anjú 12/05/2023
é doce morrer no mar
Esse foi o meu primeiro contato com uma obra do jorge amado e fui sem expectativas nenhuma. acontece que chegou em minhas mãos uma edição ilustrada de 2001 da editora record, com dedicatória e tudo para alguém que leu antes de mim e tantas outras também que devem ter lido até chegar a minha vez.
bom, a escrita já é um pouco diferente do que costumo ler e encontrei certa dificuldade de engatar na leitura mas não por estar achando a narrativa chata ou algo parecido, mas sim pela rotina do dia a dia e talvez um pouco pela estranheza do tema e de como o autor conduz a sua narrativa lírica e em prosa de uma maneira diferente, o que acabei por gostar bastante.
o tanto que consegui imergir dentro desse livro e construir um cenário sem nunca ter pisado na bahia foi incrível, você consegue sentir o cotidiano ali presente mesmo que o seja de um passado de um século de distância, as narrativas individuais construídas para alguns personagens (principalmente de algumas representações femininas) que se concentravam em torno da vida no cais e como a linha temporal foi montada perfeitamente, iniciando com uma lívia acuada, frágil e assustada pelo avassalador medo de perder o amor e no final quando ela perde se reconstrói em uma força potente, a imagem que fica em nossas mentes com a cena final é de abraçar todas as potências femininas que constroem e governam esse país, é sobre a misticidade arrebatadora e grandiosa que envolve a imagem de Iemanjá, isso pra mim foi a melhor parte do livro que já vale as 5 estrelas.
toda a admiração e angústia que sentimos pelos homens dos cais, mestre de saveiros, o tanto que a gente pede mentalmente entre a leitura daquelas linhas para que guma deixe essa vida mas como a narrativa sempre nos recorda a todo instante ?destino é coisa que não se muda? mas em contraposição o milagre de dona dulce é o que se clama até os dias de hoje, condições básicas, no mínimo, para uma classe que sofre tanto.
por fim, o grande personagem que dá título à obra, o mar, que está sempre presente no livro e na minha vida, ao que pessoalmente tenho um grande apego por ser de e morar em uma cidade do litoral, sou apaixonada, gosto principalmente de olhar o mar à noite e imaginar mil e umas narrativas históricas, do que acontecia pelas águas no passado, de imaginar o sentimento de cruzar os mares e oceanos.
?porque ninguém pode nascer ou morar no mar sem o amar como amante ou amigo. pode-se amar o oceano com amargura. pode esse amor ser medo ou ódio. mas é um amor que não se pode trair, que nunca se abandona. porque o mar é amigo, é doce amigo. e talvez seja o próprio mar a terra de aiocá que é a pátria?.