Leila de Carvalho e Gonçalves 15/07/2018
28 Poemas
Mineiro de Itabira, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) é um de nossos maiores poetas.
"Sentimento do Mundo", publicado em 1940, é seu terceiro livro e pertence a segunda fase da geração modernista com versos livres, sem rima e métrica, "favorecendo o ritmo e o desenvolvimento da obra como um todo."
Com relação à carreira do escritor, essa coletânea de 28 poemas faz parte da primeira fase cujos versos "são marcados pelo pessimismo e isolamento; individualismo e reflexão existencial." Aliás, merece lembrar que, escritos no final da década de trinta, eles sofreram forte influência da ascensão dos governos totalitários na Europa e do início da Segunda Guerra, um duro golpe para um homem politicamente de esquerda.
Aliás, o poema que abre a coletânea e intitula o livro, "Sentimentos do Mundo", foi inspirado no caos da Revolução Espanhola e Drummond transmite sua impotência como artista diante do rumo dos acontecimentos.
Outro poema que chama atenção é "Elegia 1938", o único em segunda pessoa do singular, no qual ele dialoga consigo mesmo. Esse desdobramento do eu-lírico revela até mesmo uma certa causticidade sobre a estreiteza do cotidiano e sua inércia para vencê-lo.
Na realidade, todos os poemas merecem interesse e reflexão. Particularmente, gosto muito de "Congresso Internacional do Medo", extremamente atual sob a perspectiva dos atentados terroristas realizados pelo Estado Islâmico, e "Confidência do Itabirano", cujos versos são bastante conhecidos: "Alguns anos vivi em Itabira. / Principalmente nasci em Itabira. / Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. / Noventa por cento de ferro nas calçadas. / Oitenta por cento de ferro nas almas. / E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação..."
Para finalizar, a análise crítica do livro, escrita por Murilo Marcondes de Moura, é extremamente esclarecedora e não deve ser deixada para trás.