Marcelo Catanho
15/02/2016Uma descarada apologética cristãHá alguns pontos dentro da análise feita pelo autor sobre cada livro que, segundo ele, tem o potencial de "estragar" o mundo, gostei especialmente do primeiro capítulo, sobre O Príncipe, de Maquiavel, é um bom resumo da enganação propagada pelos homens públicos em busca de poder, e também sobre algo muito importante que ele levante: as ideias tem consequências; não podemos lançar ideias por aí, fomentar ações, inconsequentemente. Mas a maior parte pareceu-me ser de extravasar problemas pessoais do autor contra os modos de vida daqueles de quem ele atacava as ideias, e também um viés cristão muito presente, desnecessário e raso, tanto que acho que seria mais honesto se esse trabalho tivesse um subtítulo que deixasse logo exposto aos leitores que se trata de um comentário a partir de uma visão cristã, ou no mínimo expusesse isso num prefácio ou introdução, em vez de aparentar que ele falaria de ideias sem apelar para superstições. Há uma forte e evidente aversão contra qualquer tentativa de ver o mundo sem precisar se justificar arbitrando uma suposta vontade de alguma divindade, a essas filosofias que não clamam por um deus o autor parece querer colocar a culpa por todos os males do mundo ocidental e a responsabilidade por criar a "decadência" de nossa sociedade.
Ele simplesmente ignora a perversidade e crueldade muito maiores no ocidente quando o cristianismo o governava, ignora que países com menor grau de crença religiosa são mais pacíficos e desenvolvidos (não necessariamente por isso, mas é uma considerável evidência que a falta de crença em algo sobrenatural não leva ao mal) e a enorme violência e horrendos atos de barbaridade que permeia a maior parte do principal livro cristão, a Bíblia, muitas vezes ordenadas diretamente pelo personagem Deus, a quem ele indica como a única fonte de uma moralidade superior, e de quanto preconceito, estupidez, atraso, destruição e malignidade foram inspirados por esse livro e suas ideias. Acho que a edição deste livro pode sair como um tiro no pé para a Vide Editorial, não só pelas críticas serem fracas, até porque a maior parte, para ser aceita, necessita que o leitor tenha um mínimo de fé na divindade do pensamento cristão, mas também por dar mais munição a ideia de que o pensamento da "direita" é essencialmente ligado a fé religiosa.
Quanto a visão infantil e sem base do autor quanto ao suposto mal que ele credita ao ateísmo, só me veio a cabeça dois trechos de uma de minhas músicas favoritas, Cry for the Moon, do Epica, "Mentes doutrinadas frequentemente contém pensamentos doentios e cometem a maioria dos males contra os quais pregam. Não tente me convencer com mensagens de Deus, vocês nos acusam dos pecados cometidos por vocês mesmos. É fácil condenar sem se olhar no espelho, atrás dos bastidores é que está a realidade [...] Você não pode continuar se escondendo atrás de velhos contos de fadas e continuar lavando suas mãos em inocência".