Pedro1825 13/01/2024
São Bernardo e o retrato brasileiro.
Nascido um ano após a 1ª Constituição republicana, Graciliano Ramos foi quem melhor retratou as marcas até hoje existentes de um Brasil cuja construção social tem como alicerce o poder incomensurável do latifundiário: "Numa nação caracterizada pelo poder de grandes proprietários rurais, autoritarismo e personalismo foram sempre realidades fortes." Propõe as historiadoras Lilia Schawrcz e Heloisa Starling, em _Brasil: uma biografia. O mestre alagoano é contemporâneo de uma era conturbada, seus 60 anos são recheados de idas e vindas, avanços e retrocessos. Isso é _
São Bernardo . É o avança da literatura pautada no retrocesso do homem; do mundo que nesses 60 anos da vida ambivalente de Ramos, agenciou Guerras Mundiais, fascismo, nazismo, comunismo, industrialização e uma urbanização desenfreada. Esse céu carregado de nuvens porosas choveu torrencialmente sobre uma república verde-amarela recém formada, formando um ambiente repleto de diferenças ideológicas, políticas mas principalmente sociais. Graciliano escreve São Bernardo mergulhado numa poça que formou-se nessa atmosfera contraditória e gradualmente transformada.
São Bernardo entrega-nos não somente uma retratação fiel da corrupção política e do já citado poder e autoritarismo nas mãos de um homem dono de propriedades que podiam alcançar tamanho de cidade, como imerge na retratação moral e psicológica dessas sociedades patriarcais dependentes da boa vontade de homens que são "donos" de outros homens.
Paulo Honório, grande nome de Viçosa, dono da fazenda São Bernardo e protagonista, sente na alma as consequências de sua ganância e individualidade. Torna-se bem-sucedido, mas enxerga-se como monstro. Ele que até então soubera dominar sua vida e sobretudo a dos outros, tropeça na sua própria existência e encontra-se submisso ao seu egoísmo e orgulho ofertado pela "vida agreste". Não restando opção, Honório que tanto criticava "a matéria da escrita e literatura" admite-a como salvadora de sua deterioração moral.