LeomaxCOF 17/02/2021
A figura quimérica do grande pai.
Aqui encontra-se a mais nítida prova da inspiração das obras de Kafka. Quando chegam ao veredito do julgamento de Josef K(evitarei spoilers), o sentimento que ele narra naquela obra é o mesmo dessa, a inspiração foi oriunda dessa grande sombra que assolava todos os aspectos de sua pessoa.
O primeiro ponto que gostaria de tratar, é que aqui, nos deparamos com um arquétipo, para muitos, incompreensível... Sua própria natureza, julga de certo modo a aberração dicotômica. Por um lado, encontra-se o maior sentimento de admiração perante seu pai; homem forte e imponente, que sustentou todas as mazelas de seu tempo. Tornou-se uma figura respeitável e poderosa, símbolo exterior de que muitos apelidamos de sucesso. Um gigante que enfrentou todas as adversidades e com ela, de certo modo, consubstanciou pesadas convicções, imputando-as, inconscientemente aos seus familiares.
Por esse exato motivo que temos um arquétipo incomum, um homem que ergueu-se nessas circunstâncias, não é a regra e sim a exceção...
Medo e respeito; são as duas palavras que definem esse tipo de relacionamento. Quando me refiro ao ultimo, estou remetendo a alusão de suas conquistas aos olhos de seu filho, que independente das negligencias, ou da toxidade de seu relacionamento, é incapaz de não respeita-lo.
Já o medo? É um sentimento impar, nocivo e arrematador, que estrangula a confiança e o coração desse sujeito. É o pavor da sombra de tal figura quimérica, que em todas as esferas de seu ego, lhe cobre por completo. Vê-se enfraquecido, onde acredita ser insuficiente... é impossível alcançar suas expectativas, então ele próprio se auto sabota, mas essas expectativas não são necessariamente de seu pai e sim de si próprio.
Trava guerra psicológica contra seu pai, mas este nem mesmo a reconhece; O coloca como inimigo declarado, mas sua reverência e alto respeito, na mesma hora inverte os papeis o tornando seu próprio inimigo.
Deseja liberdade(principalmente através do casamento, finalmente tornando-os iguais) mas não acredita que merece.
Poderia ser amigo, colega de trabalho, até mesmo aluno de seu pai... Mas como figura paterna, sufocou-o por completo.
E acredita veementemente que é culpado, que mesmo que seu pai peça algum tipo de desculpas, não serão sinceras... são realmente acredita nisso, por que seu pai não acha-se culpado, mas ao mesmo tempo também não vê o filho como culpado... o que faz Kafka se sentir culpado. Presenciando um julgamento ele desconhece as regras, o tornando totalmente apático.
Poucas páginas, sentimentos e ideias repetidas, porém autênticos; Aqui está o sangue desse autor, não escondido através das alegorias de suas ''incompreensíveis'' histórias, mas sim nua e crua.
De toda maneira, posso estar em minha interpretação... É uma leitura triste, que o mesmo nunca enviou para seu pai. Fico me perguntando, se no fim de sua vida, Kafka conseguiu quebrar as monstruosas correntes dessa relação, afugentando as sombra que o consumia. Espero que sim...