Stella.Castilhos 11/04/2024
?SANGUE DE PORCO PARA AQUELA PORCA?
Bem, este é o terceiro livro do Stephen King que eu leio (sem contar os contos) e mais uma vez me vejo encantada com a escrita, a criatividade e os elementos característicos utilizados pelo autor. Até onde posso ver, o King tem uma enorme facilidade de escrever livros complexos, descritivos - porém objetivos -, que instigam nossa curiosidade e nos apresentam universos sobrenaturais cheios de substância da natureza humana. São livros de fantasia que sempre nos trazem reflexões sobre o mundo real.
A história de Carietta White, ?Carrie?, é contada, nesta edição, em 183 páginas. Do início, meio ao fim, pude observar críticas essenciais que todos deveríamos experimentar observar.
Falar sobre o enredo me soa até mesmo patético, tendo em vista que existem diversas adaptações cinematográficas do livro; mas não me soa patético analisar quem era Carrie, o que estava a sua volta e o que todo esse combo pode ensinar.
Carrie é uma personagem sobrenatural - telecinética -, criada por uma mãe vendada por uma religiosidade extrema e sem sentido, que, sabendo dos poderes daquele ?ser maligno? que saiu de seu ventre, a vê e trata como amaldiçoada. Carrie é uma personagem sobrenatural, mas é, acima de tudo, uma adolescente normal, vista por todos como aberração - até mesmo por aqueles que não fazem ideia de seu poder, como os adolescentes que convivem com ela na escola. Aberração dentro e fora de casa, tudo que Carrie quer ser é? normal. Viver uma vida normal, ir ao baile da escola, ser vista e tratada como gente.
Sua telecinese primeiro se manifestou quando ainda era criança, mas chegou em seu clímax de desenvolvimento com o incidente do banho coletivo. Quando seu sangue escorreu pela primeira vez. A partir dali, vergar era prática: basta imaginar como é a coisa e facilmente Carrie poderia arrastá-la, entortá-la, quebrá-la? destruir.
O incidente do baile foi o estopim que destruiu o sonho de Carrie de ser? normal. Naquele momento, a ?maldição? era sua maior fortaleza.
?Rezava demorada e fervorosamente, às vezes em voz alta, às vezes baixinho. Seu coração martelava, respirava com dificuldade. As veias do rosto e pescoço estavam estufadas. Sua mente, repleta da vasta consciência de PODERES e de um ABISMO. (?) Orou, mas não obteve resposta. Não havia ninguém ? ou se havia, seja lá quem fosse, estava recuando diante dela. Deus desviara dela Seu semblante; e por que não? Todo este horror era obra tão Dele quando dela.?
Achavam que estavam apenas zoando uma menina esquisita e que não se encaixava no padrão estético e social, mas mexiam, em verdade, com uma força sem tamanho. Uma heroína, em minha opinião, Carrie se vingou de toda desumanidade que lhe foi oferecida durante toda sua existência. Se a chamavam de aberração, pois assim ela se fez. Não por falta de empatia, mas por falta de humanidade e compaixão para com ela mesma.
?Por Carrie, sim, por ela eu sinto muito, e tenho pena. Vocês sabem, ela foi esquecida. Transformaram-na numa espécie de símbolo esqueceram que ela era um ser humano tão real quanto você que está lendo estas linhas, com esperanças e sonhos e todo aquele blá, blá, blá. Não adianta nada dizer isto agora, creio eu. Nada poderá modificar a pessoa em que a imprensa a transformou. Mas ela era, sim, e como doía. Doía mais do que qualquer um de nós talvez possa ter imaginado.
Por ela eu sinto, e espero que a festa tenha sido boa para ela. Boa, formidável, encantadora, até que o terror começou?? - Sue Snell
E não há muito o que dizer. Só queria que Carrie fosse real e extinguisse de toda sociedade - real - qualquer ato ou ser desumano. Talvez com um pouco mais de calma e controle, mas? bem, não se pode pedir muita calma e controle de uma adolescente no auge de sua puberdade e que viveu como Carrie.
?Começou a rir. Era uma gargalhada de demente, vitoriosa, perdida, aterrorizada.?