AndrAa58 02/12/2023
Ponto de vista de um judeu israelense pacifista
Amós Oz emprega uma abordagem única ao entrelaçar suas experiências pessoais com reflexões profundas sobre o fenômeno do fanatismo. Sua perspectiva como judeu israelense proporciona uma visão que eu nunca havia imaginado. Quando criança, ele foi um fanático do lado judeu no conflito Israel/Palestina, o que, segundo ele, o capacita a abordar o fanatismo com uma compreensão íntima de suas origens, motivações e, mais importante, oferece insights sobre como lidar com essa mentalidade radical.
Pequeno spoiler à frente: Uma das "curas" propostas por Oz envolve a literatura, e entre os antídotos estão o humor, o ceticismo e a argumentatividade.
Oz explora as raízes do fervor extremista, não apenas em contextos políticos e religiosos, mas também em níveis pessoais e sociais.
"O fanatismo é mais antigo que o Islã ou qualquer outra religião, sistema político, ideologia ou crença no mundo. O fanatismo é, infelizmente, uma parte onipresente da natureza humana."
"A essência do fanatismo reside no desejo de forçar outras pessoas a mudar."
"Acredito que a síndrome de nossa época é a luta universal entre fanáticos, todos os tipos de fanáticos, e o resto de nós. Entre aqueles que creem que seus fins justificam os meios, todos os meios, e o resto de nós que julga que a vida humana é um fim em si mesma."
Ao se curar do extremismo de sua infância, Oz avança para a militância pacifista, tornando-se politicamente ativo na busca pela paz. Ele acredita que a única forma possível é através do compromisso e da concessão de ambos os lados, referindo-se ao conflito como uma "disputa imobiliária".
"Não existe alternativa a uma solução de dois estados, Israel e a vizinha Palestina."
Alguns argumentos e posições do autor chamaram minha atenção:
- Tanto judeus quanto palestinos são vítimas da Europa. Os judeus foram perseguidos e expulsos, sem contar o Holocausto. Os palestinos tiveram sua terra conquistada, dividida e tomada. Na perspectiva do autor, nenhum dos dois povos tem outro lugar, e não há solução possível que não lide com a questão dos refugiados palestinos e a criação de dois estados.
- Não há como ser contaminado (o autor vê o fanatismo como um vírus com alta capacidade de transmissão) com o extremismo se mantivermos o senso de humor, conseguirmos ser críticos e céticos, inclusive com nossas próprias ideias e crenças; e sermos capazes de argumentar (o que pressupõe a capacidade de ouvir argumentos e ideias contrárias).
- Não há solução simples para problemas complexos. Se, um dia, acreditarmos que uma ideologia, doutrina, religião tem o jeito certo para corrigir problemas complexos, é A SOLUÇÃO... Cuidado, você pode estar a um passo de ser contaminado. Se ainda acreditar que você, sua ideia ou crença é a CERTA e todas as outras estão erradas, e se recusar a ouvir qualquer ideia contrária, você foi contaminado. Se ainda por cima dedicar toda a sua energia para impor o que pensa aos outros, não importando o que tenha que fazer para conseguir seu objetivo, infelizmente, você já é um extremista fanático.