regi @bookiane 08/04/2011
"Ninguém é bom demais"
Wicked (Maligna, na versão em português), de Gregory Maguire.
Um livro pra quem ama ou odeia "O Mágico de Oz". Antes de qualquer coisa, é preciso dizer: é outra obra, é outro autor, é outra perspectiva. É o "direito de resposta" da bruxa verde malvada do oeste, Elphaba.
É impossível olhar o original de L. Frank Baum com os mesmos olhos, porque lá nós somente somos capazes de olhar a bruxa com maus olhos, perguntando "mas porque ela quer fazer mal à pobre garotinha, gente?". Não sabemos de onde ela vem, quais suas intenções, nada de sua vida. Ela é colocada como má e pronto, nós engolimos isso, e se o Mágico tem questões inacabadas com ela, ela realmente é um problema.
Eu nunca achei exatamente que O Mágico de Oz fosse uma obra unicamente infantil, mas Maligna é muito mais profundo e mais adulto. Tem dramas, tem passagens cômicas, de tudo um pouco. Maguire faz críticas à sociedade de uma forma no mínimo divertida. Mas o mais marcante mesmo é a discussão sobre o bem e o mal - o que eles são, no que se difereciam. Uma passagem do livro para ilustrar: "é com pessoas que afirmam que são boas, ou pelo menos melhor do que o resto de nós, que você tem que ser cauteloso."
Nós aprendemos a gostar da Elphie conhecendo sua vida, as dificuldades que passou, as loucuras da família (a mãe, uma mulher linda e, digamos, carente; e o pai, um pastor fanático; sem falar da irmã Nessarose, mais tarde conhecida como a bruxa malvada do leste, assassinada pela casa de Dorothy) e dos amigos (Glinda, a bruxa boa do sul e suas amigas "patricinhas" na Universidade de Shiz, os rapazes que andam com elas, especialmente Fiyero, personagem determinante para a segunda metade do livro), o quanto ela sempre se esforçou, o quanto ela defendia seus ideais, e como tudo isso foi afetando sua personalidade. Ela nem imaginava que seria bruxa, nunca assistiu às aulas de feitiços na universidade, estava mais ocupada com sua juventude subversiva.
Ver a terra de Oz por uma ótica política é uma experiência diferente, algo que nunca nos passou pela cabeça. A diferença social entre os munchkins, winkies e quadlings, a briga entre as classes, entre os homens e os Animais - e também os animais, assim, com letra minúscula -, a ditadura de Oz.
A contracapa da versão original em inglês traz algumas pequenas críticas do livro, e a primeira que li, e ao terminar concordei totalmente foi a seguinte: "Guarde um lugar na estante entre Alice e O Hobbit - esse lugar é bem merecido".
Acontece que o livro merece mesmo esse lugar.