Daniel Batista | @somdodan 18/09/2012
A História de Amor que Cativou Gerações Renovada Num Formato Perfeito Para a Atualidade
É, tem umas três horas que terminei de ler "Julieta" e até agora estava procurando um jeito de iniciar uma resenha para tal.
Não consegui.
Não consegui porque me fugiram todas as palavras do dicionário, não consegui porque a história é tão bonita e tão recheada de criatividade que roubou todos os meus verbetes, não consegui porque compor algo que faça jus com o romance que terminei de ler é terminantemente impossível e proibido.
Dito isto, queria falar um pouco sobre a autora e o que ela fez em seu primeiro volume. Anne Fortier pegou a história de tragédia mais famosa do mundo e a acrescentou elementos diversos, como casos secretos, intrigas, parentes distantes (e muito próximos), roubos, sequestros e maldições. Nessa releitura de Julieta o que não falta é velocidade. O ritmo do texto é bem alucinante e você se pega muitas vezes descansando os olhos por leitura em demasia. Nunca vi um livro que me fizesse ler no ônibus, no metrô, andando para a escola e no meio da aula. Nunca me senti tão hipnotizado quanto com essa história. Giulietta Tolomei e seu tão misterioso Romeo contracenam direitinho.
O enredo é amarrado e os mistérios vão sendo solucionados na mesma proporção em que mais complicações acometem os personagens principais (e até alguns secundários). Anne também mescla alternadamente em capítulos a versão de Romeu & Julieta de maestro Ambrogio (um texto de 1340 que supõe a real existência do casal) com uma refinada trama dos dias atuais em Sienna. Você fica querendo ler as duas histórias ao mesmo tempo, e nunca fica satisfeito por completo porque sempre que acontece algo de suma importância numa, a outra história toma o foco, deixando-o desnorteado para dizer o mínimo.
Meus 'contras' com esse livro são poucos; primeiro, a tipologia. Como estou resenhando um LIVRO e não um TEXTO, há de haver algum comentário sobre isso. É curioso como o livro é de 2010 mas cheira a velho, tem um cheiro de ácaro bizarro. Sei que meu exemplar foi emprestado (por uma menina muitíssimo fofa, por sinal), mas não creio que o fedor, o cheiro de velharia do livro, venha da casa dela. O segundo contra foi o desenvolvimento das surpresas. Assim, na boa, adorei descobrir quem era Romeo de verdade (tinha esse palpite no fundo do coração o tempo todo), mas Romeo Marescotti ser três pessoas da narrativa já é uma coisa complicada. Primeiro, um morto. Depois, alguém muito próximo. E o terceiro, uma total viagem na maionese. Outra coisa que pecou um pouco foi as viagens na maionese. Quando Anne veio com o papo da Maldição, para mim foi tudo bem. Aguentei até os brutais assassinatos e penei por algumas injustiças que, querendo ou não, levariam a trama para onde ela ficou, e até as partes do exorcismo e do ritual religioso ficaram boas. Mas quando a igreja entrou muito no clima da história eu senti uma inquietação, algo como "a igreja definitivamente não deveria interferir numa coisa que o próprio Deus criou", sabe? Há alguns absurdos religiosos que rolam no livro e a visão dos personagens da Idade Média (o Romeo e Julieta de 1340) é algo completamente diferente do que a gente está acostumado. Pensando bem, se formos analisar que a época era outra, e a igreja crescia e crescia, especialmente com a peste, foi crucial para o livro dar fidelidade espiritual para a história. Mas precisava de exorcismo antes de um casamento?
Tirando esses defeitos, que aqui e ali davam uma pequena queda no livro, o resultado final é um romance circunspecto: cheio, intenso e consistente. Muitas tramas boas, muita ação, muitas descobertas MUITO CHOCANTES (isso foi para dar ênfase no 'chocantes', porque realmente não dá para acreditar em alguns acontecimentos) e, acima de tudo, muito amor. Afinal, é Romeu e Julieta, o que a gente espera?
Uma história de amor que cativou gerações e gerações, renovada num formato perfeito para os jovens de hoje. Com toda a certeza é um "must-read" para qualquer um!