Ricardo Santos
05/03/2013Literatura de entretenimento brasileira
No gênero terror, não sou muito fã de vampiros. Prefiro os zumbis (isso muito antes do sucesso de The Walking Dead), por serem metáforas mais interesses para refletir sobre temas como morte, comportamento social, religião e ciência. E também porque zumbis são 100% terror. Lobisomens, vampiros e até múmias dão margem para situações de romance teen ou de erotismo fraquinho.
Não é o caso de Os Sete, primeiro romance publicado pelo já veterano André Vianco. Devo logo dizer que, independe da qualidade dos seus livros, o autor tem todo o meu respeito pela maneira pioneira e corajosa como iniciou sua carreira.
Ele publicou este romance com dinheiro do próprio bolso, correu atrás de livreiros e vendeu relativamente bem até chamar a atenção de uma editora profissional.
Na verdade, o caminho não deveria ter sido este. Uma vez que estamos falando do final dos anos 1990 para os 2000. Época em que grandes editoras estavam há muito estabelecidas no país. Não sei dizer ao certo, mas provavelmente ele mandou os originais para as editoras e foi recusado por um monte delas. Assim como tantos clássicos da literatura universal, assim como Harry Potter.
As rejeições fazem parte do mercado editorial. Mas André Vianco merece palmas porque decidiu investir numa literatura de gênero. Ele queria ser lido por centenas de milhares, ou mesmo, por milhões de leitores brasileiros. Estes sempre ávidos por romances escritos por autores nacionais que tenham uma linguagem próxima desses leitores, e que tratem de temas, pessoas e lugares mais familiares aos brasileiros. Tudo isso, claro, dentro da tradição do storytelling dos best-sellers.
Como já havia dito o crítico literário e faz-tudo das letras José Paulo Paes, faltava ao Brasil a criação de uma literatura de entretenimento. Ele acreditava que muita gente no país queria ler estórias bem contadas no gênero policial, terror, fantasia, ficção-científica, mas só encontrava isso nos livros internacionais.
Antes, autores nacionais de sucesso como Jorge Amado sofriam críticas, grosso modo, pelas razões erradas. Salvava-se um Marcos Rey, mas que ficava restrito à seara do infanto-juvenil.
Há pouco mais de dez anos, o quadro vem mudando. Essa literatura de entretenimento é uma realidade crescente e pujante. Surgem novos autores, que se tornam estrelas de suas respectivas editoras, vendendo livros que chegam aos 500 mil, 1 milhão de exemplares. Uma conquista colossal, sem dúvida. Mas aí levanta-se outra questão relevante:a qualidade do livro em si.
E nesse ponto, infelizmente, salvo exceções, autores nacionais de entretenimento precisam se esforçar mais. Seus romances acabam contando estórias da mesma forma que os best-sellers estrangeiros, apenas adaptando-os à cor local. Cometem os mesmos vícios e clichês, tendo em desvantagem um texto menos fluente. Pode-se dizer o que quiser de um autor como Ken Follet, pode-se criticar sua visão de mundo etc., mas o homem sabe conduzir uma trama de suspense como poucos, num texto limpo e agradável de ler. O mesmo não pode ser dito de muitos autores nacionais que têm uma prosa suja, sucumbindo principalmente ao mal de todos males em qualquer texto, o maldito "eco" (rimas involuntárias).
Li este romance até quase a metade. Ele tem um storytelling maduro e pesquisa apurada, tão necessária à trama, à sua credibilidade, à sua lógica interna. Li um trecho que merece todo o reconhecimento de forma e conteúdo: o momento em que um caminhoneiro mata uma garotinha atropelada, foge para casa em terror pelo sucedido, e depois algo terrível acontece nessa casa. Foi um trecho que me deu medo. Por causa do desenvolvimento, do ritmo, da tensão. Infelizmente, foi um trecho de poucas páginas.
Parei de ler o livro porque o texto mal trabalhado atrapalhava o storytelling. Fui até onde minha paciência permitiu.
Depois fui ler alguns trechos de outros livros do autor. Não me parece que ele tenha se preocupado em trabalhar melhor o texto em nenhum deles. É uma pena.