Michely Looz 17/08/2017
As discussões sobre o direito de espaço da mulher se tornaram cada vez mais frequentes. Seja por meio de relatos, exemplos reais, acontecimentos do cotidiano, ou mesmo em fato históricos não tão recentes, o assédio moral, sexual e preconceito de gênero caminha com as mulheres desde os primórdios da vida em sociedade. O debate sobre a participação da mulher na sociedade ocorre a cada dia, em cada luta. Há muitas discussões e pontos de vista sobre a participação da mulher nas discussões que envolvem a participação popular.
Nada disto é em vão e surge das diversas formas de exclusão que nós sofremos ao tentar garantir espaço, voz, direito a opinião, direto a igualdade em qualquer questão. Mas os pequenos avanços, conquistas cotidianas adquiridas por meio de muita luta, sangram com os acontecimentos que presenciamos ou lemos nos jornais diários.
Mukhtar Mai é um exemplo. Moça de origem paquistanesa, Mukhtar relata o seu sofrimento ao defender a família. O que era para ser apenas um pedido de desculpas em2-3 público, na tentativa de absolver uma possível culpa do irmão mais novo, se transformou em um estupro coletivo de homens impiedosos de uma casta superior de sua tribo. Desonrada narra o depoimento de uma jovem que lutou até o fim, mesmo com escassas esperanças, por justiça e punição dos que a violaram. Mais que isso, batalhou pela visibilidade de uma situação que ocorre diariamente em seu país, a punição por crimes de honra.
É de mais mulheres como Mukhtar Mai que o mundo necessita. De depoimentos que enfurecem e encorajam, que dão voz à indignação e que fazem homens e mulheres de bem lutarem por uma sociedade mais justa e igualitária. Densonrada é um livro tão forte que é possível sangrar e sofrer junto a Mukhtar, e seu relato de dor faz de nós seres humanos ainda mais tocados pelo caminho que as mulheres trilham todos os dias.
A leitura é rápida e o livro possui apenas 156 páginas. No entanto, a dor do relato contagia quem o lê de modo que se faz necessária uma reflexão entre os capítulos. Um livro forte, com sentimentos, situações e questões reais, que toca, enfurece e magoa. Um livro que merece ser lido e sentido com o coração. O relato de Mukhtar Mai foi recolhido pela jornalista francesa Marie-Thérèse Cuny, especializada em direitos da mulher.
Citações
“Se aquela gente toda queria saber o que havia acontecido, era porque eu simbolizava na minha região a revolta de todas as outras mulheres violentadas. Pela primeira vez, uma mulher se tornava um símbolo.” P.48
“Eu nasci neste país, estou sujeita a suas leis, e sei perfeitamente que, como todas as outras mulheres, pertenço aos homens da minha família – como um objeto com o qual eles têm o direito de fazer o que quiserem. A submissão é a lei.” P.66
“Hoje minha vida tem um sentido. Essa escola tinha de ser criada, e eu continuarei a lutar por ela. Daqui a alguns anos, essas menininhas já terão suficientes ensinamentos escolares para enfrentar a vida de uma outra maneira, espero.” P.108
site: https://minhapipocaliteraria.wordpress.com/2017/01/18/desonrada-mukhtar-mai/