Paula A. C. 26/01/2021
Uma escrita mais madura
Quem já leu algumas dezenas de livros de Agatha Christie, certamente se deparou no meio do caminho com romances sensacionalistas cheios de furos na trama. Desde que decidi retomar minhas leituras da autora, desta vez, seguindo a ordem de publicação de suas obras, minha experiência com os livros da autora mudou. Agora compreendo melhor as fases de sua escrita e consigo perceber em que momentos a autora atingiu sua maturidade literária.
Agatha já demonstrava sua genialidade em sua primeira década de produção. Mas, como todo autor que publica muito (muito mesmo!), alguns títulos apresentavam problemas seríssimos de construção. Pareciam feitos às pressas para dar conta de um prazo. Já na década de 1930, temos uma virada. A maioria dos livros da autora, publicados em sua segunda década de produção, parece-me, até agora, evidentemente superior aos da primeira. Isso acontece em Tragédia em Três Atos e novamente em Morte nas Nuvens.
Não digo, com isso, que as produções anteriores sejam irrelevantes. Muito pelo contrário, são bons livros que solidificaram o nome e a escrita da autora. No entanto, os dois últimos livros de Agatha que li, ambos citados acima, apresentam diferentes recursos narrativos, uso de discurso indireto-livre, além de um humor mordaz, crítico ao cenário literário, sobretudo aos autores de romances policiais sensacionalistas. Seria uma autocrítica a alguns de seus livros anteriores? A mim, pareceu que sim.
Se eu precisar definir Morte nas Nuvens em breves palavras, certamente serão: maturidade literária.
Observação: Não é a primeira vez que personagens expressam falas ou atitudes de cunho racista numa obra de Agatha sem qualquer crítica por parte do narrador, da autora ou de um editor. Compreendo a questão da época em que os livros foram escritos, mas a edição é do século XXI. Não custaria nada à editora acrescentar uma notinha contextualizando historicamente aquelas falas e declarando repúdio ao seu conteúdo. Editores não podem deixar essas lacunas. Não mesmo.