Bruno Oliveira 03/01/2018Notas críticas sobre o livro de Roque LaraiaAntropologia é um assunto a respeito do qual eu pouco pude ler até hoje mas cujas discussões sempre me interessaram. Particularmente, sou atraído pela possibilidade de repensar minhas ferramentas para entender o outro e de separar melhor aquilo que ele é daquilo que lhe atribuo, que é uma das promessas dessa ciência.
Foi assim que cheguei ao livro Cultura, um conceito antropológico, esperando ser instruído a respeito de um assunto o qual não domino, e no entanto fui negativamente surpreendido pela necessidade de confrontar a argumentação do autor em vários pontos, não simplesmente por discordar dela mas por considerá-la falha até mesmo quando concordava com suas conclusões. Laraia adota posições controversas como se fossem pacíficas e não toca questões metodológicas básicas da Antropologia, o que me causou um incômodo crescente com o livro e acabou motivando este texto.
Como se trata de uma obra antiga (e aparentemente bem referendada), creio que seja fácil encontrar boas resenhas na internet a respeito dela, então tecerei um texto baseado apenas nos meus incômodos, separando trechos exemplares em que eles aparecem e não fazendo nenhuma exposição mais detalhada do livro como um todo.
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“Procuramos, na medida do possível, utilizar exemplos referentes à nossa sociedade e às sociedades tribais que compartilham conosco um mesmo território. Isto não impede, contudo, a utilização de exemplos tomados emprestados de autores que trabalharam em outras partes do mundo. Tal procedimento é coerente, desde que o desenvolvimento do conceito de cultura é de extrema utilidade para a compreensão do paradoxo da enorme diversidade cultural da espécie humana” (p.7).
Meu primeiro incômodo com o livro de Roque Laraia surgiu nesse parágrafo acima (os itálicos são meus).
Eu entendo que criticar os erros gramaticais de um autor como forma de rebaixá-lo é apenas uma miudeza de espírito e que o “isto” no lugar de “isso” posto ali na segunda linha nada diz sobre Roque Laraia como pensador ou escritor, porém diz algo sobre a revisão do livro. Se apenas um “isto” em vez de “isso” passasse desapercebido eu nada diria nesse sentido, pois seria apenas uma pequena falha, no entanto, não só há erros assim em toda a obra como também aquele que vem logo na sequência explicita que não se trata apenas de uma falha isolada porém de uma falta de cuidado com essa edição. Trata-se da frase que se inicia com “Tal procedimento é coerente, desde que”. Pelo que sei da língua portuguesa, as palavrinhas “desde que” formam uma conjunção subordinativa, uma expressão invariável que serve para ligar uma frase a outra por meio de uma subordinação entre elas que, no caso dessa expressão em específico, é uma condição para a primeira frase fazer sentido (“a primeira frase fará sentido, desde que a segunda faça também”). Como consequência disso, a expressão não caberia aí porque o restante da frase não possui esse sentido de condição a ser cumprida. Tive que relê-la várias vezes para discernir se eu estava interpretando de forma errada ou se o trecho estava mesmo mal escrito, e concluí que o desenvolvimento do conceito de cultura — aliás, acho que ele quis dizer: “a compreensão do desenvolvimento do conceito de cultura” — e sua utilidade nada dizem sobre a coerência dos procedimentos que o autor emprega. O que imagino que o autor pretendia transmitir com o “desde que” era aquele significado que encontramos em expressões como “uma vez que”, “dado que” e outras que também são conjunções subordinativas mas que expressam justificativas (“a primeira frase faz sentido, posto que a segunda também faz”). Mas ainda que essa troca fosse feita, a frase continuaria terrível, pois aí o autor estaria dizendo que o procedimento de recorrer à exemplos de várias sociedades seria coerente porque o desenvolvimento do conceito de cultura é útil para explicar a diversidade cultural humana, o que não faz sentido algum, afinal, como utilidade implicaria em coerência?
Dessa forma, não se trata de um deslize bobo mas de todo um parágrafo que deveria ser reestruturado por não se sustentar nem no âmbito do pensamento nem no âmbito da linguagem. O livro apresenta outros problemas desse tipo os quais não convém listar mas que deveriam ter desaparecido já numa segunda edição, sendo imperdoáveis na vigésima sexta, que é a que tenho.
Meus maiores incômodos com a obra, todavia, estão no fato de que sua argumentação frequentemente depende de considerações filosóficas e falha tanto em se fundamentar como filosofia quanto em superar o âmbito filosófico e formular um método antropológico. Muito do que o autor afirma parece ter sido deduzido da empiria sem nenhum rigor, podendo ser questionado com facilidade, e várias de suas rejeições são frágeis e parecem uma tentativa de validar “cientificamente” suas opiniões, de maneira que muitas vezes me vi concordando com as teses do autor mas rejeitando inteiramente sua argumentação, ou mesmo pensando em explicações alternativas para suas interpretações mal fundamentadas.
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“Os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais” (p.17)
A questão é: como os antropólogos, convencidos, nos convencerão disso? Para defender que a genética não define a cultura é preciso separar onde começa a genética e onde começa a cultura, mostrando em que ponto a cultura é autônoma e se determina por si mesma e não pela genética, uma vez que sem essa diferenciação sempre poderemos questionar se as manifestações culturais são autônomas ou se são causada por algum componente genético.
Por exemplo: o cuidado da genitora com a prole é cultural ou a cultura é somente uma forma dos genes agirem e prosperarem?
Imaginemos a princípio que esse cuidado seja inteiramente cultural e que possamos comprovar tal tese a partir do exemplo daquelas tribos em que as genitoras assassinam bebês nascidos deficientes, pois ele demonstraria que tal amor existe em alguns lugares e em outros não, a depender de cada cultura.
Agora imaginemos o contrário, quer dizer, imaginemos que nossos genes busquem nos conduzir à prosperidade como espécie usando a diversidade como estratégia e que tanto as genitoras que cuidam de suas proles quanto as que as matam podem contribuir nesse sentido: as primeiras criam adultos que vão se reproduzir, o que nos favorece como espécie, enquanto as segundas impedem que suas tribos sejam atrapalhadas por proles deficientes, o que também nos favorece. Assim, as duas estão agindo de formas diferentes pelo mesmo impulso de garantir a prosperidade da espécie, ou seja, os dois comportamentos seriam salutares para a prosperidade genética apesar de serem contraditórios um com relação ao outro, a contradição é apenas a superfície de uma cadeia causal que começa na biologia.
Bem, como decidimos por uma interpretação ou por outra? De que modo saber se somos livres pela cultura ou se estamos apenas fabricando uma falsa liberdade cultural justamente por conta de fatores genéticos? Como saber se não pensamos que somos livres porque é bom — “em termos genéticos” — que pensemos que somos livres? Ora, não é por meio da pilha de exemplos que o autor levanta para fazer com que sejamos persuadidos de seu ponto de vista, já que os exemplos podem ser explicados tanto dentro de uma hipótese quanto de outra. Embora eles importem na discussão do determinismo geográfico (que circunscreve uma região específica e portanto valoriza cada exemplo), na discussão “genética versus cultura” eles são insuficientes para resolver o debate ainda que se multipliquem infinitamente.
É claro que podemos ser convencidos de que a cultura é autônoma e eu também sinto que a homogeneidade genética parece algo mais “progressista” ou “moralmente boa” que quaisquer discriminações genéticas, contudo, na ciência não devem importar minhas preferências; apenas aquilo que se comprova. Laraia defende que a causa da diversidade cultural é a diversidade cultural, uma circularidade esquisita da qual me surpreende que ele não tenha se dado conta ou ao menos lidado durante o livro. Até pode ser que ele esteja correto, mas com quais razões?
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“Locke (…) ensaiou os primeiros passos do relativismo cultural ao afirmar que os homens tem princípios práticos opostos” (p.26)
Ao fazer uma breve história do conceito de cultura, Laraia descreve Locke por meio de um vício que é bastante comum mas cujo nome — se existe — desconheço: partindo da pressuposição de que certos pontos de vistas representam a verdade, ele descreve o passado a partir da aproximação gradativa de tais pontos de vista. Assim, Locke é descrito como uma espécie de degrau no caminho da verdade por “antever” o relativismo cultural, dando os “primeiros passos” nesse tema antropológico e tendo o mérito de ser uma espécie de pré antropólogo.
Confesso esse anacronismo me desorienta e que tenho dificuldade de desfazê-lo, porém, formulando uma resposta bastante generalista, digamos que conquanto a palavra cultura seja uma invenção recente na História, esse tema da “diversidade dos costumes” ou da “diversidade dos homens” é um tantinho mais antigo que Locke ou mesmo que a Antropologia, uma ciência tardia. Mesmo ali na modernidade outros filósofos já manejavam habilmente o assunto e retiravam dele diversas consequências interessantes (como Hobbes, por exemplo), mas podemos porém ir bem longe nesse recuo histórico e citar filósofos antiguíssimos como os céticos, Platão, os sofistas ou até outros antes deles, na verdade, é difícil citar algum filósofo que trate de ética ou mesmo de “teoria do conhecimento” que não tenha desdobrado esse assunto de alguma maneira, pois esse é um tema muito tradicional cujos antecedentes e implicações Laraia parece desconhecer.
Que digam que estou implicando com um autor que não é filósofo e lhes direi de volta que estão baixando o rigor acadêmico para comportar erros.
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“Cultura é este todo complexo que inclui que conhecimento, crenças, artes, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (p.25)
Laraia apresenta várias definições de cultura ao longo do texto, formuladas por diferentes antropólogos, entretanto não lhe parece que essa multiplicidade seja problemática. Ele até descreve o surgimento de sucessivos conceitos de cultura como uma espécie de alargamento do conceito (p.27-28).
A inferência a qual o autor não faz mas que me ocorreu imediatamente é que, se a Antropologia estuda a cultura e o conceito de cultura está em disputa dentro dessa ciência, segue-se disso que ou existem vários objetos que podemos nomear cultura e deveria existir uma Antropologia para cada um deles, ou então que quando dois antropólogos usam o termo cultura eles podem estar tratando de coisas completamente diferentes, logo, não seria possível dizer que eles estejam fazendo a mesma ciência porque estão estudando objetos distintos, tampouco que eles estejam fazendo ciência (qualquer uma), pois a ciência depende de uma comunidade envolvida na pesquisa de um mesmo objeto e esse objeto variaria de um antropólogo para o outro.
O autor não chega a abordar esse problema e sinceramente tenho dúvidas se o nota; Laraia nunca parece indicar que os conceitos que utilizam sejam controversos e, no máximo, parece suspeitar que eles sejam insuficientes para expressar um objeto que, aliás, ele tem certeza que existe: a cultura. No seu entender, cultura é um objeto que “está no mundo” e existe a despeito da perspectiva do observador, cabendo ao antropólogo abarcar esse objeto da melhor maneira possível. Aquela dúvida óbvia para os estudantes de humanas de questionar se afinal cultura existe mesmo ou é apenas um recorte linguístico e mental do mundo sequer é aventada pelo autor, e não noto nenhum motivo para tanto exceto ele não perceber esse problema, já que se trata de um dos questionamentos mais básico que se pode fazer quanto a essa ciência — o conceito de cultura é cultural? Ele possui o mesmo poder explicativo que qualquer outro de qualquer língua já que, no fim das contas, “tudo é cultura”? Se for, então como é possível fazer ciência por meio de um conceito que não tem nenhum privilégio explicativo sobre os demais? Se não for, por que explicar as coisas por esse conceito e não por qualquer outro?
Francamente, eu esperava que essas questões fossem rapidamente respondidas na obra para que o autor passasse a explicar como a Antropologia funciona, entretanto, o problema surgiu e foi mantido enquanto se atrelava a outros, gerando uma cadeia de incômodos que avançava paralelamente à argumentação do texto. Ao fim da obra, a compreensão da Antropologia e seu método acabaram ficando encardidas para mim e terminei a obra em dúvida se essa ciência era assim tão fraca quanto o autor expunha, se era o livro que era ruim, se interpretei tudo errado, se o autor era medíocre ou o quê… Não sei mesmo o que pensar.
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“[Cultura é] todo o comportamento aprendido, tudo o que independe de uma transmissão genética” (p.27)
Podemos inventar conceitos meio que livremente, porém somente alguns deles exprimem a realidade. Ao dizer “fogo” estou usando um conceito que nada queima ou aquece porém que indica um “fogo real” que queima e aquece, mas quando digo algo como “deus” ou “índio” estou indicando o quê? Por mais que concordemos que o fogo existe para além de seu conceito, o mesmo é controverso quando aplicado a outros casos: deus talvez esteja apenas na imaginação das pessoas e índio é meramente uma palavra preconceituosa para designar diversos povos que tem mais em comum diferenças que semelhanças, talvez não correspondendo realmente a nenhum povo específico. A consequência disso é que por mais que as razões variem caso a caso, conceitos podem muito bem não exprimir nada de real, não passando de entes linguísticos e imaginativos, ademais, se uma definição que opere apenas no âmbito do pensamento pode ser controversa, uma definição que tente exprimir uma realidade será ainda mais, pois além de precisar se justificar como pensamento ela precisará se justificar como expressão da realidade.
Dada essa questão, vários dos incômodos que tive com o livro ocorreram porque o autor não lida bem com ela.
Como exemplo disso, ele interpreta que a definição de cultura posta acima exprimiria uma separação real entre o cultural e o biológico, entretanto, quando buscamos suas justificativas percebemos que elas não existem.
Ora, não há dúvidas de que é possível criar uma separação conceitual entre o cultural e o biológico, contudo, como podemos justificar que essa separação seja real? Tenho certeza que os cientistas, em particular aqueles da área médica, adorariam saber como os antropólogos fazem essa diferenciação, pois ela muito contribuiria para a ciência. Discernir quando um paciente está melhorando por placebo ou por conta de uma alteração química em seu corpo, por exemplo, por certo produziria um impacto estrondoso na área da saúde. Laraia parece considerar que a simples enunciação de um conceito garantiria sua correspondência com os fatos, não sendo necessário provar que uma distinção feita pela razão seja também uma distinção no real — o ser humano é assim porque é descrito assim.
Para que não restem dúvidas acerca do que estou a defender: podemos sim “tratar a cultura apenas como cultural” e a “biologia apenas como biológica”, podemos dividir o ser humano em cultural e biológico por critérios diversos porém sabendo que essa divisão é meramente didática, que ela existe para que consigamos separar nosso objeto em partes e entendê-lo com mais facilidade, mesmo que ele seja um todo que não pode ser separado sem ser descaracterizado. O que seria o ser humano sem biologia, afinal?
Podemos explicar nossos comportamentos apenas pela cultura e é o que fazemos com mais frequência, mas isso ocorre porque somente percebemos e entendemos a cultura; nós não enxergamos nos outros seres humanos seus antecedentes evolutivos, suas histórias genéticas e aquilo de seus comportamentos existe apenas em resposta a um estímulo ou necessidade puramente biológica. Por mais que estudemos as ciências naturais, inferências acerca da determinação biológica dos comportamentos ainda são muito rudimentares comparado aquelas de que somos capazes a partir de interpretações culturais, malgrado existam muitas pesquisas nesse sentido. Aliás, se fôssemos capaz de enxergar algo assim, isto é, se pudéssemos olhar as pessoas e ver seus corpos agindo e seu comportamentos reagindo em seguida, se pudéssemos ver as doenças e tendências de uma pessoa que perpassam sua genética há gerações, será que palavras como “cultura” ou “biologia” seriam adequadas para explicar a causa de seus comportamentos? Eu duvido.
“O homem (…) depende muito de seu equipamento biológico. Para se manter vivo, (…) ele tem que satisfazer um número determinado de funções vitais (…). Mas embora estas funções sejam comuns a toda humanidade, a maneira de satisfazê-la varia de uma cultura para a outra. Os seus comportamentos não são biologicamente determinados. A sua herança genética nada tem a ver com suas ações e pensamentos, pois todos os seus atos dependem inteiramente de um processo de aprendizado.” (p.38)
Laraia tem um problema engraçado com citações: ele cita passagens das obras de outros autores para referendar suas próprias teses, no entanto, essas passagens frequentemente contradizem o que ele pretende defender ou em nada lhe corroboram.
Infelizmente, alargaria demais este texto expor cada uma dessas teses, depois cada citação que a referenda e por fim comentar como as duas conflitam ou não se corroboram, mas é possível comentar de forma geral duas delas — que seguem mais ou menos um mesmo sentido — sem irmos longe demais.
A primeira é apresentada como endosso para a tese acima, de que todos os comportamentos humanos são aprendidos e não são determinados biologicamente. Para reforçar sua tese, Laraia cita O superorgânico numa passagem em que Alfred Kroeber diz que alguns poderes dos seres humanos vem da hereditariedade enquanto outros vem do aprendizado, nem sempre sendo claro quando se trata de um caso ou de outro (p.38). Nitidamente, não só o que Kroeber diz não reforça a tese de Laraia, pois entender que existem poderes com origens biológicas e culturais difere de defender que todo comportamento é cultural, como sua citação até comporta inferências contrárias à tese de Laraia, pois se os poderes humanos tem duas origens e elas podem ser confundidas, então pode ocorrer que até mesmo comportamentos que pareçam culturais sejam na verdade biológicos. É preciso ressaltar que não estou dizendo que Kroeber pense assim, mas que sua citação não impede essa interpretação e que elas são compatíveis, dizendo de outro modo, talvez aquilo que Laraia atribui a Kroeber seja mesmo verdadeiro, porém não dá para concluir isso a partir da citação e ela até faz duvidar se o brasileiro entendeu mesmo o estadunidense.
A segunda citação problemática está poucas páginas adiante, quando Laraia atribui a Kroeber a tese de que: “superando o orgânico, o homem de certa forma libertou-se da natureza” (p.41). O que Kroeber diz é que o ser humano usa a cultura para produzir aquilo que os outros animais criam pela evolução, ou seja, em vez de desenvolvermos garras para caçarmos, construímos armas com materiais de nosso ambiente, em vez de voarmos, inventamos o avião, entre outras coisas assim (p.41), todavia, em nenhum momento Kroeber afirma que esse poder seja uma superação do orgânico ou uma libertação quanto à natureza. E não seria incompatível com sua citação, por exemplo, interpretar que não há superação do orgânico porque as invenções da cultura dependem do orgânico para serem operadas, e que não há libertação quanto à natureza porque as invenções são produzidas dentro das leis da natureza; mesmo o artificial está dentro do natural. Nada na citação de Kroeber referenda a tese de Laraia, o que faz com que valha aqui o mesmo que valia no caso anterior: sua interpretação pode estar certa, no entanto suas afirmações não encontram respaldo nas palavras de Kroeber.
Creio que com um punhado de caridade hermenêutica poderíamos dizer que nesses dois casos (e em outros que não citei) as palavras de Laraia só não são muito precisas, mas que relevada essa imprecisão seria possível interpretá-las de maneira a fazer coincidir o que ele diz com o que Kroeber pensa. Acho possível agir assim, contudo, Cultura um conceito antropológico está repleto dessas imprecisões e outros problemas dessa sorte, então até quando criaríamos essas interpretações condescendentes? Se para salvarmos um livro daquilo que ele diz precisamos escrever outro, então esse livro não deve ser salvo, pois a imprecisão de suas palavras é apenas um sintoma de sua falta de rigor. Que as críticas sirvam para que novos autores teçam livros melhores.
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