Erika 30/08/2012
“As Guerras acabam. O ódio é eterno”
Escrito pelo italiano Giorgio Faletti, “Eu sou Deus”, reúne todos os ingredientes necessários para prender a atenção do leitor. Nem sempre a leitura alcança ápices de excitação, pelo contrário, ás vezes se revela morna. No entanto a forma como o autor conduz a trama faz com que quem esteja lendo tenha mais vontade de descobrir os novos fatos da investigação que levará ao assassino que está ameaçando Nova York.
Depois dos ataques de 11 de setembro os norte-americanos passam a viver sob o constante medo de que haja outros atentados. É então que novas explosões passam a assombrar a cidade, mas nenhum grupo terrorista assume a autoria dos crimes, o que dificulta ainda mais o trabalho da policia.
A história começa com uma breve descrição do assassino, que se mantém anônimo e aparece poucas vezes até o final do livro, quando sua identidade é finalmente revelada. Suas aparições são marcadas por uma característica, o homem que aterroriza Nova York está sempre com uma jaqueta militar verde.
Após a apresentação do assassino o autor retorna onde tudo começou. A data era mais ou menos 1970, Guerra do Vietnã, dois soldados foram capturados pelos vietcongs. Usados como escudo humano, um deles morre carbonizado, o outro, se salva por pouco, mas teve seu corpo totalmente destruído e marcado pelas queimaduras causadas pelo calor lancinante da bomba de napalm. Torna-se um monstro, por dentro e por fora. Para a sociedade torna-se um fantasma, para seus poucos amigos e para si mesmo está morto. “As guerras acabam. O ódio dura para sempre” (página 185), essa frase resume o único sentimento que restou ao soldado sobrevivente. Seu único objetivo era a vingança contra quem o mandou à guerra, contra aqueles que permitiram que ele se transformasse em algo abominável e, contra um país que não deu a ele nenhuma medalha de herói, mas o fez viver momentos de horror sem nem mesmo saber o porquê.
Muitos anos depois, a detetive Vivien Light se vê as voltas com o caso de um homem que fora morto e emparedado há mais de quinze anos. A principio o caso é sem importância, mas com desenrolar da história o desvendamento daquele crime se torna imprescindível para que se descubra quem anda cometendo as explosões que estão matando centenas de pessoas em Nova York.
Russel Wade, um jornalista e fotógrafo tido como o filho “destrambelhado” de uma família muito rica dos EUA passa a ser parte importante para que o caso seja solucionado. É ele quem oferece à policia um ponto de partida para desvendar os crimes. A partir de então Russel e Viven começam uma corrida contra o tempo atrás de pistas e testemunhas que os levem à algum lugar. Às vezes as situações os fazem acreditar que voltaram à estaca zero, e de repente descobrem um novo ponto de partida para as investigações.
O Padre Michael McKean também é parte importante da trama. Muitas vezes o leitor irá se perguntar por que o autor retorna tanto àquele personagem que a principio não apresenta tanta importância para a história, mas que no desenrolar das ultimas páginas se torna a chave para que os atentados sejam solucionados.
Todos personagens apresentam conflitos internos e são assombrados por fantasmas do passado. No primeiro capítulo em que Vivien Ligth aparece o autor relata uma passagem de uma antiga fábula índia em que um velho cherokee fala a seu neto sobre os conflitos humanos. “Há dois lobos em cada um de nós. Um é mau e vive de ódio, ciúme, inveja, ressentimento, falso orgulho, mentiras, egoísmo. (...) O outro é o lobo bom. Vive de paz, amor, esperança, generosidade, compaixão, humildade e fé.” Então o neto pergunta “E qual dos dois lobos vence?” e o velho cherokee responde “Aquele que você alimentar melhor” (página 73). Para alguns dos personagens a solução dos atentados consiste na oportunidade de redenção, e na a chance de voltar a alimentar o lobo bom.
Giorgio Faletti nasceu em 25 de novembro de 1950, em Asti na Itália. Além de escritor, é também compositor, músico, letrista e ator. Seu primeiro romance de terror foi “Eu mato”, em 2002, que vendeu mais de quatro milhões de exemplares. “Eu sou Deus” foi lançado em 2010, e já alcançou a marca de mais de dois milhões de livros vendidos na Itália.
A história é envolvente, mas quem espera encontrar no thriller de Faletti algo parecido com a história contada por Thomas Harris em “O silêncio dos inocentes” irá se decepcionar. A trama não mostra traços marcantes da personalidade do assassino que acredita ser Deus, e tão pouco permite que o leitor conheça a fundo o que se passa na cabeça dele. Somente no final de forma um tanto confusa é que se descobre quem de fato ele é e os motivos perturbadores que o levou a cometer tais atrocidades. A leitura é agradável, mas começa a se tornar mais interessante a partir do capítulo 22, quando as pistas começam a fazer sentido e quando a história se torna mais emocionante.