Eder 08/10/2013
Carrie, A Estranha - Stephen King
Sempre tive curiosidade de ler a novela que consagrou Stephen King, Carrie, a Estranha. Afinal, há toda uma lenda em torno desta. Diz-se que King terminou de escrever, mas não gostou e acabou jogando no lixo. Sua esposa encontrou o manuscrito, leu, gostou e fez com que King levasse aos editores [lendo On Writing, recentemente, fiquei sabendo que isso realmente aconteceu, mas ele apenas houvera iniciado a história e não concluído, como eu escrevi. King transcorre sobre, no capítulo 28.]. O livro se tornou o primeiro grande sucesso do autor.
O livro é dividido em três partes. A primeira, Brincando com Sangue, apresenta a personagem título, mostrando fatos sinistros sobre a sua criação, e como ela era tratada pelos colegas de sua escola. Narra também o atormentador caso no vestiário do ginásio, ponto de partida dos eventos que se sucederiam. Ao fim da primeira, já é possível prever boa parte do que vai acontecer. A segunda, Noite do Baile, narra os eventos da véspera do baile de formatura, o baile em si, e os posteriores acontecimentos a este. A terceira, Os Escombros, nada mais é do que trechos extraídos de cartas, reportagens e documentos, com alguns comentários a respeito de Carrie, e do fenômeno TC - telecinesia.
A narrativa em terceira pessoa é intercalada com trechos de supostas reportagens e livros acerca do tal ocorrido. Graças a isso, o livro se torna previsível, porém, isso não prejudica a qualidade da obra. Pelo contrário, funciona muito bem, já que dá um ar de verossimilhança à escrita. A principal temática do livro é o sentimento e a reação do ser humano diante da humilhação e das zombarias, seja de quem sofre com isso, como quem inflige. Carrie, a Estranha é um livro que traz adolescentes como principais vilões, e torna-se uma imitação da vida real, afinal, muitas pessoas jovens em sua maioria já se voltaram de maneira violenta e homicida contra os que lhe fizeram sofrer algum tipo de humilhação.
Mesmo sendo uma novela do início da carreira de King, Carrie, a Estranha, é um livro muito bom, e já traz uma das principais características do mestre: a perturbadora capacidade de descrever os sentimentos (incluindo os mais pecaminosos) humanos. Neste livro, Stephen King expõe, com muita precisão, os sentimentos de todo adolescente com problemas de socialização durante o colégio. Primeiro aquela vontade de ser como os demais, ser uma pessoa normal, ser aceito. Logo depois a percepção que nunca conseguirá ser como os outros. Os risos que ferem a alma como cacos de vidro, que tiram o sono. A desconfiança, que os transformam em espécies de animais acuados. Em seguida, vem o desprezo... E o ódio. A raiva que fervilha por dentro. A vontade de ter poderes para punir aqueles que se divertem às suas custas é inebriante. O anseio doentio de esmagar as pessoas que os humilharam, para vê-las sofrer, se tornando inevitável. Para quem enfrentou esses sentimentos em alguma fase da vida é impossível não se condoer por Carrie.
É lamentável saber que ainda hoje, o modo como Carrie era tratada por seus colegas e sua mãe é uma verdade para muitas pessoas. Mais triste ainda, é ter a certeza que muitas dessas pessoas gostariam de ter os poderes conferidos a Carrie no livro. Alguns inclusive buscaram esse poder em armas de fogo, o que inevitavelmente resultou em tragédias. Com isso, mesmo tendo sido publicado pela primeira vez em 1974, Carrie, a Estranha ainda é muito atual, e explica muita coisa acerca de recentes tragédias em escolas e universidades no mundo.
[editada em out/2013, após leitura do capítulo 28 de On Writing.]