Marilia 17/04/2013
O Céu Está em Todo Lugar - "Deveria estar de luto, não me apaixonando..."
Jandy Nelson, escritora recente no mundo da literatura, ganhou diversos prêmios literários com o livro O Céu Está em Todo Lugar, publicado em 2011.
“Às 16h48 de uma sexta-feira de abril, minha irmã estava ensaiando para o papel de Julieta e, menos de um minuto depois, estava morta.”
Lennie Walker, dezessete anos, era uma garota comum, que toca clarinete e é fã de literatura, tendo um carinho especial por O Morro dos Ventos Uivantes, que lera ao menos 23 vezes, admirando muito o amor entre os protagonistas deste livro. Vive em uma casa com um enorme jardim com a avó, o tio, e sua irmã mais velha, Bailey, a quem muito admira.
E então Bailey morre. Simples assim. Sem aviso prévio ou algo do tipo.
Todos a sua volta terão que se acostumar com a ausência que ela faz, querendo ou não. Seus amigos de teatro terão que redistribuir papéis, seus amigos terão que fazer confidências a outros amigos, e sua irmã terá que crescer, atuar em sua vida e não mais seguir os passos da irmã mais velha a quem segue os planos, admira e ama.
Lennie perde a pessoa mais importante da vida dela, e não sabe como superar essa perda.
“... Como vou sobreviver a essa saudade? Como os outros fazem? As pessoas morrem o tempo todo. Todo dia. Toda hora. Há famílias no mundo olhando para camas em que ninguém mais dorme, para sapatos que não são mais usados. Famílias que não precisam mais comprar um tipo específico de cereal, de xampu. Há pessoas em todo lugar na fila do cinema, comprando cortinas, passeando com os cachorros, enquanto, por dentro, com o coração despedaçado. Durante anos. A vida toda. Não acredito que o tempo cura. Não quero. Se curar, não significa que aceitei o mundo sem ela.”
No meio de indescritível dor da perda de sua irmã, tão talentosa e adorada por todos à sua volta, Lennie está em um período de descobertas próprias da adolescência e, embora não tenha culpa de estar passando por esse ciclo, sente-se mal por estar descobrindo coisas novas enquanto a sua irmã está morta. Tem a necessidade de partilhar todos os seus segredos e dúvidas com a irmã, mas ela não está mais lá. No meio de tais novos sentimentos, sente-se confusa quando dois garotos surgem em sua vida: Joe, violonista que veio da França e arranca suspiros por onde quer que passe, e Toby, namorado de Bailey que parece ser o único que realmente a entende e que partilha dos mesmos sentimentos de perda da garota.
“Deveria estar de luto, não me apaixonando”
No meio de tanta confusão, dor, mágoa, culpa e tentativas de se encontrar, Lennie tem a enorme necessidade de escrever poemas e pequenos textos e largá-los por aí. Todos destinados à irmã ou com histórias sobre ela. Joga os papéis ao vento, escreve na madeira, enterra copos descartáveis com mensagens, tentando fazer com que uma parte de Bailey esteja por toda a cidade, em cada canto que andasse.
O livro também traz outros personagens complexos e totalmente humanos, com qualidades e defeitos. A avó, que ama flores e pinturas verdes, e que passa horas em seu pequeno ateliê com seus quadros e tintas. Tio Big, que gosta de insetos mortos, adora casamentos (casou-se umas cinco vezes) e na maior parte do tempo está drogado, talvez para adormecer um pouco a dor que sente. Sarah, melhor amiga de Lennie, que se vê esquecida e evitada pela amiga porque Walker acha que ela simplesmente não entenderia sua dor. E até mamãe, dona do gene aventureiro, que não aparece no livro, mas é importante à história.
O livro é emocionante. É um romance diferente. E talvez o que mais faça com que esse livro seja bem falado por quem leu é que Jandy Nelson consegue fazer quem quer que leia se sinta no lugar da Lennie. O leitor consegue sentir a confusão, a dor, a culpa, a paixão. É um drama diferente também, porque existem partes do livro em que você consegue esquecer a morte da Bailey e começa a se divertir junto com Lennie (são raros esses momentos, e também são os momentos em que Lennie meio que esquece da morte da irmã).
Os personagens foram bem construídos. Como foi citado acima, eles possuem qualidades e defeitos. Não existe no livro algum personagem que seja totalmente perfeito e, com certeza, a protagonista tem muitos defeitos.
Mais do que uma história de perda, é uma história de superação.
“Às vezes é preciso perder tudo para conseguir encontrar a si mesmo.”
A narração é leve, o que faz com que a leitura seja rápida. E a editora Novo Conceito com certeza caprichou no livro. A capa, as letras azuis, as mensagens entre os capítulos e até a aparência de um livro mais desgastado fizeram com que, particularmente, seja um dos livros mais bonitos que tenho em minha estante.
Concluindo, recomendo o livro. A mensagem que ele traz é incrível. Parei algumas vezes durante a leitura apenas para absorver a mesma. E, no final, faz-nos pensar o que estamos fazendo na vida, se ela realmente está valendo a pena. Estamos dando valor às pessoas a nossa volta, antes que seja tarde demais?
“Sempre me senti como parte de uma narrativa, não sendo a autora dela, ou como se tivesse algo a contar sobre ela, qualquer que fosse.
Você pode contar sua história da maldita maneira que quiser.
É o seu solo.”