Isabella Pina 22/11/2020Manifest: uma cidade com um passadoMoon Over Manifest era um daqueles livros encalhados na minha estante. Eu ganhei faz séculos, mas como a história não gritava a minha atenção, acabei deixando pra depois. O curioso é ver que, após enfim concluir sua leitura, fiquei com uma sensação mista: ao mesmo tempo que eu penso que eu deveria ter lido esse livro antes, eu sinto que a pessoa que eu sou hoje conseguiu entender suas nuances muito melhor do que se a leitura tivesse sido feita há alguns anos.
A história se centraliza na narrativa de Abilene, uma garota de 12 anos que vai passar o verão em Manifest, cidade onde seu pai passou parte da infância. Não é muito claro por que seu pai não pode cuidar dela nesse tempo, e fica visível desde o começo que Abilene é bem apegada a ele, mesmo que saiba pouco sobre o homem que ele é e que já foi. Ir para Manifest, assim, significa para a protagonista talvez finalmente descobrir mais sobre o pai, e possivelmente entender suas razões de deixa-la sozinha pelo verão.
A narrativa é mesclada pelos acontecimentos no presente de Abilene, em 1936, e por flashbacks de como Manifest era há dezoito anos antes, em 1918. Isso tornou a leitura muito legal porque permitiu não só perspectivas diferentes, mas ver a mesma cidade pelos olhos de uma recém-chegada e pelos moradores antigos.
Inclusive, quanto mais eu lia sobre o passado de Manifest, mais apegada me tornei aos seus habitantes e suas histórias. De maneira significativa, a população de lá era marcadamente imigrante, e se atualmente a situação deles não é fácil em lugar nenhum do mundo, a autora soube nos transportar por suas experiências difíceis no começo do século 20, marcado ainda por uma guerra mundial.
Inclusive, eu tenho que falar: esse é um daqueles livros cuja narrativa não traz acontecimentos grandiosos de início, mas te pega de jeito igual. Não sei se é a atmosfera de cidade pequena, ou se a personalidade da cidade como um todo parece sair das páginas e praticamente se tornar um personagem por conta própria, mas a vibe que o livro transmite me deixou com a pulga atrás da orelha, tanto pelos mistérios que são levantados, mas principalmente pelos seus personagens.
A maneira como as informações que a autora fornece no passado vai aos poucos casando com o que Abilene descobre no presente é muito boa, e ainda que este livro traga diversos nomes com importância para a história, vai se tornando fácil distinguir quem é quem (aliás, o sumário com todos os personagens no início do livro ajuda muito nisso). Pra mim, o destaque vai especialmente para a Miss Sadie, uma adivinha que é uma das principais companhias de Abilene, e quem a ajuda, da sua própria forma, a entender a história e as dores de Manifest.
Posso dizer que esta leitura foi uma das que mais me surpreendeu em 2020, porque eu não esperava nada e ganhei um quentinho no coração em forma de livro. Ainda que pareça algo mais infantil, eu sinto que esse é uma daquelas histórias que fazem sentido e sabem como transmitir o que desejam independente de quem seja o público que lê. De maneira bem elaborada e ao mesmo tempo singela, Moon Over Manifest te deixa com um gostinho agridoce pela vida.
RATING: 4 mementos