PorEssasPáginas 30/09/2013
Resenha O Castelo das Águias - Por Essas Páginas
Dessa vez a Cuca mergulhou em um mundo fantástico chamado Athelgard nesse livro da Ana Lúcia Merege, que saiu pela Editora Draco. Em O Castelo das Águias, primeiro livro de uma série, conhecemos um mundo com humanos, elfos, magia e águias guerreiras. Com uma narrativa leve e uma trama despretensiosa, Ana Lúcia Merege nos conduz por uma história deliciosa e com uma bela mensagem. ‘Bora lá saber se a Cuca recomenda?
O livro começa com um prólogo e a cena rápida de uma batalha e uma situação angustiante que, pelo que se percebe quando o livro realmente começa, é algo que acontecerá somente no final, o que já nos deixa com a pulga atrás da orelha. Depois disso, conhecemos Anna de Bryke, uma moça muito jovem que foi convidada a dar aulas na escola de aprendizes do Castelo das Águias. Anna, que vivia em uma tribo distante, cercada pela avó, amigos, elfos, tradições e costumes de sua terra, muda-se, completamente sozinha, para Vrindavahn, um lugar distante e muito diferente do que ela estava acostumada a viver. Só aí o leitor já percebe que Anna, apesar de ser uma personagem tranquila, é também uma moça corajosa à sua própria maneira.
A história é narrada pelo ponto de vista de Anna e, à medida que o livro avança, percebemos que uma das suas funções como personagem é exatamente essa: narrar a história. Ela se instala no castelo e começa a dar aulas de sagas que, pelo que interpretei, é algo equivalente a literatura (coerente ela ser a narradora, não?). No castelo, os aprendizes têm várias aulas e desenvolvem suas habilidades, inclusive mágicas. Aqui achei bastante criativo que os protagonistas da história são os professores, não os alunos; geralmente nas sagas o herói é alguém jovem, com um mundo a descobrir e muito o que aprender. Aqui, no entanto, temos os mestres como protagonistas, mas apesar disso eles também tem muito a descobrir, aprender e evoluir.
O mundo de Athelgard é ocupado por humanos e elfos, bem como a mistura dos dois. Anna é humana, o que por si só surpreende os habitantes do castelo, já que ali há vários mestres elfos e magos. Nos primeiros capítulos, Anna está tentando se habituar à sua nova vida e, apesar do livro mostrar essa trajetória, senti falta de mais algumas páginas nesse começo, principalmente para mostrar essa nova ambientação de Anna e conhecermos melhor os personagens. Em alguns momentos, achei que ela foi aceita com facilidade pelos outros mestres – não digo os aprendizes, porque o mestre anterior deles era muito chato e Anna traz novas técnicas de ensino que realmente os encantam. Tanto que achei isso que, quando acontece uma cena de conflito entre Anna e outra pessoa, uma divergência de opiniões, foi quando me interessei mais pela história e grudei no livro.
Anna é ainda é bastante jovem, recém-saída da adolescência, e apesar de já demonstrar certa maturidade, algumas das suas atitudes são bastante coerentes com a sua idade e com o seu passado, criada em um local afastado, com outros costumes. Ela não é perfeita: tem suas inseguranças, medos e orgulho, mas também é uma pessoa calma, observadora, criativa e de bom coração. Em outras palavras, ela é real: nada de uma personagem perfeitinha. Também não esperem uma heroína que destrói tudo pelo caminho; Anna é forte e corajosa, sim, mas com outro tipo de audácia, um tipo que às vezes as pessoas não interpretam como coragem. Porém, em várias cenas, ela demonstra ousadia, não pelo uso da força ou de armas, mas utilizando inteligência e palavras. É legal encontrar personagens femininas que pegam em armas e chutam bundas malvadas? É sim. Mas não é só isso que significa uma personagem forte: há vários outros tipos de mulheres, que demonstram sua força e coragem de maneiras diversas. E gostei dessa diferença em Anna.
E por trás disso tudo, como um fio condutor que guiasse magos e artistas, estava o que mais me fascinava: as histórias. Sem elas, tudo o mais seria desprovido de sentido.
O Castelo das Águias é assim chamado por abrigar em seus terrenos águias especiais: devido a uma fonte mágica e usando os encantamentos corretos, elas podem se transformar em águias guerreiras. Porém, há algumas pessoas que desejam utilizar as águias para propósitos errados, como armas de guerra, arriscando sua vida e liberdade. Essa situação conduz e permeia todo o livro, trazendo um pouco de política e conspiração para a trama. Além disso, é também devido a essa trama que conhecemos aqui e ali outros fatos de Athelgard. Aqui, Ana joga a semente de outras coisas que virão nos próximos livros.
No castelo, Anna conhece Kieran de Scyllix, um outro mestre, mago, guardião das águias e alguns anos mais velho que ela. Gradualmente, Anna e Kieran se interessam um pelo outro. No entanto, esse não é um romance arrebatado, com idas, vindas e cheio de turbulentas emoções. Aliás, essa nem parecia ser a intenção da autora. O romance entre Anna e Kieran é tranquilo, simples e bonito, bastante verossímil de acordo com a situação e a época que a história se passa. O relacionamento fugiu também daquela batida situação de “amor impossível” e coisas do tipo. Não há dramas desnecessários. Gostei muito disso porque não estava lendo o livro em busca de um romance, mas sim de uma aventura de fantasia, e foi isso que encontrei. A autora manteve o foco, apesar de claramente ter carinho pelo relacionamento dos dois.
(…) pois nossas falhas e talentos eram complementares… como tinham de ser, se pretendíamos que houvesse harmonia em nossa vida a dois.
No entanto, preciso abrir um parêntesis aqui, quase um desabafo pessoal. Não consigo gostar do Kieran! Como pessoa, não como personagem, que fique claro. Ele é antipático, rabugento, autoritário, teimoso, às vezes grosseiro e até meio machão. Lendo-o, lembrei muito do Snape, de Harry Potter. E eu também não gosto do Snape – mas reconheço que ele é o melhor e mais complexo personagem da Rowling. Um ótimo personagem nem sempre precisa ser querido e amável e Kieran certamente não é. Na verdade, acho que o mais me irrita nele é o pouco caso que ele faz de Doron, um cara incrível, adorável, ótima pessoa e personagem, que é devotado ao amigo Kieran e, no entanto, ele só faz tratá-lo com desprezo. Sinceridade? Eu quero um Doron para mim. E a Anna é uma heroína mesmo por aguentar o Kieran! Pronto, falei!
No entanto, aqui também Anna mostra que tem personalidade. Apesar de estar apaixonada, ela não cede às opiniões de Kieran. Anna tem suas próprias convicções e as defende com energia, mesmo dele. Ela discute e toma suas próprias decisões, ainda que Kieran não concorde e isso leve a mais divergências. Suas escolhas não são tomadas por causa de seu amor. E aí volto no que comentei acima sobre personagens femininas. De nada adianta uma personagem que pega em armas e é durona se chega um cara e ela se derrete, e realmente Anna não é assim. Ela tem sua própria cabeça, ela defende o que acredita e, finalmente, ela tem personalidade. Para mim, isso que faz uma boa personagem.
Além de Kieran, Anna conhece várias pessoas. Há outros personagens no livro e, devido àquela falta de páginas que me referi acima, acho que alguns foram pouco desenvolvidos, apesar de percebemos que eles têm sim suas próprias histórias, apenas não houve tempo para que elas fossem mais aprofundadas. Durante a leitura, percebi que a autora teve um grande cuidado ao criar esse mundo e tem bastante controle sobre seu universo, bem como seus personagens, apesar de nem sempre isso ser mostrado no livro. Acho que a única coisa que eu desejava a mais nesse livro seriam mais páginas, mais tempo para esse desenvolvimento. Ao mesmo tempo que essa narrativa rápida deixa o livro mais leve, de um jeito que você lê e nem percebe o tempo passar, também nos deixa um pouco no escuro sobre alguns personagens, mas acredito que provavelmente eles serão mais desenvolvidos nos próximos livros. Algo legal que descobri foi que, no site da autora e da série, Ana posta contos e fichas dos personagens, contando-nos um pouco mais deles e suas histórias. É uma ótima pedida como complemento do livro.
Apesar O Castelo das Águias ser uma fantasia leve, no final, Ana nos emociona com uma cena bem escrita, brilhante e muito delicada, que traz uma bela mensagem. Acho que foi isso que mais me marcou no livro, essa mensagem que significa basicamente “se você ama alguém, deixe-o livre”, uma citação que vem logo no começo do livro. É isso que a autora mostra com a história narrada pelos olhos sensíveis de Anna e na figura das águias. Foi algo que me fez refletir e muito após a leitura. Já disse várias vezes aqui que, algumas vezes, lemos um livro no momento certo. Quando terminei O Castelo das Águias, sua mensagem me tocou profundamente e, naquele mesmo dia, aconteceu uma situação comigo que me fez lembrar novamente dessa mensagem do livro. Amar é deixar livre, é dar espaço para o ser amado ser livre para ser quem quiser, pensar como quiser, amar quem desejar. É uma imagem bela e verdadeira. Quem não sabe ceder a liberdade infelizmente não sabe amar. Quem não sabe amar, não sabe viver. E isso é triste.
E aí? A Cuca recomenda?
Com certeza! Para quem curte uma fantasia leve e adora ler sem ver o tempo passar, O Castelo das Águias é uma ótima pedida. E se você não gosta de séries, fique tranquilo: apesar do livro ser o primeiro de uma série, ele tem sim um final convincente e que fecha com o que foi proposto na obra, apesar de algumas pontas soltas que foram deixadas para os próximos livros. Além disso, a Ana mantém um blog, como eu já disse acima, no qual posta outros contos do universo de Athelgard e fala sobre seus personagens. Para visitá-lo, cliquem aqui. Em tempo, a autora também tem vários contos publicados separadamente pela Draco, em versão digital, bem baratinhos. Conheça-os clicando aqui. Se vou lê-los? Claro, e certamente vão estar aqui resenhados em breve.
site: http://poressaspaginas.com/a-cuca-recomenda-o-castelo-das-aguias