chonps 01/02/2024
Querido pai,
Acredito que essa é uma das obras mais íntimas que já li, confesso que me senti incomodada lendo algo que não tenho certeza que o autor queria publicar e também no decorrer da leitura me identifiquei com algumas coisas que Kafka pontuava.
Carta ao pai é uma carta que Franz Kafka escreveu para o pai e que ela nunca foi entregue, aqui ele se abre e mostra o seu mundo mais íntimo. Todo momento que lia eu conseguia sentir o desespero, a vontade que Kafka tinha de ser ouvido pelo pai, de ser entendido por ele e até mesmo respeitado.
No decorrer da carta, Kafka pontua situações e ações que o pai fazia que o moldou até o último momento de sua vida. Ele conta que seu pai não era de bater em seus filhos, mas gostava de tirar o cinto e ameaçar, mostrando que seu pai fazia muita pressão psicológica.
Apesar de tudo, sentir que Kafka sentia até que orgulho do pai, ele, Hermann Kafka, batalhou muito para conseguir as coisas, Franz Kafka pontua isso muito bem, mas o pai adorava utilizar como forma de pressionar o filho, Kafka chega a dizer: “[...] trabalhaste pesado durante a tua vida inteira, sacrificaste tudo pelos teus filhos, e sobretudo por mim, enquanto eu ‘vivi numa boa’ por conta disso, [...], não precisei ter nenhuma preocupação com meu sustento e portanto nenhuma preocupação [...].”
Kafka também escreve sentir vergonha da forma como o pai tratava os funcionários, Hermann Kafka tinha um comércio que vendia tecidos e afins, Franz fala na carta que o pai gritava e xingava os funcionários e até falava que eles eram seus inimigos. Na carta, Kafka também chega a falar de momentos tranquilos, momentos em que seu pai demonstrava algum sentimento “carinhoso”, como quando a mãe de Kafka ficou extremamente doente e seu pai acabou de chorar sem saber o que fazer, mas mesmo assim Kafka não conseguia não se sentir aversão a esses momentos.
Na carta, ele mostra ser uma pessoa tímida e com problemas de se relacionar com as pessoas, também problemas com a sua própria imagem, ligando a forma como o pai o educava.
Kafka fala sobre várias coisas na carta, mas percebi algo a mais na questão da religião e casamento (um achismo meu). Sobre a religião, Kafka chega a dizer que o pai era religioso, mas não tão religioso assim, e para ele só a forma como conduzia era o certo, quando Kafka se afastou, vamos dizer assim, da religião o pai dele criticou bastante. Em relação ao casamento, Kafka ficou noivo algumas vezes, mas nunca deu prosseguimento, ele relata que quando pediu a namorada chegava a ter noites sem dormir, na vez que ele noivou com uma namorada o pai desaprovou totalmente e chegou até ameaçar a deserdá-lo. Na carta ele chega a dizer que para ele o casamento era um sinônimo de liberdade, onde ele sairia das amarras do pai, mas também constatou que o casamento do pai foi um enorme sucesso e com isso ele não conseguiria se libertar do pai, mostrando que talvez Kafka iria sempre comparar a relação dos seus pais e a dele (mais um achismo meu).
Enfim, não irei alongar mais. Como disse no início, é uma leitura muito íntima, ela revela a alma do Kafka, vamos dizer assim, apesar de sentir um certo incômodo lendo por achar está invadindo a privacidade dele, é uma forma também de conhecer o autor por trás das grandes obras já feitas.