André 02/11/2020Eu sei que é inevitável fazer comparações entre a situação que vivemos atualmente e a trama do livro, e sei tmb que essas comparações não são a toa, tem mtos paralelos entre realidade e ficção. Mas, acredito que o livro vai mto além de contar uma estória de uma cidade enfrentando uma epidemia.
A peste bubônica foi o artifício usado pelo autor para analisar a essência da humanidade, como ela reage diante da morte e da adversidade. Como esquecemos de coisas importantes, não valorizamos recordações valiosas e assim acabamos nos acostumando a uma vida sem esperança, sem fantasia.
O livro é absurdamente atual e não só pq vivemos uma pandemia que repete mto dos acontecimentos do livro, mas pq logo no início da obra o narrador comenta que se pode conhecer uma cidade sabendo como nela se trabalha, como se ama e como se morre. E ao ver que Oran vive para trabalhar, mas não se trabalhar para poder viver, só sobreviver; como se ama apenas por obrigação; como se morre na solidão, perdido entre coisas "mais importantes" acontecendo, vemos que td isso é um resumo perfeito de como ainda vivemos.
Assim, a peste é usada para mostrar a dificuldade de se viver em meio a morte, a desilusão, a negação do luto, negação do sonhar e da recordação, a obrigação de se viver somente para o presente, para enriquecer e consumir desesperadamente etc. E são sentimentos que temos cotidianamente, pq não precisamos de uma epidemia para nos afundar no desespero, a "peste" se manifesta de várias formas.
Além de analisar essas dificuldades, o livro tmb reflete como superar essa letargia. E o caminho é a revolta, não como apenas raiva, mas a recusa a seguir esse caminho. É uma revolta ativa, a favor do próximo, não meramente individual. É através de um sentimento de comunidade e solidariedade que se pode tornar esse antigo modo de viver obsoleto. Quem realmente faz algo pela cidade durante a pandemia são pessoas e não governos ou instituições ou empresas, são simples seres humanos que se unem com o único propósito de lutar a favor da vida que permitem superar a peste. Ser todo é ser parte, já diria Laia Odo (personagem de Os Despossuídos), só se pode viver plenamente procurando que todos tenham felicidade e amor.
Apesar da leitura densa, de reflexões pesadas e necessárias, e de momentos bem amargos, A Peste dá uma sensação de esperança na vida, de que ela é mais do que sobreviver e é possível amar e sonhar.