Memorial do Convento

Memorial do Convento José Saramago




Resenhas - Memorial do Convento


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Geovanna.Faleri 27/02/2021

baltasar sete-sóis e blimunda sete-luas
Que surpresa boa a leitura desse livro!! São tantos temas, tantas conexões e identificações ao longo da história que é difícil descrever a grandiosidade da escrita do Saramago. Para quem não o conhece, José Saramago foi um escritor português que ganhou o prêmio Nobel de literatura em 1998, o único escritor lusófono a receber esse prêmio.

Em ?O Memorial do Convento? há um romance histórico ambientado entre Lisboa e Mafra. Com personagens que realmente existiram na vida real, como Dom João V e o Padre Bartolomeu de Gusmão, essa é uma obra que faz um resgate do contexto do período de construção do famoso convento de Mafra. Essa obra religiosa foi construída a partir de uma promessa que o rei fez em nome da descendência que viesse a obter da rainha Dona Maria Ana de Áustria. Paralelamente ao contato com os dilemas da corte e toda superficialidade de relações que imperavam naquele local, o leitor também é apresentado a Baltasar Sete-Sóis, um maneta que perdeu a mão na guerra contra a Espanha, e Blimunda Sete-Luas, uma mulher cujo poder era ver por dentro das pessoas e recolher a vontade delas. Esses dois personagens aliados ao Padre Bartolomeu de Gusmão, cujo sonho era poder voar, constrastam a imoralidade e superficialidade da corte.

Um dos tópicos discutidos no livro foi a quantidade de recursos financeiros e humanos disponibilizados para a construção desse convento que, por muitas razões, era um símbolo do narcisismo e egocentrismo do próprio rei. ?Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei Dom João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam, com perdão da anacrónica voz.? (pg 248). Outros tópicos abordam a origem do dinheiro para investir nesse convento, sendo fruto da espoliação institucionalizada do território brasileiro. ?Está longe daqui o fundo dos nossos sacos, um no Brasil, outro na Índia, quando se esgotarem vamos sabê-lo com tão grande atraso que poderemos então dizer, afinal estávamos pobres e não sabíamos.?(pg.274)

Além disso, outra temática que me marcou bastante foi a presença da inquisição. Saramago descreve com maestria ocorrências como os autos de fé, no qual os indivíduos considerados hereges eram queimados em ambientes públicos. É interessante perceber como essa alegoria ao combate da heresia, blasfêmia e bruxaria retardou o desenvolvimento social e tecnológico de muitas sociedades, tendo como exemplo a máquina para voar que o padre estava desenvolvendo, mas teve que fugir por perseguição dos inquisidores.

Por fim, os dois grandes personagens, Baltasar e Blimunda, que humanizam e refletem sobre os aspectos sociais e políticos da sociedade deles. Um casal que foi apresentado durante um auto de fé, não teve o casamento oficializado pela igreja e era constituído por um maneta e uma vidente. Aspectos fora da curva que demonstram a cumplicidade existente entre os dois ao decorrer da obra que contrastam com a fragilidade das relações existente na corte lusitana e até mesmo na nossa própria sociedade.

Enfim, espero não ter entregado muito toda a grandiosidade presente em ?O Memorial do Convento?. Um livro espetacular que demonstra um pouco da transição do século XVI para o XVII com inúmeras temáticas, como religião, opressão, poder e amor. Espero que quem for lê-lo goste também!!
juliasilva 27/02/2021minha estante
perfeitaaa




Thábata 17/02/2021

Absoluta admiração
Acredito que o amor de Blimunda e Baltasar tenha sido o mais terno, delicado e bonito que já tive o prazer de ler nos últimos tempos - senão em todas as minhas leituras. Também delicada e comovente é a amizade e a lealdade dos dois com o padre Bartolomeu, e depois, ainda, com Domenico Escarlate. Impressionante e temível é como o poder de uns poucos homens, ou, antes, de um só, o rei Dom João V, pode mudar para sempre tantos destinos.

Esse livro me emocionou muitíssimo. Não vou dizer que foi uma leiteira fácil para mim, custei um pouco a me habituar às engrenagens da linguagem de Saramago - mas a cada nova linha, ficava mais fascinada com o estilo, e as dificuldades foram em muito superadas pela absoluta admiração.
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Isabelle Lopes 16/02/2021

"(...) um homem precisa de fazer a sua provisão de sonhos".
Saramago e suas estórias que tão facilmente se fundem à história.
Protagonistas improváveis e carismáticos nos levam pelo trabalho de pesquisa previamente feito pelo autor.
Deleitamo-nos com o lirismo de certas passagens e mais, ainda, com as ponderações sobre os excessos cometidos pelos poderosos em detrimento do povo, sempre abandonado à própria sorte.
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Thales 14/02/2021

O memorial não é só do convento, é de Portugal inteiro
(Contém pequenas revelações do enredo. Não chegam a ser spoilers, mas há quem prefira não saber)

"Memorial do convento" é a odisseia portuguesa por excelência. Pelas bandas de lá o livro é considerado não só a magnum opus do Saramago como um definidor da cultura do país. A Folha de São Paulo o elenca entre os cem maiores romances do século XX. Provavelmente foi o maior responsável pelo nobel que o portuga recebeu nos anos 90, o único até hoje da língua portuguesa, essa língua tão subestimada em termos literários ao redor do globo. Tá ruim?

E como toda boa odisseia, essa aqui tem lá suas questões. Mas vamo por partes.

Os principais protagonistas são Baltasar Sete-Sóis e Blimunda de Jesus, mais tarde batizada Sete-Luas. Ele um zé bunda que perdeu a mão esquerda na guerra e usa ora um gancho ora algo como um estilete no lugar, ela uma mística que em jejum pode ver o que está escondido tanto fisicamente como no íntimo das pessoas. Ambos se conhecem no julgamento que condenou ao exílio por bruxaria a mãe de Blimunda, após a jovem receber um sinal meio etéreo. No mesmo dia ela o acolheu em sua casa, ele foi batizado com o sangue dela - if you know what i mean - e a partir disso nunca mais se separaram.

Quando do encontro, Blimunda estava acompanhada de um amigo da família, padre Bartolomeu Lourenço (figura histórica, realmente existiu), religioso nascido no Brasil fascinado pelo campo das invenções. Dotado de uma certa paranoia para com o Santo Ofício, mantém em segredo a engenhoca de sua vida: a passarola, instrumento em forma de ave gigante que por uma engenhosa e mística engrenagem poderia voar.

Engenhoca que era veladamente patrocinada pelo rei de Portugal, D. João V, que no seu delírio de grandeza enxergava na passarola uma grande oportunidade para conquistar objetivos e entrar pra história. Dotado de uma megalomania e nenhum senso de realidade, ele é enrolado por um bispo quando promete construir um convento gigantesco em Mafra caso, a partir da bênção do religioso, sua mulher consiga engravidar. Como o bispo de bobo não tinha nada, já sabia que a rainha estava grávida de antemão.

E é em torno tanto do convento como da passarola que essas histórias principais se sobrepõem. Temos então uma trama enrolada, que dura um longo período de tempo, cheia de drama, críticas e reviravoltas, além de cenas chocantes.

E o grande x da questão de "Memorial" é que mesmo que a narrativa siga direitinho a linha temporal, ela é contada de forma nadica ordeira. Saramago não só flutua entre os "núcleos" como "pausa" para fazer várias digressões, acompanhar acontecimentos paralelos, causos do folclore português e etc.. Além disso ele exagera na escrita profundamente subjetiva e as vezes poética. Trocando em miúdos: ele não conta a história; ele pincela situações, divaga, vai descrevendo as paisagens e as movimentações, reflete sobre a confusa formação da nação portuguesa, navega pelas contradições de seus personagens... e assim todo esse fio vai sendo puxado. Por isso, ao mesmo tempo em que ele demonstra um domínio exuberante da língua e das técnicas narrativas - e, gente, é coisa de louco a proeza desse homem - ele torna a leitura extremamente arrastada.

Daí ou você é um monge tibetano e consegue manter um foco extremo por um bom tempo ou só realiza que vai entender no máximo 70% da coisa toda e segue a vida. Se não a leitura simplesmente não flui.

Mas afinal, como eu já disse, quando lemos "Memorial do convento" estamos diante de uma odisseia. E odisseia é isso, é desafiadora, é truculenta, é irregular, tem momentos de glória e momentos de desespero. E esse é o mix de sentimenos que a obra desperta em nós. Quando concluímos sua leitura temos aquela bela sensação de "ufa, que desafio, mas superei!". É muito recompensador.

Cenas como a morte do trabalhador no carregamento do pedregulho, a breguíssima e rocambolesca procissão de Corpus Christi ou o primeiro vôo da passarola são daquelas que vão marcar nossa vida pra sempre. É o tipo de lembrança pela qual vale cada dor de cabeça pra concluir o livro, sabe?

E o final... eletrizante, conturbado, de partir o coração. O último capítulo é completamente dilacerante, ele encerra perfeitamente o ciclo iniciado no dia em que o casal se encontrou, mas de uma forma bem saramaguiana. Que mulherão é Blimunda, namoral!

Em suma, "Memorial do Convento" é uma ficção histórica das mais geniais já escritas, e como toda obra desse quilate exige muito, mas muito mesmo, do leitor. Exige paciência, muita atenção, e até um certo nível de domínio da língua e de cultura popular. Acredito que um leitor jovem e/ou inexperiente teria muita dificuldade. Mas obviamente não posso deixar de recomendar, Saramago é daqueles autores de quem temos que ler até os rabiscos em guardanapo.

Para finalizar, acho importante registrar porque não dei cinco estrelas para o livro. Primeiro pelo fato já destacado de ser uma leitura arrastada; eu consigo reconhecer sua qualidade ao mesmo tempo que critico o quão desnecessariamente prolixo e confuso Saramago foi. Segundo que a edição é bem pobre, e isso me decepcionou. Ótima revisão - o mínimo em se tratando de um texto originalmente já em português -, mas não tem uma nota de rodapé, introdução, posfácio, nada. Como que me editam uma obra dessa envergadura, que trata de vários temas complexos, e o treco vem com zero fortuna crítica? Vacilo da Companhia das Letras.
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arlete.augusto.1 04/02/2021

O Livro preferido do autor
Temos como pano de fundo personagens reais: Dom João V, rei de Portugal, que mandou construir o Palácio de Mafra, e o Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, sacerdote secular, cientista e inventor, nascido na Capitania de São Vicente-BR, e que inventou, entre outros, a Passarola, primeiro projeto de um aeróstato.
Início século XVIII.
Entremeando fatos reais, como a construção do Palácio de Mafra e da Passarola, de personagens reais com fictícios, Saramago cria uma história espetacular e muito crítica à sociedade e à religiosidade da época, sempre com sua ironia refinada e seu modo peculiar de escrita. Durante a história, acompanhamos o casal Baltasar e Blimunda, amor de corpo e alma, puro e sincero, que ajudam o padre a construir a Passarola, preservando-a, após sua fuga de Portugal; e depois mudam-se para Mafra, onde Baltasar trabalhará na construção do Convento. É através deles que o autor tece a teia social dos miseráveis e esquecidos que põem mãos às obras na construção dos sonhos mirabolantes dos poderosos.
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Adriana.Machado 27/01/2021

Mix de emoções
Inicialmente estava a adorar, mas sinto que no meio se perdeu um pouco e custou-me a avançar na leitura. No entanto, a partir dos 90% voltou a ter um up e adorei essa parte da leitura.
É uma história de amor linda, provavelmente a mais bonita que já li. A minha personagem preferida foi a Blimunda.
Por outro lado, também dá bem para analisar como era Portugal na altura.
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Lenicio 10/01/2021

Leitura essencial
No início, bem difícil de acompanhar o ritmo da narrativa, por causa da peculiar forma de pontuação e de organização dos parágrafos.
Mas, na medida em que se acostuma, o texto oferece uma experiência literária maravilhosa. Memorial do Convento é um livro lindo, que estampa toda a sensibilidade do autor. Incrível como consegue contar uma história de amor de gente simples, sofrida, e, ao mesmo tempo, propor mordaz crítica social sobre a opulência dos poderosos.
O poder secular e o poder espiritual são colocados em xeque. Fica claro, durante a história, que a Monarquia e a Igreja são pintadas como forças ritmadas pela injustiça. Vivem para azucrinar o povo faminto e miserável. Simples caprichos do monarca provocam enormes reflexos nas vidas dos súditos, o que é representado, na trama, pela árdua construção do Convento de Mafra.
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Fabio 08/01/2021

Um dos melhores livros do Saramago e eu nem sabia.
A História:
O Livro narra duas construções. O gigantesco convento de Mafra (que na verdade é um palácio) e um engenho voador chamado Passarola. Essas construções são acompanhadas por alguns personagens, como o Padre Bartolomeu de Gusmão, o inventor do artefato voador e seus construtores, o casal Blimunda e Baltazar. Blimunda tem uma espécie de poder, pois pode ver “por além da carne”. Já Baltazar é um ex soldado que não tem uma das mãos.


O contexto:
O livro tem um forte contexto histórico. O autor faz uso tanto da época quanto de personagens que realmente existiram para criar – e criticar – algumas situações que marcaram aqueles anos. O romance se passa durante o reinado de Don João V, no século XVIII, época que Portugal viveu um período de farta riqueza com o ouro recém extraído das Minas Gerais.

Nessa época o rei esbanjador não media esforços para realizar suas vontades, e assim marcou o seu reinado com extravagancias e construções faraônicas, sendo Mafra a sua mais ousada empreitada.

Padre Bartolomeu de Gusmão também foi uma figura histórica. Era um padre cientista que tinha por intenção fazer o homem voar através de diversas engenhocas. A personagem Blimunda possivelmente existiu também. Contam as “lendas literárias” sobre esse livro, que Saramago, ao pesquisar sobre a época, leu nos documentos da Inquisição sobre uma famosa vidente portuguesa, e resolveu coloca-la no livro. Baltazar já seria a representação do povo português. Machucado da guerra, porem trabalhador e sonhador.

Além de criticar a má gestão de Don João com tanto dinheiro disponível, Saramago também dá suas alfinetadas na Igreja, mais precisamente na Inquisição, que naquela época fervia em Portugal e suas colônias. Ele pontua como era visto os portugueses no mundo naquele tempo.


A repercussão:
Memorial do Convento é o livro que teve maior repercussão em Portugal, e é até hoje a principal obra de Saramago naquele país. Talvez por tratar de um tempo tão prospero aos portugueses (pelo menos para a turma da coroa) o livro tem grande apreço por lá, tendo virado até ópera. Foi a partir da publicação desse romance que a carreira do autor português deslanchou.


A experiência:
O texto de Saramago não é uma leitura simples, apesar de ele abordar temas relativamente fáceis. Porem ele flerta muito com o romantismo e os seus textos ficam um pouco prolixos. Para mim, não foi uma leitura fácil, me exigiu mais concentração, mas depois que me conectava a sua peculiar forma narrar a leitura fluía.

Acredito que se eu tivesse um melhor conhecimento do contexto do livro eu teria aproveitado bem mais a leitura. Porém, para não pegar spoilers, evitei informações sobre o livro. Indo para essa “viagem” praticamente sem “bagagem”. A experiência foi boa, mas acho que poderia ter sido melhor. Quem sabe em uma releitura.
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Ronan 07/01/2021

Uma beleza triste
Quem sou eu na fila do pão para resenhar José Saramago? Foi a primeira pergunta que me fiz... Bem, me lanço a essa ousadia, sim esse é o termo dada a envergadura da obra. O livro é lindo, aterrador de tão triste e lindo, sim, porque pelas mãos desse escritor o mundo cru, duro e desnudo dos homens torna-se belo. A insignificância dos homens perante o tempo, perante o Deus cristão implacável que está sempre sondando do alto, perante à natureza, perante seus implacáveis destinos, perante mesmo às construções como a de Mafra é narrada com beleza, talvez a beleza se manifeste ao nos reconhecermos nas dimensões de seus personagens, premidos que somos todos.
Essas contingências que nos premem o fazem tanto com os mais pobres quanto com os mais ricos e nobres, paralelos não faltam; na construção do convento de Mafra o autor descreve os homens como formigas em seus intermináveis trabalhos e coloca lado a lado a morte de um bebê príncipe real e a de um bebê filho de pedreiros. Se o pano de fundo da obra é a construção do palácio/mosteiro de Mafra o que se desenrola em primeiro plano é o romance de Baltasar e Blimunda. Personagens mais premidos não há, ele ex soldado que perdeu o braço em combate, ela filha de uma degredada pela inquisição e dotada de poderes sobrenaturais em um mundo sufocantemente católico e inquisitorial.
Os homens são movidos por “vontades” ou sonhos e é o sonho de voar que une o casal ao padre Bartolomeu de Gusmão (personagem tomado de empréstimo pela história à História). Por anos em uma felicidade possível, põe-se o casal a construir uma máquina voadora (uma metáfora de nossa transcendência?) sob a batuta do dito padre. Curiosamente essa máquina só poderia voar a partir das vontades recolhidas por Blimunda graças a seus poderes sobrenaturais. Vontades essas extraídas do âmago de cada homem por vezes em seu momento de morte. Essas vontades movem enfim o sonho, a máquina voa, breve, majestosa, sublime, o sonho se realiza enfim, mas por um laivo de tempo entre o meio dia e o cair da tarde, algumas horas.
Nesse mundo cru, duro e premido a nave cai logo em seguida, o padre foge e chegam notícias de sua morte anos depois, o casal se salva voltando para Mafra, Baltasar trabalha por anos a fio como pedreiro no canteiro do palácio/mosteiro (oprimido pelo estado e pela Igreja? Numa simbiose que Mafra exalta), os sofrimentos são muitos, o trabalho pesado. Como bem me chamou a atenção um querido amigo, o capítulo que trata da movimentação de uma descomunal laje de pedra de sua pedreira até o canteiro de obras, na qual Baltasar toma parte, nos traz de volta ao chão com uma crueldade que só a realidade é capaz de reproduzir. Do céu ao chão, do sonho à realidade. No entanto, por anos a fio, o casal, especialmente Baltasar, vão ao local do acidente, e cuidam para que a máquina voadora não estrague pela ação do tempo, é como se acalentassem um sonho, há muito ido. O amor entre Baltasar e Blimunda é o que de mais sublime perpassa o livro, este sim, concilia o céu e o chão, o sonhado e o possível e dá a justa dimensão desses personagens tão humanos. Leia!
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Ariadne.Esqueisaro 02/12/2020

Alto nível
Primeiro que li de Saramago. Demorei a engrenar, sua forma de escrever deixa o cérebro confuso a princípio. Alguns capítulos se arrastam, é verdade. Mas a história é bonita e tem muitos elementos de realidade. Genial na manipulação e colocação dos verbetes, incrível o domínio da língua portuguesa. Demorou mas valeu a pena
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Vanessa.Mello 27/11/2020

Minha primeira experiência com um livro de Saramago
O que posso dizer sobre esse livro? Saramago tem uma forma de escrita extremamente bagunçada e maluca. Em muitos momentos fiquei meio perdida em um dos inúmeros e enormes parágrafos, sem saber quem estava falando, pois não há travessões. Mas apesar da forma de escrever amalucada do autor, acredito que esta tenha sido uma história muito bem elaborada.
Memorial do Convento vai retratar muito sobre a repressão exercida pela monarquia, o abuso de poder, tanto dos frades do convento quanto do rei. Também vai falar sobre a linda história de amor entre Baltazar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, que sinceramente é a parte mais interessante realmente desse livro.
Saramago ironiza a questão religiosa e o adultério entre membros da monarquia. Além disso, também retrata de forma muito poética tudo o que envolve Blimunda e Baltazar.
Eu gostei do livro, apesar de ter levado um tempo maior para lê-lo. O final foi realmente surpreendente e ainda não sei se gostei ou não desse desfecho para a história.
Acho que para uma primeira experiência com o autor, este tenha sido um ótimo começo kkkkkkkk
Enfim, vale muito a pena ler esse livro. Entre de cabeça na história e voe junto de Blimunda e Baltazar na engenhoca do padre Bartolomeu.
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André Vedder 22/11/2020

O poder da vírgula!
Minha primeira leitura de Saramago, e meu sentimento ao término é de por que demorei tanto a lê-lo? Um pouco foi porque sempre ouvi dizer que é uma leitura difícil, e no caso, é mesmo um pouco mais complexo que as leituras em geral. É uma leitura que deve ser feita com calma, principalmente respeitando as vírgulas que o autor usa e abusa com maestria.
Mas dito isso, saiba que, ao menos no caso de Memorial do Convento, a leitura foi um prazer a cada linha escrita. Saramago é magistral em sua narrativa, com ironias, metáforas, críticas e uma sensibilidade linda, que consegue descrever coisas simples e rotineiras de uma forma que nos prende, característica dos grandes escritores.

" É assim o mundo, junta no mesmo lugar o grande gosto e a grande dor, o bom cheiro dos humores sadios e o podre fétido da ferida gangrenada, para inventar o céu e inferno não seria preciso mais que conhecer o corpo humano."

"...mas a maior sabedoria do homem ainda continua a ser contentar-se com o que tem."
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regifreitas 11/11/2020

MEMORIAL DO CONVENTO (1982), de José Saramago.

Esta foi a obra que despertou meu fascínio pela literatura de José Saramago, muito embora não tenha sido minha primeira leitura desse autor. Antes desta, tinha ocorrido uma tentativa com O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO, mas houve um estranhamento muito grande do jovem leitor de então com a forma do texto saramaguiano - os longos parágrafos, a pontuação inusitada, as extensas digressões, acabaram provocando o abandono da leitura. Pouco tempo depois, já na faculdade, na cadeira de Literatura Portuguesa, o MEMORIAL constava na ementa das leituras para aquele ano. E qual não foi a surpresa: superada a dificuldade das primeiras páginas, o texto fluiu sem entraves, e toda uma nova visão, uma nova forma de narrar e de construir mundos ficcionais se abriu diante dos meus olhos. Desde então, Saramago está entre os meus autores favoritos.

Assim, o MEMORIAL passou a ocupar um lugar afetivo dentro das obras que formaram meu gosto literário. Tanto que sempre tive receio de retornar a ela e de o impacto inicial não se repetir, ou de chegar à conclusão que o livro não era tão bom como eu recordava, como já aconteceu com várias outras releituras desse tipo.

Vinte anos se passaram e, ao regressar para o Portugal do século XVIII, de Baltazar e Blimunda, bem como do padre Bartolomeu Lourenço e tantos outros personagens marcantes, constato que o efeito realmente já não é mais o mesmo. Mas também comprovo que este se trata de um clássico, definido aos moldes de Italo Calvino: “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”. Alguns dos trechos sublinhados no passado já não têm o mesmo peso, entretanto, descubro passagens surpreendentes que àquela primeira leitura me passaram em branco. A obra é a mesma, o leitor presente, não - e seria estranho se assim fosse.

Continua sendo um trabalho magnífico, embora em outros termos. Termino feliz, sabendo que o livro continua a dialogar comigo e a ocupar o lugar que sempre ocupou entre as obras literárias importantes da minha vida.
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Thalya 09/11/2020

Um fato histórico sob outros pontos de vistas
Memorial do Convento (1982) do autor português José Saramago, é um romance histórico que constrói sua narrativa em torno de um fato histórico, mas como outros do mesmo gênero literário, decide recontar certo momento e contexto, utilizando de certos artifícios: a perspectiva daqueles envolvidos nesse fato, suas vidas, suas histórias; a história dessas pessoas praticamente esquecidas. Perspectivas essas, ignoradas ou negligenciadas nos documentos reais, pois o foco ficaria/ficou sob os reis, rainhas e nobres.

E nesse caso, a obra se volta para o século XVIII e o relato dos desejos, medos, dificuldades e problemas enfrentados por aqueles e aquelas que diretamente ou indiretamente tiveram suas vidas mudadas, por conta de uma promessa do rei D. João V - a construção do convento de Mafra - quando sua esposa, D. Maria Ana não gerava herdeiros.

"Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um convento de franciscanos na vila de Mafra se a rainha me der um filho no prazo de um ano a contar deste dia em que estamos, e todos disseram, Deus ouça vossa majestade (...)" (Página 14).

Muitos trabalhadores, pedreiros, construtores, boiadeiros, mestres de obras e pessoas no geral envolvidas nessa construção, se machucaram gravemente, se separaram de suas famílias ou ainda perderam suas vidas no processo. Só para citar exemplos.

"Vão na viagem José Pequeno e Baltasar, conduzindo cada qual sua junta, e, entre o pessoal peão, só para as forças chamado, vai o de Cheleiros, aquele que lá tem a mulher e os filhos, Francisco Marques é nome dele, e também vai o Manuel Milho, o das ideias que lhe vêm e não sabe donde. Vão outros Josés, e Franciscos, e Manuéis, serão menos Baltasares, e haverá Joões, Álvaros, Antónios e Joaquins, talvez Bartolomeus (...) tudo quanto é nome de homem vai aqui, tudo quanto é vida também, sobretudo se atribulada, principalmente se miserável, já que não podemos falar-lhes das vidas, por tantas serem, ao menos deixemos os nomes escritos, é essa a nossa obrigação, só para isso escrevemos, torná-los imortais, pois aí ficam, se de nós depende (...)" (Página 233).

Baltasar Sete-Sóis e Blimunda estão entre estes que de alguma forma tiveram suas vidas modificadas e olha que já eram diferentes: ele maneta, tendo perdido sua mão esquerda em batalha, ela - perdeu a mãe, bruxa, na fogueira - que enxerga o interior das coisas, dos animais e das pessoas.

Enfatizamos que a narrativa não está inteiramente atrelada ao simples relato da construção, como também se voltará a vida comum desses dois personagens e o amor compartilhados por eles - denominados pelo Padre Bartolomeu, o Voador - Sete-Sóis e Sete-Luas.
Além disso, teremos diálogos filosóficos e existenciais entre diversos personagens, palco para o desenrolar da história. Principalmente conversas entre o casal que são de fazer a leitora ou leitor parar, reler e repensar.

"A vida está antes da morte, Enganas-te, Baltasar, a morte vem antes da vida, morreu quem fomos, nasce quem somos, por isso é que não morremos de vez (...)" (Página 322).

E ainda que alguns personagens surjam rapidamente, se apresentam complexos e profundos ao serem descritos ou observados a partir de seus pensamentos e de suas conversas analisadas pelo narrador, um homem que soube da história e compara com o futuro, revelando seu tempo (em alguns momentos podemos pensar se não seria o próprio escritor).

Assim, acompanharemos Baltasar, Blimunda, o Padre que deseja voar e ajudado pelos dois primeiros, o músico Scarlatti, entre outros personagens cativantes, com vidas que pulsam de realidade e profundidade, tornando difícil se despedir deles.

E se a linguagem de Saramago parece desafiadora de início, ao nos adaptarmos - com sua tentativa de se aproximar da oralidade e de textos antigos, do barroco - imergimos e podemos nos apaixonar ou nos encantar. E posso afirmar, eu me encantei.

site: https://souhumanito.blogspot.com/2020/11/um-fato-historico-sob-outros-pontos-de.html
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