Christian.Meneses 18/01/2021
Estrelas que brilham e ninguém vê
?Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.?
Lembro de ter ouvido sobre Macabéa ainda no ensino médio dentre as muitas aulas de literatura e me encantar pela história da menina, que assim como tantas Macabéas, resolve ir pra cidade grande em busca de um ?futuro?. Eis que finalmente tive meu encontro com a personagem.
Clarice é poesia dos pés a cabeça e, apesar de alguns inevitáveis momentos de confusão em que surge a necessidade de reler o parágrafo, é delicioso ver o domínio da palavra que essa mulher possui.
A história é simples e, acima de tudo, real. Real, uma vez que Mecabéa representa tantas histórias de fome, de dor, de invisibilidade social e de uma vida que, apesar de infeliz, é mantida pela fé. E o nosso narrador/personagem tem ciência do fato e do seu dever: "é minha obrigação contar sobre essa moça entre milhares delas. E dever meu, nem que seja de pouca arte, o de revelar-lhe a vida. Porque há o direito ao grito.?
Em falar de narrador, este pra mim é um dos pontos altos da obra. Além de nos apresentar nossa personagem principal, ele sem dúvidas também assume um posto importe, tecendo comentários, opiniões, angústias e muitas vezes paralelos entre a sua vida e a de Macabéa, reservando também alguns parágrafos para refletir sobre a própria arte de escrita e o papel do escritor.
Enfim, é importante um autor se utilizar do seu nome espaço para dar voz (ou grito) a histórias e pessoas como essa, muitas vezes invisíveis. E daí a indicação de leitura, pois é também necessário começar a enxergar-las.