Line 01/06/2012Uma sociedade sob investigação Mais do que um mero romance policial, Depois do Funeral configura-se como um verdadeiro tratado psicológico. Não no sentido mais concreto da palavra, e sim no que diz respeito ao modo utilizado pelo excelente Hercule Poirot na condução e desvendamento do caso.
Através de"conversações" e, por conseguinte, de uma minuciosa observação-análise dos envolvidos, Poirot consegue desvendar o crime de forma tão engenhosa que chega a nos deixar, pobres leitores e espectadores do espetáculo, boqueabertos. Porque, não se trata de simples evidências, pistas seguidas. Trata-se de perfis humanos estabelecidos, cada um com suas ambições ocultas trazidas à tona, seus desejos sombrios revelados, tudo figurando como possíveis "motivos" para o crime, porém mais ainda como denúncia de uma sociedade hipócrita onde o dinheiro e sonho material falam mais alto do que os escrúpulos.
Dessa forma, a obra se revela uma obra de ficcção na qual o entretenimento não é o resultado final. Ele está atrelado a um "despertar" pra lógica da nossa sociedade e das mazelas que nela existem, seguindo a ideia de que o pensamento humano é um labirinto que muitas vezes tentamos percorrer, porém quase nunca conseguimos decifrar seus infinitos caminhos. Agatha Christie, além de ser a dama do crime é observadora do homem, por vezes assassino dele mesmo.