maby 27/04/2022
Primeira leitura de um romance de cavalaria, uma resenha não tão crítica...
Após quase um mês da leitura finalizada, tenho aqui algumas considerações acerca do Romance de Tristão e Isolda (e anotações dado que esta leitura, decorreu de uma atividade). Percebi que há mais de uma versão deste romance, principalmente na questão do vinho.
A leitura em muitos momentos soou cômica, e friso aqui o fato do rei Marc, tio de Tristão, negar-se a ver os sentimentos que seu sobrinho sentia pela rainha, sua esposa, Isolda, a Loura (valei-me, quantas virgulas!) e, sempre perdoar. E me peguei concordando, em algumas situações, concordando com os traidores que tanto tentavam pegar Tristão no pulo, pela irrealidade dos fatos, por sobreviver a situações tão estranhas e que muitos não conseguiriam (enfim, o poder do protagonismo hahah). E mais uma vez, foi engraçado como o narrador nos fazia ter certa antipatia por esses quatro traidores, por sempre ter passagens onde "que Deus o maldiga", "que Deus o amaldiçoe" eram praguejadas.
Devo dizer que fiquei nervosa no momento que Isolda iria ser punida, por manter um relacionamento com Tristão. A passagem que o personagem Yvain (o enfermo que trazia cem 'leprosos') aparece é a que mais me perturbou, pela sugestão de entregar Isolda a todos aqueles homens:
“– Sire, dir-te-ei meu pensamento em breves palavras. Vê, tenho ali cem companheiros. Dá-nos Isolda, e que ela seja de todos nós! O mal atiça nossos desejos. Se a deres aos teus leprosos, nunca mulher alguma terá tido pior fim.”
O fato do rei Marc ainda aceitar essa sugestão até me pegou de surpresa, e senti por Isolda por preferir ser lançada ao fogo.
“O rei ouviu-o, levantou-se e ficou imóvel durante muito tempo. Por fim, correu até a rainha e pegou-lhe a mão. Ela gritou:
— Por piedade, sire, lança-me na fogueira, prefiro, lança-me na fogueira!”
O sentimento de amor que Tristão e Isolda sentiam um pelo outro, foi um pouco difícil para que eu aceitasse, dado que, para que toda essa confusão se desse, temos o vinho como culpado:
“— (...) os que a beberem juntos amar-se-ão com todos os seus sentidos e com todo o seu pensamento, para sempre, na vida e na morte.”
O vinho foi uma questão que pesou bastante, contudo, entendi seu papel como referência a um sentimento não imediato e vago, mas um amor que perdura por anos, ainda que a morte paire nessa relação (além, de uma desculpa para os atos que viriam a ser tomados por ambos). Essa questão é até tratada por Tristão, quando passava-se por louco:
“– É verdade, estou bêbado, e de uma bebida tal, que jamais esta bebedeira se dissipará. Rainha Isolda, não vos lembrais daquele dia tão belo, tão quente, em alto-mar? Estáveis com sede, não vos lembrais, filha de rei? Ambos bebemos no mesmo canjirão. Desde então, sempre estive bêbado, e de bebedeira ruim…”
O sentimento (efeito) proporcionado pela bebida compartilhada entre eles, não duraria apenas naquele momento, e sim, uma “bebedeira” que continuaria pelo resto de seus dias, estando ou não juntos.
Inclusive, o sentimento que sentiam pelo outro pode ser notado não apenas em seus encontros contínuos ou juras, mas pelo fato de adoecerem quando estavam longe um d'outro ("doentes de amor").
Achei interessante a comparação feita entre Isolda, a Loura, com o Sol, a partir do momento que sua presença era notada, o ambiente se iluminava por conta de sua beleza.
“Mas a estrada iluminou-se de repente, como se o sol de súbito irrompesse através das copas das grandes árvores, e Isolda, a Loura, apareceu.”
Senti por Isolda das Brancas Mãos, ainda que seu último ato tenha sido por um sentimento vingativo. O amor que sentia e que não poderia ser retribuído a correu...
Enfim, foi minha primeira leitura de um romance de cavalaria e foi uma experiência até interessante.