Renata 10/10/2022
A HORA DA ESTRELA
Clarice Lispector
Editora Rocco
Último romance de Clarice Lispector, A hora da estrela reafirma características da escritora, percebidas em obras anteriores, mas traz uma Clarice menos introspectiva. Estudiosos dizem que há um certo quê autobiográfico no livro, no entanto, a escritora se esconde atrás de um narrador denominado Rodrigo MS.
Rodrigo narra a história de Macabéa, uma jovem nordestina, que migra para o Rio de Janeiro, após a morte da tia que a criara.
Como toda moça que vai para uma cidade grande, ela sonha. E se espelha nas atrizes de cinema da época, como Marilyn Monroe, mas Rodrigo diz que ela não almeja uma vida diferente. Ela se contenta com o que tem. É uma datilógrafa e se orgulha muito disso. Ela conhece um rapaz e começam a namorar, mas Olímpico a troca por sua amiga.
Macabéa carrega o fardo de uma infância sofrida e sem oportunidades, fruto de uma vida limitada. A moça é tímida até para sofrer, o que gera no narrador um sentimento de culpa que o atormenta.
Como muitos migrantes do Nordeste, ela passa despercebida na grande massa. Ela apenas é, ela apenas existe… Assim Rodrigo a descreve.
A mente do narrador, em suas divagações, faz uma denúncia social, a reflexão sutil sobre o preconceito vivido pelos nordestinos no Sudeste do país, naquele tempo.
Como nas demais obras, Clarice traz a temática humana e a narrativa fragmentada pelas digressões do narrador, porém, o forte do enredo é exatamente a análise psicológica do personagem-narrador sobre a protagonista e as impressões dele acerca da vida dela, do mundo e de sua própria vida.
Para entender o título é preciso ler a obra, pois envolve exatamente o final da história, com uma surpresa que revela a pequenez e a grandeza que habitam cada ser humano. Macabéa tem seu momento de estrela. E a genial Clarice finaliza a narrativa assim: “Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim.”
Na temporada de morangos é possível comê-los, quando findam os morangos, não é possível mais. Da mesma forma, a vida. Só é possível vivê-la enquanto estamos vivos, ou seja, aproveite o hoje, aproveite o agora. Carpe Diem!
Recomendo!