Vê 27/11/2013Como descrever um livro cujo conteúdo seja de uma magnificência assombrosa? Por onde começar a contar sobre a pureza, a bondade e a esperança que recheiam as páginas de Xadrez de forma tão maravilhosa?
Talvez seu conteúdo seja o principal motivo para eu ter demorado mais de um ano para finalizar a leitura. Pois é. O que encontrei em Xadrez foi algo completamente diferente, intenso e emocionante. A história de Anny poderia ser a de qualquer criança com pais que passavam mais tempo viajando do que propriamente em casa, mas o que a faz diferente de qualquer personagem que eu já tenha visto é a sua inocência e enorme bondade, que a acompanhará mesmo nas piores tempestades.
A autora cria uma personagem especial, que terá como sua principal missão espalhar o amor, o perdão, a esperança e ensinará a todos que não importa quão ruim sua vida pode parecer, haverá sempre espaço para a felicidade, mesmo que seja nas pequenas coisas.
Quando Anny é deixada aos cuidados de sua antiga tutora, em uma casa humilde bem ao lado de sua enorme moradia, ela sabe que o que a moverá dali para frente será o enorme desejo de voltar a ver seus pais, que voltarão em breve, dali a um ano, para vê-la. O trabalho misterioso deles os faz viajar constantemente, mas a menina nunca se incomodou de verdade, aproveitando ao máximo todos os momentos que passavam juntos.
No entanto, a senhora Jane em nada se sente animada com a chegada de Anny e não demora muito a transformar a vida da pequena garota no que todos nós acharíamos um inferno. Mas não Anny. Essa pequena é movida por uma fé e paz de espírito tão grande que é impossível não sorrir enquanto viramos as páginas, ao mesmo tempo com o coração muito apertado pelo o que ela está passando, mas esperançosos, querendo aprender como é que uma menina tão jovem já pode encontrar o melhor, mesmo nos piores momentos.
Mesmo reclusa à pequena casa, sendo submetida a muitas limitações, tarefas e o medo (mais do leitor, é claro) das consequências, Anny não se deixa abater e aguarda ansiosamente pelo dia em que seus pais voltarão para vê-la. Tentando transmitir sua alegria de viver para Jane e seu marido, Hermes, ela começa pelo pequeno jardim nos fundos da casa, cuidando para que nasçam novas e belas flores.
É em uma dessas tardes no jardim que Anny conhece Pepeu, um jovem artista que parece perdido e vai e vem misteriosamente. Logo eles se tornam muito próximos e o carinho entre eles só se faz crescer. Anny tem esse efeito, parece saber como levar a paz aos corações das pessoas sem que ao menos se dê conta. O que ela sempre deixa muito claro é sua fé no Papai do Céu e isso a fortalece de tal forma que muitas vezes os papéis se invertem: Anny dá conselhos e tem uma visão de mundo muita adulta para a idade, mas o que a diferencia de um adulto propriamente dito é sua inocência, digna de uma criança.
Grande prova disso são os sonhos que ela tem em um reino onde tudo é xadrez e ela é sua rainha. Os sonhos são uma poderosa válvula de escape e refletem tudo o que lhe acontece em sua vida pela forma como se encontra, às vezes em paz, quando sua rainha está em paz, e às vezes caótico, quando sua rainha está com problemas.
O xadrez é uma parte muito importante na história, pois é a conexão entre Anny e seu pai, que não só a ensinou a jogar, como também, antes de partir, lhe deu um jogo belíssimo feito de cristal. Além disso, é a estampa dos sonhos de Anny.
Xadrez foi uma leitura emocionante. Anny nos ensina tanta coisa que, em muitos momentos, ela me lembrou Pollyanna e seu jogo do contente. Essa garota leva a cura para as pessoas ao seu redor, pessoas essas que tem seus próprios medos, suas tristezas, confusões. Ela é capaz de tocar a todos com seu jeito de ser e isso, para mim, foi magnífico. Nunca encontrei leitura mais encantadora, inocente e, ainda assim, cheia de lições e uma conclusão que foi, no mínimo, libertadora.
Por muitos capítulos me senti angustiada, temerosa e revoltada. Como é que uma criança como Anny poderia enxergar o arco-íris quando estava no meio de uma tempestade horrível? Mas ela consegue, ah, como consegue! Cada pessoa que se aproxima dela, é uma cura que começa. O mundo que a cerca é caótico, mas Anny torna-se o sol e traz cor para tudo ao seu redor. Essa menina é mais que especial, é uma personagem cativante e a história simplesmente incrível.
Se dermos as mãos à Anny durante a leitura, tenho certeza de que somos capazes de nos sentirmos em paz também, assim como as pessoas com quem ela se relaciona: a senhora Jane, o senhor Hermes, Pepeu, Nicole e até o próprio pai.
O título atual do livro é "Jogando Xadrez com os Anjos", mas você só pode entender o real significado dele na parte final, mesmo que suspeite um pouco antes. Foi uma história excepcionalmente bem escrita, com uma carga muito forte de esperança e doçura, que eu nunca tinha visto antes. Uma leitura muito especial que, com certeza, me tocou e me fez compreender que Anny é tudo o que cada um de nós deveria ser, ela soube preservar o que muitas pessoas perdem ao longo da vida e isso fez dela uma garota muito carismática e especial. Ensinou-me que nós devemos encontrar o lado positivo em tudo que nos acontece, por pior que seja, alimentar a esperança e sempre ajudar o outro a encontrar a paz. A bondade, aqui, foi a cura para muitas pessoas; o perdão, a redenção delas.
site:
http://onlythestrong-survive.blogspot.com.br/2013/11/resenha-xadrez-fabiane-ribeiro-book.html