midnightrainz_ 11/12/2023
Cabeças explodindo a todo momento
Faz aproximadamente 3 dias que eu terminei esse livro e eu ainda não consigo montar uma linha de raciocínio clara e racional para poder falar sobre ele, mas vou tentar assim mesmo
nunca na minha vida um livro me fez refletir tanto quanto esse. cada palavra que eu lia eu sentia a minha mente se abrindo e um novo mundo sendo descoberto por mim. comecei a enxergar traços dessa história para tudo q eu olhava, e pensei em como é bizarro q um livro publicado 80 anos atrás consegue se manter ainda tão atual
ainda não atingimos o mesmo nível de indiferença (e consequentemente liberdade) de mersault, mas recebemos o mesmo tratamento de "estrangeiros". existe uma certa cartilha invisível de convivência social que precisamos seguir a risca e sem nos questionarmos para que não padeçamos no tribunal social. podemos observar isso no recente caso da família da ana benevides, mulher morta pela incompetência de uma empresa bilionária nos recentes shows da taylor swift no brasil, que foi severamente criticada por ter tirado uma foto com a artista favorita da moça na qual sorriam. não muito diferente do tratamento dado a mersault por não ter chorado no velório da mãe, como se alguém tivesse direito de ditar como alguém deve ou não viver o luto.
outra questão muito curiosa nesse livro é a invisibilidade da vítima da história: o árabe. para começo de conversa, ele nem sequer tem nome, um completo ninguém na sociedade. o próprio caso a princípio não chamara a atenção de ninguém, pq 1- a vítima não era importante e 2- a história era muito simples. contudo, toda aquela situação sofre uma virada de mesa brusca quando a acusação decide juntar o assassinato do árabe ao comportamento de mersault no velório da mãe, dando extrema ênfase a esse último. com isso, a pouca importância que o árabe tinha no caso se esvai completamente, as testemunhas estão todas ligadas a mãe de mersault, ninguém da família dele, ou alguém que o conhecia, até mesmo alguma testemunha ocular é chamada para depor. por que isso? por que o homem morto não importa. qm liga pra história de um qualquer morto a tiros numa praia quando vc tem esse psicopata que não chorou pela morte da mãe?
outro ponto que quero comentar é a respeito de salamano. ele é um vizinho de mersault e tem um cachorro o qual odeia (pelo menos, o trata como se odiasse) e vive maltratando, gritando. o animal vivia machucado e era extremamente magro. não me lembro com muita clareza, mas se eu não me engano tem um trecho que salamano fala que queria se livrar do cachorro ou algo do tipo. mas, quando esse animal foge, o homem entra em desespero, procurando por todos os lugares, perguntando às pessoas na rua. não consegue obter resposta alguma, e volta todas as noites para a casa onde chora até adormecer. a história desse homem me deixou muito reflexivo sobre como as vezes na vida agimos um pouco como salamano: nos submetemos a situações que detestamos, mas não conseguimos ficar sem. uma relação meio abusiva com a nossa própria existência, eu diria
no fim, o estrangeiro, pelo menos para mim, é sobre isso: um livro sobre um personagem que se recusa a seguir convenções sociais e será condenado por isso (que fique claro que isso não é uma defesa, até pq ele tem alguns atos bem questionáveis ao longo da história)
segue a forte dica desse livro maravilhoso que eu poderia ficar falando sobre por horas e ainda haveria assunto deixado de fora (como a questão do sol). é um livro extremamente enxuto, cada frase colocada nele tem um propósito, e isso é simplesmente lindo. quero tentar ler mais coisas do autor ano q vem, preferencialmente "a peste" ou "o mito de sísifo"
ps: uma última coisa a comentar, o último capítulo tando da primeira parte quanto da segunda são simplesmente obras primas