Bit 11/11/2020
"Pensar é um ato. Sentir é um fato."
Nunca experimentei sensação igual ao ler um livro. Claro que cada livro é cada livro, não se tem o mesmo repetido, cada livro guarda um universo esperado a ser lido, mas você pode sentir de maneiras diferentes o mesmo. É doido como um livro pode nos prender a tal ponto que parece feitiçaria. As palavras desse livro são pensamentos, pensamentos que ultrapassam as palavras correndo, correndo, não tem pausa, um atrás do outro, faço desses pensamentos os meus, parece que nunca leio rápido o suficiente, as palavras estão sempre a minha frente. No começo esse ritmo incessante de pensamentos me cansam, são demais para minha cabeça, mas logo mais sou capturada pelo feitiço e lá estou não consigo parar de ler. Mudo de posições algumas vezes, mas nem assim tiro os olhos das páginas, sou eu e o livro, o livro e eu. O relógio tictacteia ao meu lado, mesmo me perguntando que horas fazem não desvio o olhar. Bato com o pé na parede, não sei o que estou fazendo, só continuo sem poder parar. Sinto como se prendesse a respiração durante todo livro, mas isso seria impossível, não viveria. Os pensamentos continuam a fluir, as páginas voam, 42, 54, 60!, 68, 70, 82... Só existe eu, Macabeá e Rodrigo. Sinto a garganta seca, a barriga vazia doendo, mas talvez esteja olhando através de Macabeá, em seu viver ralo, de somente viver, respirar, fora de si, fora do mundo. É simplesmente incrível a forma que este livro foi escrito, sem floreios, sem enfeites, apenas a linguagem nua e crua como o é na realidade. Se lesse novamente esse livro, não sentiria o mesmo, porque essa magia só acontece uma vez, depois já sabemos, o feitiço se quebrou, mas podemos ampliar esse mundo ainda, com palavras e detalhes que perdemos da primeira vez, e com as palavras que podem ganhar novos significados, pelos novos olhares que vemos através do tempo, tempo este que não para de correr, como os pensamentos de Clarice, sempre buscando respostas e encontrando mais perguntas no lugar. Esse livro é um soco no estômago, como a vida o é, e também como a vida carrega a beleza e a tristeza de ser, a dor e o prazer que significa ser humano. Ele serve para nos dar um pouco da empatia que falta no mundo, empatia de enxergar no outro o sofrimento, de enxergar através dos olhos do outro, enxergar as pequenas grandezas existentes en cada um de nós, e entender que todos somos humanos, olhar para uma parte e ver o todo, entender que todos nós chegamos a este mundo dando o primeiro parco inspiro, e que todos vamos um dia deixá-lo, em um último parco sopro.