticamente,os seus semelhantes que ali se encontram,à margem das convenções sociais.Vemos,de perto,os comportamentos e manias acarretados pela loucura,por meio da vasta narrativa do autor;este aborda o tema analisando os fenótipos e as falácias de seus companheiros de quarto e de demais compartimentos.Constatei que,acima das incapacidades intelectuais e cognitivas,os pacientes de lá são humanos,sujeitos a erros e a desejos,assim como qualquer um de nós.
O Diário do Hospício é considerado um livro francamente autobiográfico-ressalva para alguns poucos desvios que fogem da definição desse gênero-,enquanto que o livro O Cemitério dos Vivos abrange para um tom mais ficcional,mas igualmente notável.Como aconselhou Alfredo Bosi na abertura da obra,cabe ao leitor a tarefa de desembaraçar o nó constituído de testemunho e ficção.Particularmenre,foi uma experiência prazerosa e singular desvendar todo esse nó complexo construído pelo nosso memorialista.O êxito não foi garantido,mas a tentativa valeu a pena.