Karen 20/09/2021minha estanteTimidez e reserva, tônicas da postura, das ideias e dos sentimentos de Fanny, são qualidades que, na vida real, incomodam, de maneira irracional, muitas pessoas, o que provavelmente explica a aversão que tantos admiradores de Jane Austen sentem pela mocinha de MANSFIELD PARK. Só para você ter uma noção do quão absurdo pode ser o raciocínio de alguns indivíduos, cito o teor de um comentário acerca da referida heroína que li, há alguns dias, em que seu autor, um fã estrangeiro de Austen, explicava que, apesar de ser inegável a retidão do caráter de Fanny, esta, em razão do fato de não ser um ser humano, mas, sim, uma personagem, deveria (sim, "deveria", em vez de "poderia") ser divertida, além de bondosa, a fim de permitir que ele a apreciasse. Em resumo, parece que o leitor em questão estava em busca de um bom palhaço, e não de uma realista mocinha, já que, para ele, rir de uma figura literária era mais importante do que valorizar seus princípios e suas ações. O fato de que a própria mãe da autora de MANSFIELD PARK considerava a srta. Price uma criatura insossa indica, contudo, que, desde 1814, quando a obra em questão foi publicada, há quem enxergue sua protagonista de modo equivocado.