Tamirez | @resenhandosonhos 07/08/2018Minha Vida Fora dos TrilhosMinha Vida Fora dos Trilhos é o primeiro livro escrito por Clare Vanderpool, que já havia sido publicada em 2016 no Brasil com Em Algum Lugar nas Estrelas. Como eu não li o outro livro, mas ouvi coisas bem positivas, resolvi embarcar nessa viagem ao Kansas e acompanhar Abilene em sua aventura. A história não foi tudo o que eu esperava, mas também não vem para decepcionar.
Pense em uma boa garota, esperta, vivaz, inteligente e disposta. Essa é Abilene Tucker. Uma menina que sempre tenta tirar o lado bom das coisas, sem perder a sagacidade da idade. E por isso é fácil se apegar a ela e a compreender os seus anseios. Por mais que ela vivesse com o pai, ele não era exatamente aberto para contar muitas histórias. Então, quando ela é enviada a Manifest, duas coisas florescem nela: a primeira é que ela vai conhecer mais sobre Gideon, pois devem haver “pegadas” dele pelo lugar; e a segunda é que quanto mais procura e anseia por isso, mais descobre que sabe tão pouco sobre aquele que mais ama e é sua única família.
Mas o ponto de vista de Abilene é só um dos quatro que temos nessa narrativa. Em primeiro plano temos sim Abilene, em 1936, vivendo sua nova vida, mas intercalado a isso há a apresentação das cartas trocadas entre Ned e Jinx em 1917, recortes das colunas de jornal de anúncios e do suplemento de notícias de Hattie Mae e, por último, uma narrativa no passado, nos contando a história também dos garotos que Abilene fica tão fascinada. Esses quatro momentos vão se interligando e se fechando em volta de uma só história que envolve a todos eles.
Nesse passado, quem tem protagonismo é Jinx, um menino forasteiro que chegou a Manifest fugindo de algo e logo fez amizade com Ned, antes de ele partir para a guerra. Os dois então passam a trocar as correspondências, que 20 anos depois serão encontradas por Abilene. A questão é que Jinx tem um passado conturbado e, como forasteiro, não é bem visto na cidade, se envolvendo em algumas complicações.
Mas minha personagem favorita não é nem Abilene nem Jinx, e sim a “vidente” da cidade. Ela que sempre foi mal vista, é uma das responsáveis por posicionar as peças dessa história no lugar, e sua conclusão foi a que mais me tocou.
Algo que une essas duas épocas é o cenário de guerra e incerteza. Manifest é uma cidade pobre e todos os seus moradores dividem as dúvidas do que há por vir. Nessa situação há um sentimento de união e apoio que é necessário para a sobrevivência de todos. Esse ar de cidade pequena também é bem característico, já que mesmo os considerados “ricos” são na verdade pobres com um pouco mais. No fim do dia a falta de agua, a escassez de comida e o confronto que os cerca pode chegar para todos.
Porém, mesmo a história sendo bonitinha e com seus bons momentos, foi um daqueles casos onde eu não consegui me apegar ou achar um ponto de identificação que me afeiçoasse ao que estava lendo. A narrativa é fluída depois que você entra pra dentro da trama, mas ainda assim faltou algo pra mim dentro dessa história. As coisas caminham em uma direção e é pra lá que elas vão, não há uma grande surpresa ou reviravolta, é realmente uma história simples. E, vejam bem, esse não é um problema. Há várias nesse estilo que já me cativaram e viraram queridinhas pra mim, como por exemplo A Vida do Livreiro A. J. Ficky, que não tem absolutamente nada demais e mesmo assim conseguiu me inundar de sentimentos, coisa que aqui não acorreu. E, como já mencionei, o único momento que fui tocada, foi com o desfecho da vidente, que nem parecia estar tão centralizada na história, apensar de peça importante.
“Eu achava que sabia algumas coisas sobre as pessoas. Tinha até a minha lista de universais. Mas agora estava em dúvida. Talvez o mundo não fosse feito de universais que podiam ser arrumados em pacotinhos perfeitos. Talvez só tivesse pessoas. Pessoas que estavam cansadas, magoadas e sozinhas, da sua própria maneira e no seu próprio tempo.”
A edição, no entanto, está bem bonita como sempre. Ela trabalha essa coisa do antigo e também dos trilhos de trem que são uma parte relevante dentro da narrativa. Gostei bastante da vibe de recortes e também dentro, quando os personagens são presentados, que normalmente é um lista com o papel de cada um, aqui há uma diagramação diferenciada que deixa a experiência mais legal.
Mesmo assim não desanimei e ainda quero ler Em Algum Lugar nas Estrelas, que teve uma receptividade bem bacana e sei que tocou muitas pessoas. Minha Vida Fora dos Trilhos é uma leitura agradável, mas que não foi muito além disso pra mim e que passou sem deixar aquela marca que nós leitores tanto ansiamos.
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