Cris Gurski 16/05/2022
Distopia sendo distopia. :)
Fahrenheit 451 constitui um dos clássicos da ficção científica, apresentando muitos elementos comuns a outras histórias distópicas, tais como, um poder dictatorial sem face (ou ainda, com muitas faces).
Isso nos remete ao segundo elemento, os personagens ditos normais, que não apenas se adequam, mas defendem o sistema a todo custo, versus os anormais, os outsiders, os rebeldes, que não se conformam com tal realidade e pagam um preço por isso.
Dentre os anormais, somos apresentados a jovem Clarisse, que faz com que Montag passe a questionar sua vida e seu trabalho, essencial por sinal, à manutenção do sistema opressor. A exemplo de outras distopias, tais como Metropolis (de Thea Von Harbou que inspirou o filme de Fritz Lang), Alphaville de Jean-Luc Godard, e mesmo V de Vingança, parece sempre existir uma mulher pela qual o personagem principal não apenas nutre sentimentos de desejo, mas ainda de curiosidade, respeito e mesmo, amor (?) Tais personagens costumam ter um papel mais ou menos importante no desenvolvimento da historia (infelizmente, muitas vezes constituem a única personagem feminina relevante) e, em Fahrenheit 451, Clarisse tem uma participação muito breve, ainda que essencial (de certa forma, sua ausência abrupta me pareceu mais estranha na Graphic Novel), instigando ideias e levando Montag a fazer o improvável: ler os livros que ele deveria queimar. E chegamos a outro elemento imprescindível, comum as distopias? a ameaça que os livros (e as artes em geral) representam para os sistemas dictatoriais.
De modo geral, a adaptação funciona muito bem. Gostei bastante da arte de Tim Hamilton, e a introdução de Ray Bradbury foi uma surpresa agradável. Interessante saber como a ideia do livro surgiu e se desenvolveu, resultando na obra que conhecemos.