Resenhas - Lavoura Arcaica

Tamiris 20/04/2021

Primeiro fluxo de pensamento que consigo entender.

O livro tem uma narrativa poética, no início estranhei, mas logo fui me familiarizando e entrando na narrativa.

Conta à história de André que vai embora de casa e sua família pede para o filho mais velho Pedro trazê-lo de volta, traz muitos flasbacks de suas memórias com a família. O pai é tradicional, coloca ordem e imposições, sempre com seus sermões para a família. André vai embora de casa por um amor incestuoso que sente por sua irmã Ana e por discordar da forma do pai.

Na segunda parte quando retorna para casa ao invés de estabelecer a união (igual a parábola do filho pródigo que retorna ao lar, sua volta acaba trazendo a destruição de sua família).

Assim que retorna André tenta expor algumas ideias e opiniões para o pai. Lembrou-me um pouco pais e filhos de Turgueniev claro que são contextos totalmente diferentes, afrontar o pai e pessoas mais velhas ou expor opiniões na época seria espantoso. Na do Raduan já é visto com modos arcaicos.

Fala do pai ao ser confrontado “Aqueles que abrem demais os olhos acabam só por ficar com a própria cegueira” / “nenhuma sabedoria devassa há de contaminar os modos da família”.

Minha casa minhas regras, quando André retorna quer ser reconhecido pela família, mas também quer liberdade. O filho mais novo também não gosta dos modos do pai e quando seu irmão volta fica desapontado, pois sua fuga tinha lhe dado forças para fazer o mesmo, procurar a devassidão do mundo, conhecer os lugares obscuros.

Porém a história não termina com final feliz e sim muito triste.

Gostei muito da escrita, achei bonito e ao ler sentia conforme uma melodia. A história é triste uma família ser destruída e se perder por quem teria que estabelecer a união e ordem.

Cinara... 30/03/2021

... que o tempo sabe ser bom, e o tempo é largo, o tempo é grande, o tempo é generoso, o tempo é farto, é sempre abundante em suas entregas: amaina nossas aflições, dilui a tenção dos preocupados, suspende a dor aos torturados, traz a luz aos que vivem nas trevas, o ânimo aos indiferentes, o conforto aos ele lamentam, a alegria aos homens tristes, o consolo aos desamparados, o relaxamento aos que se contorcem, a serenidade aos inquietos, o repouso aos sem sossego, a paz aos intranquilos, a umidade às almas secas; satisfaz os apetites moderados, sacia a sede dos sedentos, a fome aos famintos..."

Lavoura arcaica é extremamente poético.
É filho pródigo, é incesto, é família, é tempo e é paciência!
Acredito não ser uma leitura que agradará a todos, mas pra quem gosta de Clarice Lispector super recomendo!

Adeneri 03/03/2021

LAVOURA ARCAICA
Radun Nassar
Falar dessa obra literária é um imenso desafio como leitora. Primeiramente porque fiquei apaixonada pela forma como a narrativa lírica em primeira pessoa foi organizada, pensada vinda do subconsciente da alma. E segundo por sua linguagem conseguir penetrar no âmago das coisas, do ser no caso o protagonista e da estrutura, a família rural. Uma leitura para ser lida e absorvida a conta gotas com certeza, dada sua arquitetura, que ora sem querer me peguei lendo recitadando-a , ora a lia pausada dada a capacidade humana desse escritor em conseguir transformar em versos líricos os sentimentos humanos mais viscerais.
Essa novela ou história contada sob o ponto de vista de André, filho do meio dentre 8 desta família é recheada de muito fluxo mental intenso e complexo, assim como os seus diálogos, fisgam o Leitor perspicaz no âmago. Tendo no filho pródigo o autor que desmascara as mazelas por sentir-se incompreendido na sua essência. Ora! Quem não quer ser compreendido? Quem não deseja ser aceito? Quem não deseja ser amado?
[...]dilate suas pupilas, esbugalhe os olhos, aperte a tua mão na minha e vamos[...]? dizia André ao seu irmão na tentativa frustrante de seduzi-lo as luxúrias da carne. E o que dizer dos capítulos que narram os afazeres da fazenda, que arte poética! E assim continua desanuviando a engrenagem de sua aparente estrutura familiar, entre descrever o lavouro suado do homem que planta e colhe e do homem que pensa, trabalha interessante suas impulsões, mas que também cede nas suas imperfeições. Somente algumas releituras para apreciar ainda mais essa obra de arte literária...?

Marcelo.Alencar 03/03/2021

Esplendido, trágico e poético!
Que obra prima da nossa literatura! Todos devem ler!

?Rico não é o homem que coleciona e se pesa no amontoado de moedas, e nem aquele, devasso, que se estende, mãos e braços, em terras largas; rico é só o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra seu curso, não irritando a sua corrente, estando atento para seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber deles o favor e não sua ira; o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo e aquele que souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é.
Aquele que exorbita no uso do tempo, precipitando-se de modo afoito, cheio de pressa e ansiedade, não será jamais recompensado, pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas.?

Raduan Nassar - Lavoura arcaica.

Maurício 23/02/2021

Lavoura Arcaica
Leitura essencial. Uma recriação do "Filho Pródigo" ao avesso... Nos impõe uma reflexão transformadora.

Carolina.Gomes 02/02/2021

Uma leitura complexa
Nunca demorei tanto para ler um livro de apenas 200 páginas. Tive que fazer uma longa pausa entre a leitura da parte 1 e a parte 2 ( o retorno) porque senti dificuldade para me conectar com a narrativa.


A linguagem do autor e o uso excessivo de metáforas incompreensíveis não me agradou. O texto favorece a dispersão e, para mim, não ficou clara a intenção do autor.

Seria uma abordagem política: o embate entre Andre e seu pai simbolizaria o oprimido e o opressor? Seria uma crítica ao patriarcado?

Andre, o filho tresmalhado, teria abandonado a família por se sentir oprimido pelo pai ou simplesmente porque estava atormentado pela culpa advinda da relação incestuosa com a irmã?

Ao longo da narrativa fiquei com a sensação de que o personagem é um tipo problemático, com a mente bastante conturbada. A maneira como ele despeja suas emoções sobre o irmão encarregado de trazê-lo de volta ao lar, foi bem cansativa. Em alguns momentos eu pensei: Deu! Vou abandonar vc. Mas, como um clássico tem sempre algo a nos dizer, insisti.

Concluída a leitura, percebo, sem qualquer frustração, que não entendi a mensagem.

Em que pese o domínio do vernáculo e o lirismo da escrita do autor, essa está longe de ser uma leitura interessante.

Talvez daqui a algum tempo esse livro ressoe para mim, mas nesse momento, tenho que reconhecer que não gostei mesmo.

Aline.afr 30/01/2021

Chocante
Estava na minha lista há alguns anos e, apesar de já ter tido spoiler do final, valeu muito a pena ler. A forma de escrever do autor exige muito da gente. Ao longo da leitura fui pensando que não bastava ler, era preciso envolvimento, algo como ?sentir?, até porque os parágrafos não dão pausa, você é arrastado e quando vê está dentro da cabeça de alguém.
Poético, cru, visceral, chocante.

Matheus 27/01/2021

Há alguns poucos anos, em uma aula de literatura no colégio, meu professor contou brevemente sobre Raduan Nassar e sua obra. Como tarefa, pediu que assistíssemos à adaptação cinematográfica. Lembro de ter gostado bastante do filme, mas hoje mal me lembro das cenas.

O fato é que a vontade de ler esse livro tão bem elogiado por um professor que tanto gostava sempre esteve comigo e finalmente decidi fazê-lo. Eu não poderia estar mais feliz com uma decisão!

O livro me prendeu desde a primeira página, com uma escrita e tanta poesia que poucas vezes vi em algum texto (não que eu seja um grande especialista). Cada palavra parece ter sido escolhida a dedo e cada uma parece ser bordada a outra, tecendo uma obra de qualidade inigualável.

A intensidade dos sentimentos de André me atingiram de uma forma inesperada e até mesmo os aspectos grotescos do livro se tornam belos com a carga emocional e habilidade do autor.

Com certeza é um dos meus livros favoritos e uma afirmação do talento de nossos escritores brasileiros.

LER ETERNO PRAZER 26/01/2021

Obs. PODE HAVER PEQUENOS SPOILERS EM ALGUNS TRECHOS DA RESENHA.

Lavou Arcaica - Raduan Nassar.
Poxa, que livro a hein!!
Poucas páginas mas um conteúdo imenso.
Raduan Nassar, nasceu em 1935 em Pindorama, São Paulo, descendente de libaneses estreiou na literatura em 1975. Com apenas 3 livros publicados é considerado pela crítica como um grande escritor e comparado a nomes consagrados da literatura brasileira, como Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Tudo isso graças à extraordinária qualidade de sua linguagem e força poética da sua prosa.
Lavoura Arcaica é seu livro de estreia e já no ano seguinte recebe o prêmio Coelho Neto para romance dado pela Academia Brasileira de letras.Em Lavoura arcaica podemos sentir toda a força da escrita de Raduan, um enredo onde a prosa se confundi com poesia, onde a força das metáforas faz o leitor busca na âmago de cada palavras tudo aquilo que ele nos passa.
Aqui nos vamos acompanhar praticamente as reflexões e lembrancas do nosso protagnista/narrador André.
André, um jovem que vivia no interior, em uma região rural, mais precisamente na fazenda de sua família, com seus pais e mais seis irmãos, Pedro, Rosa, Zuleika, Huda, Ana e Lula. André decide mudar-se para outra cidade, a fim de se distanciar de sua família e tudo o que ela representava. Nosso enredo tem início com André, sozinho em um quarto de pensão, quando recebe a visita do irmão Pedro, que lhe revela a intenção de levá-lo de volta para casa. Ao receber o irmão e iniciarem uma longa conversa, André é tomado por diversas recordações de sua vida na lavoura e da fazenda dos pais, além da convivência com a família: recorda-se dos sermões de seu pai e de sua severidade; da própria infância; Iohána, que preza pelo equilíbrio no lar, e do avô, que, apesar de morto, era uma figura sempre presente. Diante de todas essas lembranças e flashbacks é revelado ao leitor a realidade perturbadora vivida na casa da família: o autoritarismo do pai, Iohána, que preza pelo equilíbrio no lar, além da sua rigidez moral que sufoca a todos; a tensão de André por não se sentir parte integrante da família, devido à sua inadequação aos padrões impostos pelo pai e ao amor incestuoso do protagonista por sua irmã Ana.
Por fim, Pedro acaba convencendo André a voltar para casa, onde é recebido com grande alegria e com um alvoroço contido por parte do chefe da família. O seu retorno é comparado à parábola bíblica do filho pródigo e, apesar da felicidade de todos, os desentendimentos de André com Iohána (o pai) ainda permanecem.
Nos capítulos finais, na celebração festiva do retorno do filho que partira, o patriarca da família descobre o amor incestuoso entre os irmãos, Ana e André, e desfere um golpe mortal na direção da moça enquanto ela dançava, arruinando, assim, a própria família.
Lavou Arcaica é um excelente obra, cheia de reflexões, não vou negar que em alguns momentos se torna uma leitura difícil, um pouco complexa, que precisa ser lido com bastante atenção. Como disse um comheiro de um grupo literio, Lavoura Arcaica não é leitura de entretenimento é leitura pura, profunda, posso dizer que é uma obra para todos os leitores mas que nem todos os leitores e para ele!

Vic Moro 15/01/2021

Inovador!!
Nossa, quando li esse livro pela primeira vez fiquei em choque, e êxtase total!
Mutio diferente, mas, de uma forma estranha rsrs, conseguiu me prender do início ao fim.
Não, não é um livro pra qualquer um. Quem está acostumando a uma leitura linear e padronizada não vai gostar desse livro, nem vai compreendê-lo.
Mas, para aqueles que estão abertos ao novo e, até, revolucionário, embarque nessa leitura sem medo! Abrirá a sua mente para ideias e analogias que você nunca pensou em fazer!!
Pena que o Raduan Nassar tenha escrito tão pouco, porque ele entra fácil na minha lista de autores geniais!
Recomendo muitoo!!

Lucas.Sampaio 20/12/2020

Imundice patriarcal
Um livro desafiador, e que certamente me tirou da minha zona de conforto: Lavoura Arcaica, do Raduan Nassar, um de seus poucos "filhos", já que sua obra (infelizmente) é curta, foi escrito em meio a repressão da ditadura militar, nos obscuros anos 70, mais propriamente em 1975; conta a história de André, espécie torta de filho pródigo, que foge de casa, da dureza de uma família patriarcal com regras rígidas e que é capaz de criar hipocrisias e violências múltiplas.
Em um fluxo de consciência constante e narrado em primeira pessoa, vemos a história desse filho, que mantém uma relação incestuosa com a irmã, em um texto intrincado que mostra toda a falha da dureza patriarcal, da família que prega os bons costumes, mas que derrama suas sementes de sabedorias em um chão encharcado de imundices.
Uma história dura, trágica e necessária ainda hoje.
Que deixa claro que a esterqueira do patriarcado caí duramente em cima das figuras femininas, que são silenciadas e apagadas mesmo quando tentam ser protagonistas da própria história.
Em uma sociedade em que o filho pródigo tem espaço, mas que uma filha não terá as mesmas chances.

kiki.marino 10/12/2020

Lavoura Arcaica
O estilo de escrita  é  interessante, de invocar através de uma linguagem poética,cheias de metáforas a forma de viver ,pensar tão tradicional  e religiosa  de sociedades agrícolas de Um tempo  distante, da Bíblia. Onde a terra,seu tempo de plantar e colher, era simplesmente a vida, a sobrevivência.
Em certo trecho do livro onde ele fala da "amada" e do amor de forma erótica me lembrou os poemas  de Cânticos de Salomão na Bíblia, assim como há outras referências bíblicas como "O filho  prodigo".

Embora tenha achado excessivo e sem naturalidade. Algo claríssimo,nada complexo, história de amor proibido e filicidio, suavizada e floreada  para o leitor com  uma enxurrada de palavras e frases.
A primeira parte não tem trama e sim estruturas, onde André narra tempos,memórias cortadas ... a segunda  O Retorno é mais tradicional  com um desfecho trágico.

Foi uma leitura agradável ,porém, não me encantou .Irei assistir a adaptação pro cinema

Mada 28/11/2020

A Língua Portuguesa é um troço lindo, né?
Me lembro de uma história contada pela Adélia Prado: um senhor, caseiro de uma fazenda, ao ouvir um dos poemas dela diz: "Superior isso aí!".
E é só isso que consigo pensar ao final dessa leitura... Superior isso aí.
É difícil? É difícil. Mas só no início, questão de entrar na fluxo e logo se ver embriagado pela força dessa linguagem, e é então que a gente percebe que essa história não poderia ser contada de outra maneira. A linguagem dá forma e ritmo, dá ação e emoção ao texto e ao gesto (sim, ao gesto, porque esse texto é quase corpo, é quase físico).
Como todo reconto, traz um caráter sacro e herético ao mesmo tempo - o que muito me agrada.
Como atriz, posso afirmar que o Pai, André e Ana são o sonho de interpretação para qualquer ator de teatro. Eles sangram no papel, entende? Eu sinto o suor deles em cada linha que leio. Isso é demais poderoso e é prato cheio para um bom ator.

Maria Siegloch 28/11/2020

Razoável
Não gostei da forma com que o livro foi escrito, pois as excessivas descrições tornaram a leitura massante. Sinto como se o livro pudesse ter sido bem mais curto e/ou objetivo. Algumas partes, por conta do modo como foram escritas, tiveram uma difícil interpretação. A história em si não é tão ruim.

Rute.Lessa 09/11/2020

Uma resenha atrasada sobre um dos meus livros favoritos
Lavoura Arcaica aborda o relacionamento incestuoso de dois irmãos, André e Ana, e da tradição patriarcal que está presente em toda a narrativa da obra, ambas problemáticas causais da tragédia que acerca o final da narrativa.

Enquanto um romance de linguagem peculiar e complexa de uma prosa poética capaz de mexer com o psicológico, traz também uma linguagem de resistência, que critica e subverte a configuração do discurso autoritário.

Faz intertexto com vários textos antigos, como a Bíblia e o Corão, Nassar usa de um tempo contemporâneo para retratar sobre as tradições de uma família árabe-libanesa.

Uma tragédia moderna baseada em pressupostos ancestrais. Não deixando de lado a linguagem que a compõe, períodos inteiros que formam um único capítulo, talvez dessa forma se entenda melhor as angústias passionais do narrador diante da vida que leva. Além de capítulos que contam de toda uma tradição de forma totalmente poética.

Um dos meus favoritos de Literatura Brasileira.