Leila de Carvalho e Gonçalves 17/07/2018
Ousadia E Criatividade
Luiz Alfredo Garcia-Roza, filósofo e psiquiatra, só estreou na literatura de ficção em 1996, aos sessenta anos de idade. Seu livro, o policial "O Silêncio da Chuva", foi muito bem recebido, inclusive, sendo agraciado com o prestigiado Prêmio Jabuti.
Nele, o leitor é apresentado ao investigador Espinosa, uma personagem tão interessante quanto Holmes ou Poirot. Contudo, ao contrário da dupla que não possui vínculos com a polícia, ele faz parte dela, apesar de não tê-la em alta conta. Amante dos livros e de conduta ilibada, sugestivamente foi batizado com o mesmo nome de um filósofo judeu, anatematizado por diferenças ideológicas com seus pares.
A trama aborda o suicídio de um proeminente executivo carioca que por mero acaso, passa a ser
apurada como um misterioso assassinato. Esse fato fato é revelado ao leitor nas primeiras páginas, colocando-o a frente das investigações e deixando claro que essa é uma obra que foge das mesmices do gênero.
Primando pela ousadia e criatividade, a narrativa não está voltada para o crime como fato principal e isolado, mas também para as personagens, impecavelmente construídas e contrariando clichês. Outro ponto interessante, são os livros citados cujo conhecimento redimensiona a leitura. São eles: "Bartleby, O Escriturário" de Herman Melville, "Do Assassinato Como Uma Das Belas Artes" de Thomas de Quincey e "Nicholas Nickleby" de Charles Dickens.
Com uma primeira parte um pouco cansativa, o restante do livro redime o autor, capturando por completo o interesse, entretanto, cabe observar que algumas situações parecem pouco plausíveis, assim como Garcia-Roza propositadamente deixa pontos obscuros na trama, o que pode desagradar alguns leitores.
Com um final polêmico, "a la Bartleby", que me surpreendeu, recomendo.