Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida

Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida Xinran




Resenhas - Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida


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Rosangela Max 30/01/2023

Marcante.
?A vida é dura para as mulheres; nenhuma dinastia nem governo algum as valorizam.?

Esta frase define bem sobre o que se trata este livro.
Este é o segundo livro que leio da autora e não me canso de horrorizar com o modo como as mulheres eram e são tratadas na China.
Este é sobre as atrocidades feitas com os bebês femininos em nome da política do filho único e também da cultura chinesa, principalmente nas regiões rurais e interioranas. Ou eram mortas assim que nasciam ou cresciam no país para serem roubadas ou compradas e se tornarem noivas-crianças e mão-de-obra escrava. Seja qual fosse o destino reservado a elas, era cruel.
Leitura necessária para se entender um pouco mais sobre a vida das mulheres na China.
Os anexos ao final do livro foram enriquecedores. Destaque para a curiosa explicação sobre as dezoito maravilhas de Chengdu.
Recomendo e leitura.
Livia Barini 30/01/2023minha estante
Achei este livro muito impactante. Até hj rezo por uma das mulheres (se não me engano a da primeira história)


Jhaze 01/02/2023minha estante
Rosangela.Max te recomendo caso ainda não tenha lido, da escritora Jean P. Season o livro Princesa: A Vida Secreta das Mulheres Árabes Por Trás do Véu Negro. Leitura difícil.


Livia Barini 01/02/2023minha estante
Jaaziel, o livro que você recomendou é uma série. A autora Jean Sasson escreveu mais dois outros livros: As Filhas da Princesa Sultana e Princesa Sultana. São livros impactantes, mas gostei mais do "Mensagem de uma mãe chinesa"


Livia Barini 01/02/2023minha estante
Jaaziel, o livro que você recomendou é uma série. A autora Jean Sasson escreveu mais três outros livros: As Filhas da Princesa Sultana, Princesa Sultana e Sultana Mais lágrimas para chorar. Li o primeiro e o último. São livros impactantes, mas gostei mais do "Mensagem de uma mãe chinesa"


Rosangela Max 01/02/2023minha estante
Olá! Li dois livros da Jean. P. Season e gostei também, mostram bem como é a vida das mulheres árabes, embora fale muito sobre as mulheres da ?realeza?.
Gosto mais do estilo de escrita da Xinran. No momento, estou amando ler livros sobre a cultura asiática (tanto de ficção quanto de não-ficção). ?


Alan kleber 01/02/2023minha estante
Já viu falar també das mulheres dos "pés de lotus"? Acho que também era na China.


Alan kleber 01/02/2023minha estante
Também


Jhaze 01/02/2023minha estante
Sim Lívia, é uma série. Eu comentei apenas sobre o primeiro porquê foi o único que li. Falta ler os outros.


Rosangela Max 01/02/2023minha estante
Alan, esse que você citou eu não conheço, mas já fiquei super curiosa. ??




Lynnë 14/02/2013

Lindo, maravilhoso, tocante, entristecedor e acalentador. Xinran acertou mais uma vez, nos mostrando o quanto a China é diferente do Ocidente, o quanto é fascinante.

Assim como em "As Boas Mulheres da China", me identifiquei com essas mulheres, mães, avós, sogras, filhas. Não sou adotada, mas me senti confortada em saber que essas mulheres sofridas nunca deixaram de amar seus bebês. Seja qual forem seus motivos, nunca deixaram de pensar nessas crianças. Almejaram um futuro para essas meninas, sabendo que estariam mais felizes em outra situação.

Com certeza um dos meus preferidos.
Flávia 19/02/2013minha estante
Já li um livro que falou, mas bem pouquinho disso. Realmente chocante.


LUA 06/05/2013minha estante
Eu li as boas mulheres da China e achei Xiran e suas histórias tão diferentes das nossas incrível.
Uma boa pedida essa leitura,gostei.




Joaoitalo18 15/04/2022

Cartas que deviam ser lidas por todos nós.
Um livro muito emocionante e que trás um choque de realidade.
Fiquei muito tocado pelas dificuldades que as mães chinesas passam por simplesmente serem mulheres ou por dar a luz a uma menina.
Óbvio que não só ocorre na China ??, mas ver o como é algo comum o assassinato de crianças em um país com uma população que ultrapassa 1 bilhão de pessoas me deixa bastante abalado.
Quantas pessoas ainda precisam morrer antes dessa cultura global machista de achar que o homem e superior?
Eu pensava que com a globalização e o aumento do conhecimento nos dias de hoje fariam com que menos pessoas morressem pela ignorância de outros, mas atualmente parece que estamos apenas retrocedendo na história.
O livro e um respiro de esperança em meio a tanta maldade, ele consegue mostrar que mesmo com tanta tristeza é dificuldade a mulher ainda consegue lutar e vencer.
E mostra para as criança adotadas como suas mães biológicas ainda amam elas. ??
Eu amei muito o livro, já recomendei para umas 5 pessoas,E pretendo recomendar para muito mais?

Xinran ?
shotrai 26/05/2022minha estante
Na verdade esse período já passou, ela contou oq era vivenciado na época. Hoje a lei ja permite ter até 3 filhos por lá, pois está muito baixo o índice de natalidade depois de que ter um filho apenas virou algo cultural na China. Mas os tempos mudaram, a China hoje é um dos melhores países para se viver, conversei com uma brasileira morou 5 anos lá e até engravidou lá. Então, não fique preso ao que aconteceu e que ela relatou no livro, ela quis dar ênfase e trazer o sofrimento de muitas mulheres q tiveram de passar por tudo aquilo. Para não ser algo esquecido ou banalizado apenas, ela trouxe um lado da história que ninguém sabia e nem o governo chinês quis ?dar palco? a isso.




Carla.Zuqueti 20/11/2012

Emocionante
Livro que complementa um tema inciado em "As Boas mulheres da China". Desta vez, focado nas mães chinesas e suas perdas, seus sofrimentos, suas angústias por sua impotência para dar um futuro às suas filhas. Muitas histórias emocionantes de mães que tiveram as frustrações por não poder exercer a maternidade, por não poder proteger seus filhos e uma reflexão da própria autora quanto ao seu relacionamento confuso com sua mãe. Muito bonito, recomendo.
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Adriano 02/01/2014

Tocante
Livro incrível que apresenta a história de várias mães ao redor da história da China. Um contexto histórico emocional e emocionante. Li e recomendo!
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Bia 01/10/2014

Xinran novamente nos dá um chacoalhão. Nos mostra o lado da China que ninguém quer ver... Ninguém quer ver porque é feio, choca, agustia.

Neste livro, ela nos mostra diversos relatos de mulheres e mães de mulheres e tudo que passam num país como esse. Um país onde mulher não tem direito nenhum. Onde ter filha mulher é uma vergonha, é pior do que ter um filho morto. Onde matar bebês meninas é a coisa mais natural do mundo. Um livro que nos mostra um lado feio do ser humano... Mas, ainda assim, um lado que precisa ser visto e repensado e, enquanto não for, bebês estão morrendo das formas mais cruéis.

"Toda mulher que já teve um bebê sentiu dor, e as mães de menininhas têm o coração cheio de tristeza"
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Natally.Pierri 18/02/2016

Menininhas chinesas
Livro baseado em relatos reais contados pela jornalista Xinran que no decorrer de sua vida conheceu histórias de mamães chinesas que precisaram abandonar suas filhas mulheres em meio à Revolução Cultural, principalmente pela desvalorização do sexo feminino e política do filho único.
O objetivo de Xinran é contar os motivos reais pelos quais as menininhas foram abandonadas, e de alguma forma, estreitar a ponte entre sua mãe chinesa e suas filhas.
Mulheres que precisavam ter um filho homem para auxiliar no trabalho e poder manter a sobrevivência da família precisaram fazer escolhas que tornou sua própria existência sem valor, muitas vezes enlouquecendo ou vindo a tirar sua vida, tornando a China um dos países com maior incidência de suicídio entre mulheres de 15 à 34 anos.
Este livro proporcionou sensações de diversas naturezas. Ora tristeza, ora revolta, ora empatia.
Umas das melhores leituras que tive e indico principalmente para toda a população que ainda acredita na diferença entre gênero e desvalorização da mulher como indivíduo livre e digno de respeito.
Outro aspecto importante a ser mencionado é o amor existente nas mamães ocidentais que adotaram filhas chinesas. Vale como lição para todas as pessoas que buscam um filho, mesmo que não de sangue, mas de coração.
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Viviane 21/03/2016

Tapa na cara!
Esse livro chacoalha a gente. Mexe com nossos instintos. Choramos de tristeza, raiva, injustiça.
Espere um livro forte e ao mesmo tempo comovente.
5 estrelas porque não pode dar mais que isso.
Recomendo e muito!
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Cleitao 19/09/2016

Mais um livro maravilhoso da Xinran.
Para quem já leu AS BOAS MULHERES DA CHINA,TESTEMUNHAS DA CHINA, AS FILHAS SEM NOME da escritora Xinran. E gosto muito desses livros. Vai adorar esse. E mais um livro dela que nos mostra como a mulher chinesa nas áreas rurais e tratada. Ela nos mostra como a mulher é tratada desde o nascimento. Como as meninas são vistas nas áreas rurais da China. Esse livro é um soco no estomago de quem lê. Você não acredita que isso acontece ainda na China. Um livro emocionante e chocante.
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Luciana 19/12/2016

"Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida" - Xiran
Impossível é a pessoa que ler "Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida", de Xiran, e não se emocionar. A cada capítulo, uma emoção tão grande e diferente, que muitas lágrimas rolaram pelo meu rosto. É como se eu tomasse as dores daquelas mães. Uma aflição, um sentimento de impotência. De ler as histórias daquelas mães e não poder fazer nada. Uma angústia! Eu tenho uma filha, e fiquei imaginando se fosse eu que tivesse que fazer algumas daquelas coisas que elas fizeram com suas filhas. É desesperador.

O livro traz os dolorosos relatos de mães chinesas, que devido ao problema que a China vem passando com o aumento populacional, controles rígido tiveram que ser adotados. O planejamento familiar é uma política fundamental. Poucos eram ricos. Famílias do interior tinham que escolher entre ficar com a menina, e não receber terreno. Apenas as crianças do sexo masculino tinha direito a esses terrenos.

O homem era aquele que seria responsável para levar adiante a linhagem familiar. Era obrigação ter um filho homem, nas famílias pobres. Quem não o tivesse não teria raiz nenhuma. As mulheres ficavam tentando até vir um menino. Sem contar a política do filho único. Nessas tentativas vinham meninas, mas seus destinos eram sofridos.

Uma sociedade aonde a mulher depois de casada, era como se fosse "propriedade", e só servia para obedecer ordens, e ter um filho homem. Isso tudo mudava quando ela tinha estudo e um bom trabalho. Assim, podia ter menina, pois conseguiria custear os seus gastos. A menina para família pobre era uma espécie de despesa.

As jovens não casadas, grávidas, consideradas uma mulher vulgar. Uma vergonha para a sociedade. Até mesmo, os seus pais viravam as costas para sua filha. Deixando-a pelo mundo. Alegando que havia tirado a honra a família. Nunca mais a via. Independente do sexo da criança. Crianças que evidentemente iam para orfanato. Meninos eram adotados rapidamente por um valor muito alto, meninas dificilmente saía no país, e quando saía, era por um preço bem baixo. Deixando de lado aquelas que abortavam.

Muitas menininhas pagaram por isso. Muitas não tiveram a chance de conhecer a vida. Outras, deixadas na rua, contando com a sorte de que alguma alma caridosa a pegasse, o que era impossível, se tratando de meninas. Outras eram pegas por famílias que já tinham um menino, como se fosse um cachorro perdido em um lixo, para e se tornar noiva-criança. Muitas iam para orfanatos, na esperança de serem adotadas. O que transformou em um grande comércio. No final de 2007, o número de crianças adotadas no mundo chegou a 120 mil, todas espalhadas por 27 países. Mães acreditavam que fora da China, suas filhas estariam melhores, teriam uma vida melhor que a dela.

Parece ser tudo tão desumano para nós ocidentais. Mas, então lembramos dessas mães. E como ficam essas mães? Será que ela, a geradora, que carregou consigo por nove meses a criança, seja tão desumana? E o coração de mãe sem aquela criaturinha? Como elas vivem com esse psicológico abalado? Muitas se suicidaram, mas e as que preferiram enfrentar a vida? Sempre na esperança de que a qualquer momento, a menina a sua frente, talvez possa ser a sua filha. Como ela estaria agora com 'tantos' anos? E o desejo de abraçá-la e saber como ela está? Quais são os seus gostos?

Dificilmente elas saberão aonde elas estão, muitas informações se perderam. Muitos orfanatos fechavam e abriam a toda hora. Não havia um registro dessas crianças. Documentos que sumiram.

Infelizmente, a crueldade e o preconceito, juntas, de mãos dadas, trouxeram estragos para a vida de muitas mães, que levarão consigo até o último dia de suas vidas. Uma dor, uma frustração, uma esperança.

site: http://figuracaricata.blogspot.com.br/
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Vanessa Prateano 30/10/2017

Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida: Xinran dá voz às mulheres impedidas de criar suas filhas
O foco de Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida, publicado pela escritora Xinran no Brasil em 2011, pela Companhia das Letras, é nas mães que deram suas filhas em adoção, muitas vezes abandonando-as em locais públicos; mas também há histórias de famílias vivendo no campo que decidem “resolver” as bebês recém-nascidas – um eufemismo para o ato do infanticídio, já naturalizado (embora pouco comentado) nessas localidades.


A política do filho único na China, a preferência por bebês do sexo masculino, o aborto seletivo e o infanticídio de meninas não são um assunto totalmente desconhecido pelos ocidentais. São frequentemente objeto de relatórios e de denúncias de organizações internacionais em defesa dos direitos humanos, assim como um exemplo real da misoginia que incide sobre meninas e mulheres em várias partes do mundo.

Desde que tal política foi adotada, em 1979, com o objetivo de diminuir o imenso crescimento populacional do país, estima-se que 400 milhões de nascimentos foram evitados, a imensa maioria de meninas, resultando em uma enorme disparidade populacional de gênero – hoje há 119 homens para cada 100 mulheres. Em 2015, o governo pôs fim à restrição, mas o déficit populacional gerado pela política fez surgir o tráfico de meninas para fins de casamento forçado, que deve persistir ainda por muitas décadas.

Embora o Ocidente tenha conhecimento dessa situação há muitos anos, um personagem importante para se compreender todo esse cenário costumava permanecer na sombra: as mães que precisam abortar suas filhas, permitir que elas sejam mortas assim que nascem, ou que precisam abandoná-las pouco após darem à luz – em geral, obrigadas pela família do marido, nas mãos de quem sofrem inúmeras violências.

Adoções internacionais inspiraram livro

Com o crescimento do número de adoções de meninas chinesas por ocidentais, o interesse por essas mães esquecidas veio à tona. “Por que minha mãe chinesa não me quis?” era a indagação constante das milhares de chinesinhas ao redor do mundo, em meio ao estranhamento frente a uma cultura que não parecia ser a sua e ao sentimento de rejeição – e também a um esforço sincero de suas mães ocidentais para entender o que levou as mães biológicas de suas meninas a tomar essa atitude extrema.

Mas como acessar os pensamentos e sentimentos dessas mulheres desconhecidas, a maioria delas camponesas que mal sabiam ler e escrever, moradoras de longínquos rincões da China e que viviam suas vidas silenciosamente, jamais tocando naquele que é um dos maiores assuntos-tabu da China profunda?

O objetivo de Xinran, como o título do livro já revela, é ser a mensageira dessas mães, e permitir às suas filhas entenderem por que e em que condições se deu esse abandono. Composto de dez histórias protagonizadas por diferentes mães – a maioria são camponesas pobres, mas há também uma funcionária de alto escalão e o relato da própria autora, que adotou uma menina, retirada dela pelo governo –, “Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida” é um livro imensamente triste.

O grande mérito de Xinran é dissipar a aura de folclore que envolve a política de planejamento familiar chinês e a política do filho único e lhe conferir humanidade por meio dos relatos dessas mães, vítimas da pobreza, da misoginia, de tradições milenares e de intrincadas relações de poder que geram um cenário desesperador.

Isso porque, durante muitos séculos e ainda hoje, a lei chinesa sempre priorizou famílias com filhos homens ao distribuir as terras do governo – as mulheres, quando casam, migram para a casa do marido, enquanto que os filhos casados permanecem na terra onde nasceram.

Ainda há uma questão religiosa e cultural: de acordo com a tradição, é preciso que o casal tenha um filho homem, pois somente o filho mais velho (homem) pode queimar um incenso no altar dos ancestrais quando seus pais morrem. Se a chama se apagar porque não há um filho homem para mantê-la acesa, os mortos jamais terão paz.

No livro Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida, as histórias são dolorosas e mesmo terríveis, seja pelas ações tomadas pelos pais para se livrarem das filhas, seja pelas consequências dessas ações na vida de suas mães.

Em três histórias particularmente marcantes, Xinran conta o caso da menininha abandonada numa estação de trem pelo pai e pela mãe grávida, que já haviam tido três meninas antes dela e que percorriam o país fugindo dos fiscais da política do filho único; o de uma parteira que, a pedido da família do pai, afogou uma bebezinha de poucos minutos de vida em uma bacia de água suja, enquanto a mãe soluçava e chorava baixinho no quarto, e o de uma mulher, vendida como noiva a um camponês, que tentou por duas vezes cometer suicídio ao presenciar, no restaurante em que era garçonete, duas diferentes festas em comemoração ao aniversário de duas meninas – ao olhar para os balões cor de rosa e as menininhas em vestidinhos de festa, amadas e festejadas pelos pais, ela então se lembrou do que havia ocorrido com suas duas bebês, mortas afogadas em uma bacia.

“Mas então Kumei viu a menina de cinco anos comemorar seu aniversário no Pequeno Chefe de Cozinha. Ela ficou atônita. Era possível que as pessoas da cidade realmente cuidassem de meninas daquele jeito? Parecia uma menininha de um conto de fadas. Pela primeira vez, Kumei compreendeu como poderia ter sido ser a mãe de uma menina. Se suas filhas tivessem sobrevivido, talvez tivessem o rosto tão rosado e fossem tão adoráveis quanto aquela menina. Se usassem saias, como as meninas da cidade, talvez também fossem igualmente bonitas! Se apenas elas tivessem podido conhecer a cidade grande… mas elas nem sequer tiveram a oportunidade de viver um dia inteiro. Kumei foi dominada por um sentimento de amargura que acabou por levá-la ao desespero e a tentar se matar. Pelo menos assim talvez ela pudesse abraçar mais uma vez aqueles corpinhos nus. Quando Kumei terminou, ela nos perguntou, chorando: “Por que as minhas filhas não puderam viver? Por que eu tive que matar as minhas próprias filhas? Eu queria que elas tivessem provado pelo menos um bocado daquele bolo de aniversário, só um bocado! Se ao menos elas tivessem podido usar aquelas roupas bonitas, por um dia que fosse!”. Ficamos sentados em silêncio, com as palavras de Kumei ecoando em nossos ouvidos: Por que as minhas filhas não puderam viver?

Kumei continuou trabalhando no Pequeno Chefe de Cozinha até eu ir embora da China, em 1997. Minguang transformou a história de Kumei em um conto, que eu li no meu programa. Entre as muitas cartas de ouvintes que recebi como resposta, várias eram de mulheres que me disseram que também elas haviam perdido a primeira filha. Mais tarde Minguang me disse que Kumei havia ingerido os líquidos de limpeza, incluindo o sabão líquido, porque, sendo analfabeta, pensara que todos os produtos de limpeza eram pesticidas. Um número incontável de mulheres oriundas de zonas rurais comete o suicídio ingerindo pesticidas. Em um relatório das Nações Unidas de 2002, a China ficou em primeiro lugar na lista de suicídios femininos, e ingestão de pesticida era o método preferido. A China é um dos poucos países em que mais mulheres que homens cometem suicídio” – Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida, p. 73-74

As histórias narradas por Xinran, autora do best-seller “As boas mulheres da China”, são cativantes. Anos de experiência como jornalista em veículos estatais chineses – principalmente no jornalismo de rádio, em que grande parte de seu público eram mulheres e pessoas de pouca escolaridade – lhe renderam a capacidade de dizer muita coisa em poucas palavras e de trabalhar com uma linguagem simples, sem análises afetadas e descrições enfadonhas.

A descrição dos hábitos culinários de diferentes regiões da China, da burocracia estatal e das intricadas relações estabelecidas entre as pessoas do campo tornam a leitura prazerosa e ajudam a erradicar a imagem do povo chinês como um povo exótico e incompreensível – imagem que, obviamente, foi construída sob um olhar eurocêntrico, colonizador e racista.

Porém, a autora às vezes derrapa ao apelar para um sentimentalismo excessivo ou quando se põe a analisar a maternidade por um viés moralista, biologizante ou essencialista. A tradução também dificulta um pouco a leitura – nos livros da autora, é comum haver desde logo, na introdução ao livro, uma espécie de mea-culpa de suas tradutoras neste sentido, já que seus livros em português são traduzidos do inglês, e não diretamente do mandarim.

Para saber mais: Em 2004, Xinran criou a organização The Mother’s Bridge of Love, que tem como objetivo unir as famílias que adotaram crianças chinesas, fornecer um espaço de apoio para as crianças e seus pais diante das adversidades que surgem do choque entre as duas culturas e ser também uma ponte entre essas famílias e a sociedade chinesa – com alguma sorte, a autora afirma que pretende reunir as meninas chinesas adotadas e suas mães que vivem na China.

site: http://deliriumnerd.com/2017/10/25/mensagem-de-uma-mae-chinesa-desconhecida/
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Fernando Lafaiete 05/01/2020

Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida: Por que minha mãe chinesa não me quis?
******************************NÃO contém spoiler******************************

Mergulhado em uma extrema melancolia e tristeza provenientes de relatos dolorosos e descrições absurdas capazes de chocar o mais incrédulo dos leitores; "Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida" da autora Xinran, publicado pela editora Companhia das Letras em 2011, é um soco no estômago e uma obra necessária, questionadora e muito mais que reflexiva. Cruel em seu cerne e sensível em suas camadas primárias, a obra nos leva a encarar situações horrendas de um país misógino, hipócrita e patriarcal, através de relatos de mães chinesas que foram obrigadas a abandonar suas filhas ou até mesmo permitir que elas fossem assassinadas minutos depois de terem nascido. Como lidar com tamanha crueldade e como se colocar no lugar dessas mulheres? Como ler uma obra de tamanho cunho crítico e emocional sem julgar a cultura, as políticas e as atitudes narradas?

Criada em 1979 com intuito de diminuir o crescimento populacional do país; a rígida política do filho único (exclusivamente para filhos homens), serviu apenas para sufocar e escravizar emocionalmente as mulheres do país; além de criar um déficit entre homens e mulheres, causando um desequilíbrio social grave.  Infanticídio, abandonos e negligencias parentais e governamentais são cometidos com normalidade e muitas vezes sem remorso algum.  Situações que nos amortecem e nos revoltam conforme vamos avançando na leitura.

"O negócio do aborto se tornou um ótimo caminho para se ganhar dinheiro rapidamente, e anúncios para esse tipo de serviço eram afixados em toda parte das periferias das cidades. Quase nenhuma das estudantes que engravidavam ficavam com o bebê. As famílias chinesas disputavam os meninos, mas os bebês do sexo feminino inevitavelmente terminavam em orfanatos. Essa é provavelmente uma das razões para o aumento dramático nos números de bebezinhas em orfanatos chineses de 1990 em diante, e também para a instituição governamental de 1992 que permitiu a adoção internacional"

Com uma escrita simples e com uma agilidade ímpar em descrever sentimentos únicos e empáticos, a autora, também jornalista popular, nos encanta com suas palavras tão bem escolhidas, nos agraciando com uma obra jornalística de alto nível literário. "Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida" me deixou tão chocado, que passei horas tentando digerir tudo que havia lido e tentando desesperadamente entender como o ser-humano consegue ser tão cruel.

"Um número incontável de mulheres oriundas de zonas rurais comete o suicídio ingerindo pesticidas. Em um relatório das Nações Unidas de 2002, a China ficou em primeiro lugar na lista de suicídios femininos, e ingestão de pesticidas era o método preferido. A China é um dos poucos países em que mais mulheres que homens cometem suicídios."

Muito parecido em sua estrutura com o que encontramos em "A Guerra tem rosto de Mulher" da autora Svetlana Aleksiévitch, a obra de Xinran dá voz as mulheres chinesas, deixando suas vozes ressoarem pelas páginas de forma arrebatadora.  O livro é fantástico, desafiador e muito, mas muito triste. Muitos afirmam que não existe nada mais forte que amor de mãe. Mas lendo esse livro, confesso que passei muito tempo questionando tal afirmação. Consigo entender um pouco, mesmo que muito pouco, todo o sofrimento tanto das crianças abandonadas quanto das mães que as abandonaram ou "as assassinaram". Imagino a dificuldade de quem adota uma criança chinesa em responder a tão temida pergunta: Por que minha mãe chinesa não me quis? Terminei o livro e agora parafraseio uma indagação apresentada no livro aqui resenhado.

O que é natureza? O que é amor de mãe?
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Maiara.Alves 05/01/2020

Um livro para ser lido, pensado e sentido.
"Toda mulher que já teve um bebê sentiu dor, e as mães de menininhas têm o coração cheio de tristeza."

Xinran aborda com delicadeza um dos aspectos mais cruéis e polêmicos da sociedade chinesa contemporânea, e dá voz às mães que não puderam vivenciar a plena maternidade por terem dado à luz bebês do sexo feminino.
O mais incrível é que, através da narrativa simples, a autora conseguiu deixar leve a leitura de um livro que eu considerei muito mais que pesado. É um livro ao mesmo tempo reflexivo e doloroso. Eu li chorando em diversas partes, seja pelo desespero das mães que entregam ou matam suas filhas, das que se matam por isso, seja pelo desespero dessas filhas em saber porque foram abandonadas e levadas para quilômetros de distância de sua terra natal.
Indico a todo mundo, principalmente às mulheres. Mães ou filhas.

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Lari 01/12/2020

Um presente para mulheres adotadas
Há livros que chacoalham - e ensinam, fazem pontes. Xinran fez um excelente trabalho de dar um pouco de resposta às meninas chinesas. Quem conhecer alguma menina chinesa adotada, esse é um ótimo presente ? Sinto que tenho algo em comum com todas as mulheres adotadas mundo afora. Como se compartilhássemos um sentimento íntimo e particular que só a gente entende. Algo que muita gente não conhece - e pode até achar bobo - de querer entender o motivo de existir entre duas linhagens distintas. É um lugar não lugar no mundo. Mistério e reconstrução. Nisso, qualquer coisinha ajuda a narrar nossa história. Sei que nasci em Pirassununga e isso é sim interessante de se saber. Também sei meu aniversário, o tipo sanguíneo da minha mãe biológica (pode ser útil de alguma forma. A saúde é um mistério), a hora exata do meu nascimento (amém mapa astral hehehe).

Acontece que meu coração aperta ao saber que mulheres chineses da minha idade, e principalmente as mais velhas, podem não saber nada disso. Praticamente nenhuma sabe. Não saber o próprio aniversário, a própria cidade, não poder nem postar meme de signo, vejam só. Coisas para uns pequena, para outros gigante. "Ah, mas é só inventar uma data", as pessoas dizem, mas não é bem assim. Sentir-se vazia da própria história, não saber se foi amada ou rejeitada, tem sim seu peso. Na China, falta documentação. Sem registro, sem passado.

E tem também o ser mulher. Na China a adoção é total ligada ao machismo, tradições arcaicas, pobreza e solidão. Que dor ler a história dessas mães! Há crianças raptadas e mães que tentam o suicídio.

No Brasil, já conversei com várias adotadas com medo de serem sexualizadas por parentes - e umas realmente foram! Mulheres que sentiram que os homens da família tratavam elas muito diferente das parentes de sangue. Por mais que em toda família possa, infelizmente, existir abuso, para uns realmente o sangue é uma barreira.

Já repararam como falam sobre adotadas? "Mas e se alguém se apaixonar por ela?". A primeira diferença que uma menina adotada pode sentir é essa: a sexualização. O jeito que julgam diferente se um priminho beijar a priminha de sangue e a priminha adotada.

Isso só para pontuar que ser mulher - e ser adotada - tem seu peso diferente no mundo todo.

Vejam, refletir isso não quer dizer não amar a família adotiva- isso é outro tabu. Ter que um filho provar amor é um tanto quanto absurdo.Sempre friso isso, porque não é como se eu fosse imune às críticas. Ainda há o estigma que faz com que filhos adotivos tenham que ser perfeitos e calados em relação ao passado - ou são chamados sem dó de ingratos. Mas todo filho tem o direito de ficar chateado com os pais, não? Assim como todos os pais tem seus dias de cansaço, raiva, impaciência. Famílias de verdade!

Tratam a adoção como tratam os depressivos: como se fosse mimimi. Mas não é. A diferença consiste em enxergar a adoção sem romantização. E cuidar psicologicamente, respeitar a necessidade de se entender as origens.

A adoção está cada vez mais sendo menos tabu, ainda bem. E se tem mais registros, mais debates - isso no mundo todo. É bom saber que o mundo caminha para isso ? enquanto vamos nessa transformação, sigo falando! Adotados: contem comigo
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