Euflauzino 11/06/2014Os laços invisíveis do amor fraternalQuando a editora trata um escritor com carinho e capricho é difícil não se encantar. E foi assim que aconteceu com a “Trilogia da Névoa” de Carlos Ruiz Zafón. Tratamento impecável, capas belíssimas. É claro que o autor já havia dado sua contribuição para as vendas com “A sombra do vento”, mas ainda assim o trabalho merece respeito, porque é impecável.
O Palácio da Meia-noite (Suma de Letras, 271 páginas) é o segundo livro da trilogia (ainda não consegui fazer a ligação, mas lerei o terceiro livro pra ver se há alguma) e é sem dúvida infanto-juvenil. Não que eu goste de classificações, mas dá pra ver pelo desenvolvimento algumas vezes inverossímil, sem grande preocupação com a coerência. O autor não quis se aprofundar muito, é uma história para se contar em volta da fogueira (adoraria discutir isso com quem já leu).
O tenente Peake é perseguido ferozmente por Calcutá. Ele guarda um segredo e carrega consigo, por amor, a continuidade derradeira de uma descendência maldita, um casal de bebês, gêmeos:
“Apenas a certeza que só lhe restavam algumas horas de vida, talvez alguns minutos, permitia que seguisse em frente, abandonando nas entranhas daquele lugar maldito a mulher a quem havia jurado proteger com sua própria vida. Naquela noite, enquanto o tenente Peake fazia sua última viagem a Calcutá a bordo daquela velha barca, cada segundo de sua vida se apagava sob a chuva que tinha chegado protegido pela madrugada.”
Peake sabe que não há como escapar, mas é corajoso e sua dor está além da dor física:
“… Uma pontada de dor logo acima do joelho paralisou bruscamente a sua perna direita. Peake apalpou o local com as mãos trêmulas e os dedos roçaram num prego enferrujado que afundava dolorosamente sua carne. Sufocando um grito de agonia, Peake segurou a ponta do metal gelado, puxou com toda a força e sentiu a pela rasgar à passagem do metal e que um sangue quente brotava entre seus dedos. Um espasmo de náusea e dor nublou sua visão durante vários segundos. Ainda ofegante, pegou as crianças de volta e levantou com dificuldade…”
Podem me chamar de sádico, mas trechos assim me fazem entrar no livro, participar da dor e às vezes até senti-la, com um arrepio masoquista pelos braços. Ainda nesta mesma noite, o destino e a vontade de uma avó desesperada separa os irmãos, única e irremediável solução para protegê-los da ação de um espírito malévolo e vingativo. O garoto Ben é deixado em um orfanato aos cuidados do consciencioso Thomas Carter:
“Thomas Carter… Tinha sido criado num lugar semelhante àquele que dirigia agora, nas ruas de Liverpool. Entre os muros daquela instituição tinha aprendido três coisas que governariam o resto de sua vida: apreciar o valor das coisas materiais em sua justa medida, amar os clássicos e, em último lugar, mas não mesnos importante, reconhecer um mentiroso a uma milha de distância.”
A garota Sheere, é levada e criada pela avó, de cidade em cidade, sempre em fuga desesperada, sem porto, sem laços. 16 anos depois, novamente o destino trata de reunir os irmãos. Ben está prestes a completar a idade limite, idade essa que faz com que todos que residem no orfanato tenham que ir embora, enfrentar a idade adulta. Mas ele não está só, ele é o mentor da Chowbar Society, uma sociedade de amigos que possui um pacto de ajuda incondicional.
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