Beatriz 18/02/2022
Uma obra política e sócio-histórica que vale a pena ser lida
Comecei esse livro pensando que leria sobre o típico protagonista campestre e ingênuo que é corrompido pela alta sociedade parisiense. Contudo, Julian Sorel não se deixa corromper pela aristocracia, muito pelo contrário, desde o início fica evidente seu desgosto pelas sociedades dominantes. Filho de um marceneiro em uma cidadezinha pastoral, Julian tem sua chance de crescer ao virar preceptor de latim dos filhos do prefeito local. Sendo a instituição religiosa o único meio de ascender e enriquecer, o protagonista não mede esforços ao utilizar seus estudos no clero em benefício próprio, não demora para Julian usar seus talentos para conseguir a admiração e o respeito das pessoas ao redor. Crescendo dentro da alta sociedade, o protagonista se envolve em casos amorosos secretos: sua relação com a Sra. Rênal é quase maternal, há um sentimento de cuidado e proteção entre ele e a esposa do prefeito. Já sua relação com Mathilde de La Mole é mais complexa, a filha mimada do marquês de La Mole encontra em Julian a aventura que pode tirá-la do tédio, mas a relação de amor e ódio entre os dois acarreta sérias consequências. Apesar de ser o protagonista, Julian é muito inconsistente, o leitor fica surpreso com as suas artimanhas movidas pela ambição. Já as duas mulheres de sua vida são mais concretas, há um certo contraste entre a delica e ingênua Sra. Rênal com a ardilosa e mimada Mathilde de La Mole, mas ambas tem algo em comum: o tédio se faz muito presente em suas vidas, que são movidas por relações de convenção. O livro traz uma leitura densa no início, mas logo somos tão envolvidos pela sociedade francesa a ponto de ficarmos realmente interessados pelo destino de Julian (principalmente no final do livro). O autor coloca muitos elementos históricos em sua obra, por isso, aconselho que pesquisem um pouco sobre a era pós-napoleônica e a época da restauração francesa antes de começarem a leitura. Por ter participado da administração do governo de Napoleão, Stendhal colocou muito de seus pontos no protagonista, como a admiração pelo líder militar e o mal estar no mundo pós-napoleônico, o que torna a leitura ainda mais interessante. Por fim, fazendo jus ao título do livro, Julian veste seu traje negro da religião como disfarce, utilizando ensinamentos do clero para ascender socialmente, mas por dentro o protagonista veste o traje vermelho de soldado, sempre em uma luta interna contra a classe dominante.